Parte da minissérie "AS UNHAS DA SENHORA CARMEM" de Flávio Cavalcante

As Unhas da Senhora Carmem

Texto para televisão

(Gênero). Regional nordestino.

Autor:

Flávio Cavalcante.

ROLL DOS PERSONGENS

1. ABELARDO

2. JOSÉ CREUDO

3. FARMACÊUTICO (JÚLIO).

4. MARILUCE

5. BARBEIRO (AUGUSTO).

6. GENINHA

7. CORONEL FONSÊCA

8. LEITEIRO

9. CORONEL ARAÚJO

10. BISPO

11. PADRE

12. PREFEITO

13. VICE-PREFEITO

14. SENHORA CARMEM

15. DELEGADA

16. ALEXANDRE (FILHO DA DELEGADA).

17. ROBERTO (DONO DO HOTEL).

18. PRESO 1

19. PRESO 2

20. FIGURANTE 1

21. FIGURANTE 2

22. FIGURANTE 3

23. FIGURANTE 4

24. FIGURANTE 5

25. FIGURANTE 6

26. MANIFESTANTE 1

27. MANIFESTANTE 2

28. FIGURANTE 7

29. FIGURANTE 8

30. FIGURANTE 9

31. FIGURANTE 10

32. FIGURANTE 11

33. FIGURANTE 12

34. FIGURANTE 13

35. FIGURANTE 14

36. FIGURANTE 15

37. FIGURANTE 16

38. FIGUTANTE 17

SINOPSE

“CRIE FAMA E DEITE NA CAMA”. Este ditado popular caiu como uma luva nessa história, que é passada em uma cidadela qualquer de um interior atrasado na região nordestina. Conta a história da Senhora Carmem, uma mulher rezadeira e santificada pelo marido (CORONEL FONSÊCA), por ser uma dama fiel do São Cristóvão da Coroa Grande, padroeiro da cidade e que o povo demonstra sua fé em forma de fanatismo e muita devoção.

O fanatismo dessa gente é tão grande, que eles têm o padre também como santo e acredita o povo, que o vigário é mensageiro direto do santo em carne e osso, fazendo assim promessa para o padre e não para o santo.

A senhora Carmem, de santa, ela não tem nada. Na realidade não passa de uma mundana caliente que transa com todo tipo de gato e cachorro que aparecer na sua frente e por causa desse seu fogo na hora da transa, deixa marcada nas costas do infeliz que com ela transar as marcas de suas enormes e belas unhas.

A confusão toda começa, quando a população descobre que o santo padre também está com as costas arranhadas, causando assim revolta geral na cidade. Aí é onde o povo mostra a força de seu fanatismo pelo santo padroeiro. O padre, segundo a população cometeu um ato escabroso diante do santo que ele era considerado mensageiro direto e por causa disso a população não perdoou. Segundo eles, a sentença do padre seria a morte e pendurou numa árvore em praça pública uma corda para enforca-lo. Mas o padre depois de muito corre-corre pela solitárias ruas da cidade e driblando o povo, consegue fugir daquele trágico momento; mas, a Senhora Carmem, por ser a famosa mulher que costuma arranhar as costas dos homens da cidade, recebeu também a sua sentença de morte. Arrependida do que fez e jurando por tudo que não foi ela quem arranhou as costas do padre, a senhora Carmem em prantos, corta suas belas unhas com uma tesoura e jura para o marido traído (Coronel Fonseca), que nunca mais irá fazer aquele tipo de façanha. Dando uma transição de personalidade, o Coronel fica anestesiado com a descoberta. Jamais passaria pela sua cabeça que a mulher que ele tinha como santa, não passava de um mundana da pior qualidade que uma cidade pudesse ter. Friamente, ele deixa que o povo faça vingança com as próprias mãos. A senhora Carmem se entrega de corpo aberto ao povo, a qual é levada para a forca no lugar do padre, já que o povo não conseguiu pega-lo. A senhora Carmem morre. Seu enterro é em rede como em alguns interiores paupérrimos.

Com o passar do tempo, o padre fugido, manda um amigo trajado de bispo para ver como se encontra a cidade e saber notícias, que até então o padre não estava sabendo o que foi que aconteceu. O falso bispo procura a casa do Coronel Fonseca, o qual conta toda a história. Ele vê em uma cristaleira, as unhas da Senhora Carmem depositadas em um depósito de vidro. O coronel Fonseca diz que foi a Geninha que resolveu guardar de lembrança. O falso bispo, se trata de um vigarista, que ao ver as unhas da senhora Carmem, lança a idéia de transforma-la numa santa, causando espanto no coronel Fonseca. A idéia, é de espalhar na cidade que a senhora Carmem fez milagre. As unhas se desprenderam de suas mãos embaixo da cova e ficaram cravadas, expostas em terra em cima da cova. O Coronel Fonseca viaja também no assunto, visando ganhar muito dinheiro em cima do caso.

O prefeito da cidade, afim de sua reeleição manda imediatamente construir um monumento para ser exposto em praça pública em homenagem à santa Senhora Carmem, onde neste monumento, é depositado os restos mortais da santa. A cidade passa a ser visitada por turistas e o dinheiro começa a entrar. O povo é convencido à adorar o santo padre, por ele ser o primeiro padre à ter as costas arranhadas por uma santa.

(Flávio Cavalcante).

CENA.1

Externa. Dia. Câmera numa geral mostra a cidade movimentada. Dia de feira. Música regional de fundo. O seu Abelardo vai passando pela farmácia com uma bolsa na mão.

FARMACÊUTICO

Bom dia, seu Abelardo! Cadê o José Creudo?

ABELARDO

Eu deixei ele em casa! Eu saí logo cedo e deixei ele dormindo, por que? O senhor deseja falar com ele? Aconteceu alguma coisa, seu Júlio?

FARMACÊUTICO

É, eu gostaria de falar com ele sim... Não é nada de grave não, pode ficar tranqüilo... (Transição em tom de fofoca). Mas seu Abelardo eu não lhe conto... Ói, tá uma confusão dos diabos aqui na cidade... O senhor não tá sabendo ainda?! Ah, então espere aí, que eu vou lhe contar! O povo tá dizendo que mais um feliz apareceu com as costas arranhadas! Olhe, que a senhora Carmem tá pintando miséria nas costas de muita gente nessas bandas de cá!

ABELARDO

É, eu já tava sabendo sim... Também o coronel Fonseca só vive viajando! Eu acho que ele devia prestar mais atenção na mulé dele, viu? Devia saber o tipo de mulé que ele convive! (Transição). É, mas o corno é o último a saber, não é, seu Júlio? E a gente não tem nada haver com isso... É melhor a gente ficar calado, porque boca fechada não entra mosquito!

FARMACÊUTICO

É verdade, seu Abelardo... Agora que ela tá mais falada aqui do que filho da delegada, ah, isso tá... (Vem chegando a Delegada).

DELEGADA

(Com ironia e com raiva). O que é que tem o meu filho, seu Júlio?

FARMACÊUTICO

(Descabreado). Hen? É... Como é que vai a senhora, dona Delegada? Só pode ser milagre do santo padroeiro mesmo, não é? A senhora logo cedo na feira... Pra essas banda de cá... (Transição). Já sei... Veio fazer a feira, tou certo?

DELEGADA

Eu lhe fiz uma pergunta, seu Júlio! O que foi que o senhor estava falando do meu filho?

FARMACÊUTICO

Nada! Quer dizer... Ah, sim... me lembrei... Eu estava falando sim... Eu tava dizendo... Que eu nunca mais vi o seu filho... Como ele tá, dona Delegada? Diga pra ele que eu tou com muita saudade dele, tá?

DELEGADA

E desde quando o senhor tem essa intimidade com meu filho? (Transição com ironia). Tem gente que amanhece com a boca cheia de formigas e não sabe o porquê, não é, seu Júlio?

FARMACÊUTICO

Mas o que foi que eu falei demais, dona delegada? Eu tou inté besta de ver o seu afobamento! Eu não tou entendendo! Não venha me dizer que já lhe fizeram raiva logo cedo!? Eu não queria tá na sua pele de jeito nenhum, dona Delegada! Pra ter a profissão que a senhora tem, precisa levar muito jeito... E pelo visto a senhora leva até demais... (Transição). Também foi isso que a gente tava comentando, não foi, seu Abelardo?

ABELARDO

(Irônico). Foi... Pode acreditar que foi...

DELEGADA

(Com ironia). Seu Júlio, eu vou lhe dizer uma coisa curta e grossa... Se o senhor tiver pensando que eu estou com as oiças moca, ou então com um monte de parafuso solto na minha cabeça... Se o senhor tiver pensando que eu sou uma desmiolada, sem miolo no quengo... Pra o senhor entender melhor... Doida... Está muito enganado... Eu ouvi e muito bem quando sua pessoa falou do meu filho... Eu vou ficar no seu pé... A partir de hoje, se eu pelo menos sonhar que o senhor anda falando do meu filho por aí, eu vou tomar umas atitudes impensadas... Vou quebrar a sua cara e depois lhe jogar nas grades... (Encara o farmacêutico). Passe muito bem, seu Júlio... (Sai. Câmera enquadra seu Abelardo e no Farmacêutico).

FARMACÊUTICO

E eu falei nada demais, seu Abelardo? Que mulé mais doida, essa!

ABELARDO

(Irônico). Não, imagina se o senhor falou alguma coisa demais... (Rindo). Eu também tou indo, seu Júlio... Tenho que terminar a minha feira... Tenha um bom dia... (Sai).

FARMACÊUTICO

Até mais tarde, seu Abelardo... (Pensativo). Mas eu falei alguma mentira?! O filho dela não tem um jeitinho mesmo assim? É, mas tem mãe que é cega! (Continua os afazeres na farmácia. Corta).

CENA.2

Interna. Dia. Sala da residência da Senhora Carmem. O leiteiro está deitado bem à vontade no sofá.

CARMEM

(Com o leiteiro que está dormindo no sofá). Acorda, homem! Olha, que já tá passando da hora... Daqui a pouco o Fonseca tá chegando aí e eu não quero de hipótese nenhuma que ele fique sabendo que você dormiu aqui! (Transição empurrando o leiteiro). Vai embora, deixa de ser dorminhoco...

LEITEIRO

(Ainda sonolento). Deixa eu dormir um pouquinho mais... Hum, que sono gostoso! (Como em um delírio). Chega pra perto deu, chega! Eu quero... Eu quero abraçar a senhora de novo, dona Carmem...

CARMEM

(Derruba o leiteiro do sofá). Eu já mandei você acordar e se mandar daqui... (Acorda bruscamente e geme de dor). O que foi? Machucou?

LEITEIRO

Machucou as minhas costas... Aqui atrás tá tudo ardido! Ai... Que diacho é isso sô!? (Transição). Que horas é?

CARMEM

Já passou das oito...

LEITEIRO

(De salto). O que? Por que a senhora não me acordou mais cedo?

CARMEM

A gente foi dormir tarde demais! E aí, eu também acabei acordando mais tarde!

LEITEIRO

(Arrependido). Valei-me meu são Cristóvão da Coroa Grande! Eu não devia ter fazido isso! O Coronel Fonseca não merece uma coisa dessa...

CARMEM

Vá dizer pra ele! (Transição). Tu gostou da safadeza e ainda tá reclamando de que, homem?

LEITEIRO

Que foi bom, foi... Mas acontece que já tá tarde demais... Eu não vou mais fazer entrega hoje... Com certeza, esse monte de leite vai boiar, ninguém vai comprar essa hora... E também todo mundo da cidade vai ver eu saindo daqui! E o que é que eu vou dizer quando eles me perguntar o que eu tava fazendo aqui até essa hora?

CARMEM

Você diz que tava me ajudando nos preparativos da festa de São Cristóvão da Coroa Grande! Só tem esse jeito!

LEITEIRO

E a senhora acha que o povo é besta, dona Carmem? É claro que ninguém vai acreditar numa história dessa...

CARMEM

Então você diz que dormiu comigo, na minha cama... Sentindo o cheiro do meu perfume à noite todinha...

LEITEIRO

Oxente! A senhora tá é doida! Pirou de vez, foi mulé? Num tá vendo que eu não vou dizer uma coisa dessa? Se o coronel Fonseca pelo menos sonhar uma coisa dessa, eu vou tá mortinho, mermo antes dele botar as mãos em cima de mim...

CARMEM

Dê um jeito e saia logo daqui, que o Fonseca já era pra ter chegado! Vai logo depressa... E faça de conta que nada aconteceu...

LEITEIRO

Pode ficar despreocupada, dona Carmem! Eu não vou falar pra ninguém, que eu não tou doido! (Transição). Mas que foi bom, foi...

CARMEM

Vá embora daqui, safado! (O leiteiro vai saindo e dá de cara com o Coronel Fonseca que vem chegando de viajem).

LEITEIRO

(Entra em cena depressa). Dona Carmem, oi, que ele tá aí! Home, pelo amor de Deus e de São Cristóvão, o que eu vou fazer agora? Eu tou perdidinho... Eu não digo, que a desgraça só cai na cabeça do mais pobre?! Ele vai me matar... Dona Carmem, ele vai me matar...

CARMEM

Ninguém vai matar ninguém... Saia pela cozinha depressa...

LEITEIRO

Não vai dar tempo! Ele já tá chegando...

CARMEM

Se abaixe aqui, que eu falo com ele!(Vai até a janela. O leiteiro se baixa. A senhora Carmem impede que o Coronel Fonseca entre em casa). Pode parar aí mesmo, Fonseca! (Câmera em Fonseca com cara de atordoado).

FONSECA

(Do lado de fora). Mas por que, minha santinha? Você é cheia de surpresa! Você sempre gostou dessas coisas... E eu não ligo, porque eu adoro este tipo de brincadeira!

CARMEM

Não é bem isso não... Eu posso dizer... É quase isso!

FONSECA

Eu sei que você tava com saudades, mas eu entro e lhe garanto que não vou olhar a surpresa!

CARMEM

Eu quero que você vá na casa de seu Abelardo e diga pra ele que a Gêninha mandou convida-lo para o casamento dela!

FONSECA

(Surpreso). A Gêninha vai casar? Desde quando ela está noiva?

CARMEM

Hem? É... Ela vai casar de repente...

FONSECA

(Com raiva). Bicha sem vergonha! Se ela fez alguma besteira, eu vou dar uma surra nela, que dez ladrões não agüenta levar...

CARMEM

Deixa de ser abestado, Fonseca! A Gêninha não fez nenhuma besteira... Ela vai casar no cartório com papel, escritura e certidão de óbito se for preciso!

FONSECA

Certidão de óbito? Mas certidão de óbito só tira quando a gente morre, não é, minha Carmem?

CARMEM

E eu sei lá! Eu nunca tirei! Eu acho que já tou falando besteira... Mas vá depressa... Essa surpresa ela quis fazer pra você também, mas como eu não sei segurar a língua nos dentes!

FONSECA

Essa juventude de hoje parece que não pensa! Quem já se viu?! Eu viajo e quando volto, a minha filha já tá quase casada, mas é assim mesmo, o que é que se pode fazer, não é, minha santinha? A surpresa era essa? (Transição). Mas isso a gente pode fazer mais tarde! Eu preciso tomar um banho... (Abre o portão e vai entrando. Enquanto isso o leiteiro fica escondido rezando com medo).

CARMEM

(Impedindo). Não entre agora, Fonseca!

FONSECA

(Pára). Eu não estou entendendo mais é nada! A Surpresa você já falou e agora não quer que eu entre!? Espere aí, santinha... Eu tou cansado...

CARMEM

Sabe o que é Fonseca? É que a Geninha pediu pra dar esse recado, desde ontem e eu não é que eu esqueci? Ela dormiu na casa do prefeito, que ela foi fazer um trabalho pra escola com a filha dele! Daqui à pouco ela chega a você sabe a sua filha como é!

FONSECA

Minha santa... Por você, eu faço qualquer coisa! Se esse é o seu desejo, eu vou lá agora mesmo... Mas antes eu vou passar na barbearia pra fazer a barba! Não tive tempo ainda de fazer esta barba... Volto já, já... (Sai. Câmera numa geral mostra a sala completa da Carmem. Transição com o Leiteiro).

CARMEM

Se manda daqui, antes que volte!

LEITEIRO

(Assustado). Me deu uma quentura nas tripa! Pensei que hoje ia ser o último dia da minha vida! Eu vou embora daqui, antes que eu faça um serviçinho nas calças...

CARMEM

Saia pela porta da cozinha! (O leiteiro sai correndo e a Gêninha vem da rua).

GÊNINHA

(Desconfiada). Eu vi um vulto saindo correndo daqui de dentro de casa! Tinha alguém aqui em casa, mamãe?

CARMEM

Não... quer dizer... (Transição). Tinha um vulto sim! Sua sombra! Você se assustou com a sua própria sombra!

GENINHA

Vai ver que foi isso mesmo!

CARMEM

Você tá preocupada com alguma coisa, minha filha?

GENINHA

Não é bem preocupada não... Eu estou desorientada da vida, desde o dia em que eu terminei o meu namoro com o José Creudo!

CARMEM

Você gosta dele, não é, Geninha?

GENINHA

Eu adoro aquele homem! Eu sou arreada os quatro pneus por ele! Pra senhora ver, só em ver ele perto de mim, eu já fico logo toda arrepiada!

CARMEM

Não fale assim não, que eu também já tou ficando! (A Geninha olha para Carmem sem entender. Transição). Sim, mas... é... por que vocês não voltam?

GENINHA

Não vai dar certo. Dessa vez a gente terminou pra sempre. (Transição). Papai não chegou ainda?

CARMEM

Ele foi na barbearia... (Transição). Geninha... Sente aqui, que eu tenho uma coisa pra lhe falar... (As duas sentam num sofá). Eu falei uma mentira pro seu pai e se ele perguntar, você diz que foi verdade!

GENINHA

Eu não gosto disso e a senhora sabe muito bem. Que mentira a senhora falou pra ele, mamãe?

CARMEM

Foi uma mentirinha que não vai prejudicar a ninguém...

GENINHA

(Preocupada). Mamãe, eu quero saber que mentira a senhora falou!

CARMEM

Tá bom! Não precisa se zangar comigo! Eu mandei seu pai ir na casa de seu Abelardo e dizer que você mandou convida-lo para o seu casamento com o filho da delegada!

GENINHA

(De salto). O Alexandre? (Dá uma gargalhada). A senhora tá louca... Não, dessa vez, a senhora pirou mesmo... Mas por que fez isso? Qual foi a sua intenção?

CAMEM

Eu não posso falar agora não, Geninha...

GENINHA

Lá vem a senhora com os seus segredos... (Outra gargalhada).

CARMEM

Por que você está rindo? Eu não falei nada de engraçado! Eu pensei até que você fosse ficar com raiva... (Transição). Eu tou vendo, que é como diz o seu pai mesmo. Ninguém entende essa juventude de hoje em dia!

GENINHA

Ficar com raiva? Por que? A senhora até que me ajudou... (Outra gargalhada).

CARMEM

(Surpresa). Eu ajudei? Eu não estou entendendo, Geninha...

GENINHA

Já pensou, eu casada com o Alexandre? No mínimo o povo ia dizer que eu calço quarenta! (Transição). Coitadinho do Alexandre... Se pelo menos ele gostasse da fruta...

CARMEM

(Repreende). O que é isso, menina? Não diga mais isso! Parede tem ouvido... Se a delegada souber de uma coisa dessa, ela se vira numa serpente...

GENINHA

E quem na cidade não sabe disso? Até a senhora não escapou da boca do povo!

CARMEM

(Surpresa). Eu? E o que foi eu fiz pra tá também na boca do povo, Geninha?

GENINHA

A senhora acho que não fez nada, mas as suas unhas... Estão faladas até demais...

CARMEM

(Querendo se sair. Olha para as unhas). Mas eu limpo as minhas unhas todos os dias! Não vejo motivo pra esse povo tá conversando o que não deve!

GENINHA

(Com desdém). Tá bom, mamãe... Eu vou tomar um banho pra tomar um bom café esperto! Depois a gente conversa mais à respeito de suas... unhas... (Sai de cena. Câmera em Carmem pensativa).

CARMEM

(Em OFF. pensativa). Quem será que anda espalhando por aí? Será que foi o leiteiro? Não, eu acho que não... Será que foi o coronel Araújo? Não, não pode ser ele! Ele é casado e sabe a mulher que tem! (Transição). Eu vou é deixar isso pra lá! O importante é que o Fonseca não sabe de nada... (A Cena escurece gradativamente. Corta).

CENA.3

Interna. Dia. Sala da residência de Mariluce e o Coronel Araújo. Mariluce percebe que o coronel Araújo está com as costas arranhadas.

ARAÚJO

Bom dia, querida...

MARILUCE

(Com raiva). Bom dia nada, Araújo! Eu estava mesmo esperando você acordar... Agora vamos acertar umas contas...

ARAÚJO

Mas que conta, meu bem?

MARILUCE

(Pegas os lençóis e mostra para o Araújo). Que manchas de sangue são estas?

ARAÚJO

(Desconfiado). Manchas de sangue? Pelo amor de Deus, eu não sei do que você está falando!

MARILUCE

Pois eu sei... Você saiu com aquela cachorra... Você é um cachorro igual a ela, Araújo... Cachorro vira-lata... Você não presta... Você vai me pagar...

ARAÚJO

Meu bem... Vamos com calma, que a gente resolve o problema com calma... Você tá nervosa...

MARILUCE

Vou acalmar quebrando o teu focinho... Saia da minha casa Araújo... Vá dormir com aquela vadia... (A confusão aumenta cada vez mais. A sonoplastia libera uma música regional nordestina, cobrindo a confusão. Corta).

CENA.4

Interna. Dia. Interior da barbearia. Fonseca chega para fazer a barba.

FONSECA

Bom dia, seu Augusto!

BARBEIRO

Bom dia, coronel Fonseca! Veio cortar o cabelo?

FONSECA

Vim dar uma ajeitadinha na barba! Cheguei de viajem agora mesmo e não tive tempo ainda... (Transição). Mas como é que tá as coisas por aqui?

BARBEIRO

Aqui tá tudo bem... E o senhor, como é que vai nos negócios?

FONSECA

Agora aumentou mais ainda o número de viajem! Até que é bom! Significa mais dinheiro pro bolso... Mas o que eu tenho pena mesmo, é de minha santinha! Ela fica sozinha, acho que morrendo de saudade de mim! Eu pensei até de leva-la comigo. Mas quem vai puxar a reza na novena de São Cristóvão da Coroa Grande?

BARBEIRO

Se eu fosse o senhor, eu levava assim mesmo!

FONSECA

(Sem entender). Por que?

BARBEIRO

Nada não, deixe pra lá... (Ouve-se um quebra-quebra no lado de fora e o barulho de uma briga de um casal).

FONSECA

Que barulho é este?

BARBEIRO

Não sei não! (Vão à porta pra ver a confusão. A briga é do Coronel Araújo com a sua mulher Mariluce. Corta).

CENA.5

Externa. Dia. O povo se amontoa na porta da casa do Coronel Araújo para ver a confusão de perto. Câmera numa geral, mostra essa agitação e passa imediatamente para o interior da casa.

MARILUCE

(Com raiva). Tome pra você aprender, seu cachorro... Você não passa de um vira-lata, Araújo... Você não presta mesmo! Não vale o que o gato enterra... E não fale uma só palavra, se quiser ficar com os dentes inteiros! Você é besta levantar a voz pra mim? Me respeite, que eu sou sua mulher, não sou sua quenga não...

ARAÚJO

Eu já disse pra você ficar calma, que a história não é bem essa não... Você ouviu a música tocar e não tá sabendo aonde...

MARILUCE

(Com raiva). Como a história não é esta, Araújo? Essas costas marcadas de unha, o que você me diz? Não venha me dizer que você passou em baixo de uma cerca de arame farpado!? Tá na cara que você saiu com aquela quenga! (O Coronel Fonseca vem se aproximando, juntamente com o Barbeiro. Câmera passa imediatamente para o lado de fora).

FONSECA

Quem ela está se referindo? Ela falou em costas arranhadas... Eu já ouvi dizer que tem uma mulher aqui na cidade que arranha as costas dos homens... Que coisa mais feia! Pra fazer uma coisa dessa, tem que ser uma cadela vadia, não é, seu Augusto?

BARBEIRO

(Com desdém). Isso é briguinha de marido e mulé, coronel Fonseca! Não adianta a gente meter o bico; depois tá tudo bem de novo! A gente é quem fica por ruim... Vamos voltar pra barbearia e fazer sua barba, que já tá precisando mesmo... (Acorde de barulho de vidro se quebrando).

FONSECA

Vamos sim... Mas a coisa tá é feia... E cadê a delegada? (Mariluce joga um televisor pela janela). Meu São Cristóvão da coroa Grande! Que coisa mais séria! (Câmera mostra chegando mais gente).

MARILUCE

(Olhando pela Janela. Transição com o povo). E vocês não têm o que fazer não, é? Por acaso tá todo mundo cego, que não tá vendo, que eu tou brigando com o meu marido? Isso aqui é briga de Marido e mulé e ninguém tem nada a ver com isso... Vão pra casa de vocês, vão... Chô... Chô... (Câmera passa imediatamente para dentro de casa). Você vai ficar aí trancado, dentro da privada até morrer sufocado com o fedor... Só assim você aprende a respeitar uma mulher, cachorro... Desgraçado, você tá pensando o que? Eu sou uma mulher casada e muito bem casada! Eu não vou admitir que uma quenga, venha arranhar as costas do meu marido... (Transição). Com ele eu já me acertei! Falta eu acertar com ela! Aquela cadela me paga... (Gritando em tom alto). Pode me aguardar, Senhora... (O barbeiro se engasga em tom alto para o coronel Fonseca não ouvir a Mariluce falando o nome “Carmem”).

FONSECA

O que foi que houve, seu Augusto?

BARBEIRO

Me engasguei com saliva... Passa já... Passa já... Já passou...

FONSECA

Vamos pra barbearia tomar um copo d’água... (Câmera acompanha o Coronel Fonseca, indo em direção à barbearia. Corta).

CENA.6

Interna. Dia. Salão da igreja. Final da missa. O povo venera o padre como se ele fosse o santo.

PADRE

Vão em paz... e que o senhor Deus vos acompanhe... (Alguém que está no meio dos fiéis).

FIGURANTE 1

Viva o nosso santinho Padre...

TODOS

Viva... (Todos vão beijar a mão do padre).

FIGURANTE 1

Mensageiro do nosso santo padroeiro... Que privilégio, padre! O que já tem de promessa para o senhor!

PADRE

Quem sou eu, minha gente! Quem sou eu... (Câmera em geral mostra o povo beijando fanaticamente a mão do padre. Corta).

CENA.7

Interna. Dia. Interior da barbearia. O coronel Fonseca dá um pouco d’água para o seu Augusto.

FONSECA

O que houve, seu Augusto? Tá se engasgando com saliva?

BARBEIRO

Eu tou bem agora, Coronel... Muito obrigado...

FONSECA

Não é bom confiar não! Tome um copo de água, que vai ficar muito melhor... (Pega água pra seu Augusto).

BARBEIRO

Não tou dizendo que eu tou bem, coronel Fonseca? Eu até lhe agradeço a sua preocupação, numa sabe? Mas pode ficar tranqüilo, que tá tudo bem agora... (Transição). Sente aqui na cadeira pra eu tirar logo a sua barba... (O Coronel Fonseca senta na cadeira e o Barbeiro começa à fazer a barba. Corta).

CENA.8

Externa. Dia. Frente a igreja. O padre vem saindo com uma lata de tinta para pintar a porta da igreja).

PADRE

(Cantando uma música evangélica). Que festa bonita vai ser este ano! Eu não abro mão da decoração da minha paróquia! Muito bom ver todo mundo com essa animação... Só falta dar uma geral na aparência da igreja! Eu mesmo vou cuidar pra festa de São Cristóvão da Coroa Grande fazer inveja a muita gente de outra cidade... (A delegada vai passando).

DELEGADA

Sua benção, padre... (Beija a mão do padre). Tá dando pra falar sozinho?

PADRE

Não, dona delegada! (Transição). Deus te abençoe! Eu estou muito feliz! Tudo indica que este ano, a festa de são Cristóvão da Coroa Grande vai ser o máximo! Até o prefeito deu uma ajuda daquelas... Alguma coisa milagrosa está acontecendo por aqui...

DELEGADA

(Admirada). Não, eu não posso acreditar nisso! O prefeito deu ajuda pra festa? Me belisca porque se não, eu não acredito... (O Padre belisca. Transição). Aí, padre! Desse jeito o senhor vai acabar arrancando o meu coro...

PADRE

Desculpa... Mas até eu ainda estou anestesiado com a atitude do prefeito! Se fosse época de eleição até que justificava... Mas seja lá qual for a dele... O importante é que ele deu a contribuição... Fez a sua Parte... São Cristóvão agradece...

DELEGADA

E o senhor também, não é Padre? Eu sei porque ele deu essa ajuda! Ninguém dá nada de graça à ninguém não, padre! Lembre-se que a sua igreja é um meio muito bom dele puxar voto... O que o senhor mandar o povo fazer, o povo faz... Pra o prefeito isso é tudo...

PADRE

Não devemos olhar pelo olho da maldade, dona Delegada! Eu conheço o prefeito de perto! Ele também é devoto do santo e quis dar a sua colaboração...

DELEGADA

(Com ironia). Eu não estou entendendo o senhor, Padre... Esta semana mesmo, o senhor só não chamou o prefeito de bonito, achando que ele não ia dar a contribuição da festa... E agora tá nessa defesa toda... Eu tou achando que o senhor recebeu muito mais do que esperava, não foi, seu vigário?

PADRE

(Repreendendo). Mantenha o respeito, dona Delegada! Respeite o pároco e a paróquia... O que o nobre prefeito deu, foi estritamente para os afazeres em proll da festa do padroeiro! (Transição). Mas vamos mudar de assunto... A senhora viu a confusão na casa do coronel Araújo?

DELEGADA

(Surpresa). Confusão? Não brinca com coisa séria, padre! Essa eu perdi! O que foi que houve?

PADRE

Então a senhora é a única pessoa que não sabe... (Irônico). Coisa que deveria ser a primeira, não é, dona Delegada? Eu não sei ao certo qual foi o motivo, mas, a dona Mariluce tava uma arara... Coitados dos vizinhos que moram ali perto! Devem estar com os ouvidos em ponto de estourar... (Transição). Até a televisão passou voando pela janela...

DELEGADA

Na certa o coronel Araújo andou aprontando alguma... Se foi isso, eu acho bem feito! Estes homens não prestam!

PADRE

Nem todos, dona Delegada... Pra toda regra sempre tem uma exceção! Nem todos...

DELEGADA

Desculpa, seu padre! Eu não estou me referindo ao senhor! (Transição). E o senhor tá fazendo o que com esta lata de tinta?

PADRE

Eu vou pintar a porta da igreja! Por que?

DELEGADA

Nada não... Perguntei só por perguntar! (Transição). Então o senhor fique aí pintando, que eu vou passar na delegacia... Eu preciso arrumar algumas coisa e vê o que foi que aconteceu na casa de do coronel Araújo... Até mais ver... (Sai).

PADRE

Tá certo, dona Delegada... (Transição com ironia). Tem muita coisa pra ser arrumada mesmo!(Transição). Tá fazendo um calor daqueles hoje! Essa batina tá muito quente! Eu vou vestir uma roupa mais confortável... (Sai. Câmera mostra o padre entrando na igreja. Corta).

CENA.9

Interna. Dia. Interior da Igreja. Sacristia. Música regional de fundo. O padre tira a batina, estende-a sobre uma cadeira e depois veste uma bermuda e vai para a rua pintar a porta da igreja. Sai. Corta.

CENA.10

Externa. Dia. Frente à igreja. O padre levanta uma escada e sobe. Pega o pincel e começa à pintar a porta da igreja. Repentinamente, vem se aproximando uma comitiva de políticos, juntamente com o prefeito e o Vice).

PREFEITO

Tá arrumando a igreja, Padre?

PADRE

Estou começando à pintar a porta da igreja! Este ano a festa vai ficar na história! Está muito bem comentada, graças à Deus primeiramente e graças ao senhor que vem colaborando demais para o acontecimento do evento... O santo padroeiro lhe agradece, seu prefeito...

VICE-PREFEITO

Tomara que a festa fique na história mesmo... Eu estou precisando me eleger... (O povo começa à cochichar, apontando para as costas do padre).

PREFEITO

(Fala com o vice em tom de cochicho). O que é que este povo está cochichando?

FIGURANTE 1

Veja as costas do padre, prefeito!

PADRE

(A padre desce da escada). Pronto! Agora eu posso dar toda atenção possível! Como é que vai a sua futura campanha, prefeito? (Todos ficam em silêncio encarando o padre. O padre olha ao seu redor e está uma verdadeira multidão lhe observando). Por que você estão me olhando dessa forma? Parece que estão me condenando... Eu perguntei como vai a sua campanha, prefeito...

PREFEITO

A minha campanha vai ótima... Agora... Como vão as suas costas, seu vigário?

PADRE

(De salto e nervoso). As minhas costas? As minhas costas... Ah, sim... As minhas costas estão ótimas... O que vocês estão querendo insinuar?

PREFEITO

(Irônico). Eu não estou querendo insinuar nada! Tá aqui, pra todo mundo ver...

VICE-PREFEITO

Onde foi que o senhor arranhou as suas costas, seu padre?

PADRE

(Tenso). As minhas costas estão arranhadas? Mas eu não estou sentindo nada! Vocês têm certeza disso?

PREFEITO

Eu não posso acreditar que o senhor teve coragem... (Começa o barulho de tumulto).

PADRE

(Com a voz meio trêmula). Eu não sei do que vocês estão falando!

VICE-PREFEITO

E logo com quem? Com a senhora Carmem?! Meu São Cristóvão da Coroa Grande... Eu não posso acreditar no que eu estou vendo com meus próprios olhos!

PREFEITO

O povo lhe considera um santo, padre! O senhor devia ter vergonha na sua cara... (O barulho aumenta). Por acaso, já passou pela sua cabeça o que isso pode representar perante o povo da cidade, que lhe tem como um santo e braço direito, mensageiro e enviado do padroeiro da cidade? Eu vou lhe dizer com toda certeza, padre! Não estou fazendo demagogia... O senhor acabou de revolucionar a cidade e o único prejudicado, vai ser o senhor mesmo...

PADRE

(Descabreado). Não vamos exagerar... Eu tenho como explicar...

FIGURANTE 2

(Em tom de revolta). Não tem explicação não, padreco... As suas costas mostra toda a prova do crime... Não tem perdão... Traidor da imagem do nosso santo padroeiro! A sua sentença será a morte... (Com o povo). Meu povo... Ele transou com a senhor Carmem... O castigo dele é a morte... Ele merece morrer... E a senhora Carmem também...

FIGURANTE 3

Tem que ser assim mesmo... A morte... Vamos espalhar na cidade essa cachorrada que ele fez com o nosso padroeiro... (Começa a confusão e mais gente vem se aproximando. Câmera numa geral mostra muito corre-corre na cidade. O padre se desespera e sai correndo feito um louco e o povo corre atrás. Câmera acompanha essa agitação. Música de fundo aumenta. Corta).

CENA.11

Interna. Dia. Interior da casa de seu Abelardo. Abelardo chega da feira e nota José Creudo muito Animado e manda ele ter cuidado com a Carmem.

JOSÉ CREUDO

(EM OFF. Falando consigo mesmo). Ah, José Creudo... Já pude crer que você é o homem mais feliz do mundo! Eu não sei porquê eu tou sentindo que o dia hoje vai ser bom demais...

ABELARDO

(Entra em cena com uma bolsa na mão, mas o José Creudo não o vê).

JOSÉ CREUDO

(Quase cantando em frente ao espelho). Eu sou feliz! Eu tou feliz... (Falado). A felicidade não é pra qualquer um... (Rir para o espelho).

ABELARDO

(Fecha a porta bruscamente para chamar a atenção do José Creudo). Eu tou notando que você tá muito alegrezinho! Tenha cuidado na sua vida, que ela é uma mulé casada e o marido dela pode ser manso, mas ninguém conhece o outro lado de um homem traído! Um dia que ele descobrir que é corno, o bicho pode se transformar...

JOSÉ CREUDO

Mas do que o senhor tá falando, meu pai?

ABELARDO

Você sabe do que eu tou falando... Eu só tou lhe aconselhando! Eu não quero problemas pro lado de cá, está ouvindo, José Creudo?

JOSÉ CREUDO

Pode ficar despreocupado! Eu não sou nenhuma criança, velho! Eu não vou arrumar confusão pro senhor, pode ficar tranqüilo... Mas que ela é uma mulé da gota serena, isso é! Só em pensar, eu já fico...

ABELARDO

(Repreendendo). José Creudo, mantenha o respeito! Deixe de ser safado... Não foi assim que eu lhe criei!

JOSÉ CREUDO

Desculpe, pai... Foi sem querer...

ABELARDO

Onde é que nós vamos parar!? Eu já tou acreditando que o tempo tá muito modificado! Na minha época, se eu chegasse com uma conversa dessa perto de meu pai, eu já tava sem os dentes com certeza!

JOSÉ CREUDO

Mas isso foi na sua época, papai... O tempo avançou...

ABELARDO

... É, eu seio! E você tá muito avançadinho pro meu gosto! Se afaste daquela mulé, que é melhor que você faz... Se conselho fosse bom se vendia...

JOSÉ CREUDO

Até que eu tento me afastar dela, sabe, papai? Mas a mulé é cão... Só vive dando em cima de mim...

ABELARDO

Ôh, mulherzinha casada boa de Ter vergonha...

JOSÉ CREUDO

O Coronel Fonseca é muito besta! Quem já se viu, tratar uma quenga daquela como santa?! Todo mundo sabe o que ela pinta por aí! Até o caso dela com o coronel Araújo não escapou da boca do povo! Ela escondeu... se escondeu, mas não teve jeito... (Transição). Pai Abelardo, eu vou lhe dizer uma coisa... Essa mulé é a maior quenga da cidade e o pior é que se faz de santa perto do marido, viu? Ontem mermo a dona Mariluce veio me fazer uma pergunta, que eu não gostei do tom que ela falou comigo! Eu só não enchi a cara dela de bolacha, por consideração ao Coronel Araújo...

ABELARDO

(Repreendendo). O que é isso, José Creudo?! Tá metido à cavalo do cão, é? Eu nunca ouvi dizer que homem brabo fosse herói no final... Sempre termina com sete palmos de terra nas venta! E que pergunta ela andou te perguntando?

JOSÉ CREUDO

Nada não, vamos deixar isso pra lá! Já passou mesmo!

ABELARDO

Sente aqui nessa cadeira... (Puxa José Creudo bruscamente). Você vai me falar o que tá acontecendo agora mesmo!

JOSÉ CREUDO

(Querendo se sair). Ôh home... Se acalme, pelo amor de são Cristóvão da Coroa Grande! Eu vou lhe contar tudinho, mas fique calmo! O que aconteceu, foi que o coronel Araújo chegou em casa sem vontade de fazer amor com a dona Mariluce e ela ficou com uma pulga atrás da orelha...

ABELARDO

(Indignado). Vem cá, José Creudo! E ela anda contando as intimidades dela pra você, é? Mas uma vez eu acho que ela devia Ter vergonha disso e se colocar no lugar de uma mulé casada! O que acontece em quatro paredes, só diz respeito ao casal... Pelo menos foi o que eu aprendi... Agora, como os tempo estão modificados...

JOSÉ CREUDO

Eu não acho que ela falou alguma coisa demais...

ABELARDO

Eu não seio mais de nada! Essa tá de evolução dos tempos, só veio pra atrasar as coisas ainda mais!

JOSÉ CREUDO

Pai Abelardo...Oi, abra bem as oiças pra o que eu vou lhe falar! Vamos deixar esse assunto pra lá, pra num piorar a situação... A mulé já tá uma Arara com o Coronel Araújo!

ABELARDO

(Desconfiado). E você tá metido nessa confusão, José Creudo?

JOSÉ CREUDO

(Com medo). Tou não, home... Se acalme! Pelo Amor de Deus!

ABELARDO

Mas eu tou calmo até demais! Eu acho que quem está nervoso é você, José Creudo! Já que você não tem nada haver com essa confusão, por que ela veio lhe fazendo esta pergunta? (Transição). Sem mentira, hen, José Creudo?

JOSÉ CREUDO

(Ameno). Foi o coronel Araújo que chegou ontem à noite, todo arranhado de unha nas costas! Parecia que ele tinha passado debaixo de uma cerca com arame farpado... Só vendo pra crer...

ABELARDO

(Irônico). E como você sabe disso?

JOSÉ CREUDO

Hen?... É... (Transição). Eu seio porquê a dona Mariluce me falou!

ABELARDO

E eu não sei o porquê, mas alguma coisa está me dizendo que você está mentindo!

JOSÉ CREUDO

(Embaraçado). O que é isso, meu pai? Eu nunca menti pro senhor!

ABELARDO

Mas pra tudo tem a primeira vez! Eu não sou menino, José Creudo! Pra qualquer assunto, eu sou macaco velho... E eu acho melhor você ir logo contando a verdade que é melhor que você faz... (Transição desconfiado). José Creudo... Tire sua camisa aí, que eu tirar uma dúvida...

JOSÉ CREUDO

(Sem querer tirar)... Mas por que, meu pai?

ABELARDO

Não faça interrogações... Faça o que eu estou mandando fazer... Agora! Eu quero ter uma certeza de uma coisa...

JOSÉ CREUDO

... Mas certeza de que?

ABELARDO

(Furioso). Eu já mandei você tirar a camisa!!!

JOSÉ CREUDO

Tá bom, tá bom... (Tira a camisa. As costas do José Creudo estão todas arranhadas de unhas).

ABELARDO

Valei-me meu são Cristóvão da Coroa Grande! Bem que desconfiava!(Transição com ironia). Você também passou numa cerca de arame farpado?

JOSÉ CREUDO

Deixe eu lhe explicar...

ABELARDO

Não precisa explicação nenhuma! A prova tá aí nas suas costas...

JOSÉ CREUDO

É como eu já disse, meu pai! Essa mulé tira o juízo de qualquer homem! O coronel Araújo foi o primeiro e eu fui logo depois! Ontem à noite, quando eu cheguei em casa, fui diretinho tomar banho! Oi, eu dancei um samba quando caí no chuveiro! A água quando bateu nas minhas costas, oi, que eu rebolava mais do que pandeiro em chegança!

ABELARDO

Eu ouvi você gemendo, que só filhote de cão novo! Essa mulé ainda vai cair do cavalo... Que Deus é grande! A justiça dele tarda mais não falha...

JOSÉ CREUDO

O coronel Fonseca não sabe de nada... É um coitado! Só falta bota-la num altar!

ABELARDO

Por enquanto José Creudo... Por enquanto...

JOSÉ CREUDO

(Desconfiado). Pai Abelardo... O senhor não vai falar nada... Ou vai?

ABELARDO

Eu sou lá homem de tá dando com a língua nos dentes, José Creudo? Mas quando isso estourar, oi vai dar uma confusão da peste... E eu não quero filho meu, metido nessa confusão! Eu sempre tentei criar você como eu fui criado... Como gente! (Transição). É bem verdade que mulé foi o diabo que inventou, mas a gente tem que controlar os instintos... E tem outra coisa mais... Você cometeu o maior pecado diante de são Cristóvão da Coroa Grande! Você transou com a sua ex. futura sogra! Essa eu tenho certeza que ele não vai lhe perdoar! Eu acho melhor você procurar o padre e se confessar, já que ele é o santo em carne e osso...

JOSÉ CREUDO

O senhor é muito sabedouro, meu pai! Eu tou arrependido do que eu fiz e vou procurar o padre, sim... Mas o que aconteceu, foi que o coronel Araújo não deu conta do recado sozinho! Aí, eu fui dar só uma mãozinha pra ele...

ABELARDO

Pra ficar nesse estado que você ficou?! Já pensou se as unhas dela tiver envenenada?

JOSÉ CREUDO

(Se benze). Cruz credo!

ABELARDO

Eu não estou tentando lhe assustar! Eu tou falando a verdade, sim senhor! A minha vó já dizia, que uma unha envenenada é pior do que uma picada de dez cascavel juntas...

JOSÉ CREUDO

O senhor tá me deixando assustado!

ABELARDO

Só tou te alertando! (Chega o leiteiro na porta).

LEITEIRO

(Ainda do lado de fora). Oi o leite, fresco! Quem vai querer leite? Tá fresquinho, fresquinho... (Transição). Oh de casa, seu Abelardo! Vai querer leite hoje? Chegou agora mermo da vacaria... Desculpa eu tá passando essa hora, mas é que eu tava ocupado e não pude trazer mais cedo...

ABELARDO

Entre pra dentro e traga três litros...

LEITEIRO

Só?

ABELARDO

Só!!

LEITEIRO

O senhor tá com raiva deu, porque eu não passei aqui ontem! Mas também eu não pude vim não! Ontem foi o primeiro dia da novena de são Cristóvão da Coroa Grande! Eu tive que ajudar a dona Carmem nos preparativos...

ABELARDO

... Mas uma cobaia...

LEITEIRO

(Sem entender). O que foi que o senhor falou, seu Abelardo?

ABELARDO

Nada não... Eu tou conversando com os meus botões! (Transição). Sim, mas, você entrega leite só pela manhã e levou o dia todinho pra arrumar um altarzinho de nada?

LEITEIRO

E também a noite todinha! Eu tive até que dormir lá!

ABELARDO

(Com ironia). Ah, então você dormiu na casa da senhora Carmem?

LEITEIRO

Não teve outro jeito! A Geninha não tava em casa... O coronel Fonseca tinha viajado... A senhora Carmem ficou com medo de dormir sozinha... E aí eu tive que ficar lá com ela... Mas só fazendo companhia!

JOSÉ CREUDO

Êta, peste! Com aquela mulé, pai Abelardo... A gente fica a vida inteirinha e não se cansa... É fogo...

ABELARDO

(Com o leiteiro). Você dormiu com ela?

LEITEIRO

Com ela não! Eu dormi no sofá!

ABELARDO

Tire a camisa!

LEITEIRO

(De salto). Pra quê?

ABELARDO

Eu só acredito que você dormiu no sofá, se eu ver as suas costas... Tire a camisa...

LEITEIRO

(Assustado). Home, confie neu assim mesmo...

ABELARDO

Então você tá com a mesma marca de José Creudo...

LEITEIRO

(Desconfiado). Oxente! Que coisa de marca é essa!? Isso é uma história preta, seu Abelardo! Eu não tou com marca nenhuma não, confie neu... Tenha fé no santo...

ABELARDO

Eu já pedi pra você tirar a camisa!

LEITEIRO

(Querendo se sair). Que diacho de marca é essa, seu Abelardo?!

ABELARDO

Unha, meu filho... Unha...

LEITEIRO

(Passando as mãos nas costas). Êita peste! Tá dando pra vê, é?

JOSÉ CREUDO

(Rindo). Você acabou de entregar o ouro ao bandido!

LEITEIRO

(Vê as marcas de unhas nas costas de José Creudo e fica admirado). O que aconteceu com as suas costas?

ABELARDO

O mesmo que aconteceu com as suas...

LEITEIRO

(com medo). Seu Abelardo, for favor eu lhe peço... (Fica de joelhos). Pelo amor de são Cristóvão da Coroa Grande... Não fale nada! Se alguém descobrir isso, eu nunca mais vou conseguir vender um litro de leite sequer! (Tira a camisa).

ABELARDO

(Escandalizado). Meu são Cristóvão da Coroa Grande! Que coisa horrível ficou suas costas! Se levante! Eu não vou falar pra ninguém...

JOSÉ CREUDO

Coitado do coronel Fonseca...

LEITEIRO

Mas ela sabe disfarçar bem... Na hora da rezaria, todo mundo vê nela uma santa! Inté o coronel Fonseca fica emocionado quando vê ela rezando! Ela não devia fazer uma coisa dessa... Ele realmente não merece! Eu acho que ela faz isso pra comer dinheiro dele! Coitado do coronel Fonseca... Ele não sabe que detrás daquela santa, existe uma quenga que não vale nada...

ABELARDO

Realmente o coronel Fonseca não merece um castigo desse! Ele precisa saber com quem tá vivendo!

LEITEIRO

O senhor prometeu que não ia falar nada!

ABELARDO

E eu cumpro com as coisas que eu falo! Eu só não vou ter uma conversa de pé de orelha com o coronel Fonseca, porque o José Creudo também tá metido nessa cachorrada! Mas que essa mulé tá merecendo uma desacerto, pra saber respeitar um homem de bem, ah, isso tá...

JOSÉ CREUDO

Mas pai Abelardo... A mulé quando nasce pra ser quenga, nem são Cristóvão da Coroa Grande dá jeito!

ABELARDO

Isso é uma verdade!

LEITEIRO

Ói, seu Abelardo! Ainda agora eu fui entregar leite na casa do coroné Araújo, oi, eu quase saí com um galo na testa! Eu nunca vi uma zoada daquela! Tá uma confusão na casa dele, que só vendo pra crer! Ela deu uma surra nele, que eu acho que dez ladrão não agüenta levar... Pro senhor ver... Até a televisão voou pela janela e foi bater na casa da peste! Quebrou foi tudo! Tem tanta gente na porta, que parece uma procissão...

ABELARDO

Isso vai dar em merda!

JOSÉ CREUDO

Pelo jeito a senhora Carmem, já passou todo mundo aqui na cidade! (Vai à janela).

LEITEIRO

Tem marido que é cego, seu Abelardo!

ABELARDO

É, mas um dia a casa cai... A verdade que tava escondida, termina aparecendo e aí é que eu quero ver como é que vai ficar...

JOSÉ CREUDO

Vai ficar é calado todo mundo, que o Coronel Fonseca tá vindo aí!

LEITEIRO

(Com medo). Eu acho que já prosiei demais... Eu já tou indo...

ABELARDO

(Segura o braço do leiteiro). Você não vai sair pra lugar nenhum! A gente vai ter que ouvir o que o coronel Fonseca tem pra dizer...

LEITEIRO

(Com medo). Velei-me meu santo Padroeiro...

JOSÉ CREUDO

Bom dia, coronel Fonseca!

FONSECA

(Ainda do lado de fora). Bom dia, José Creudo! O seu Abelardo tá em casa?

ABELARDO

(Vai à janela). Eu tou sim! Vamos entrando! Em que eu devo servi-lo, coronel Fonseca? Puxe uma cadeira e sente... A casa é pobre, mas acomoda todo mundo...

FONSECA

(Entra). Eu não vou me demorar, seu Abelardo! Só vim aqui, trazer um recado que a minha santa mulé, mandou...

ABELARDO

(Com ironia). Santa, é, Coronel?

FONSECA

Pelo menos todo mundo considera! Não há na cidade, quem puxe uma rezaria melhor que a minha Carmem...

JOSÉ CREUDO

(Ironicamente vai brincar com um passarinho que tá na gaiola).

LEITEIRO

Bom, eu já devo ir! O senhor vai querer três litro, não é, seu Abelardo?

ABELARDO

Você tá ficando doido? Tá desmiolado? Você já me deu os três litros... Agora, só amanhã!

FONSECA

Por que você está tão pálido? É por causa de minha presença?

LEITEIRO

(Atrapalhado). Não... Imagine, coroné... Eu... Eu... Eu já tava de saída mesmo, não foi, seu Abelardo? Eu vim só trazer o leite de seu Abelardo... Não foi, seu Abelardo?

ABELARDO

(Irônico). Foi...

FONSECA

Então aproveite e deixe cinco litros lá em casa... Por favor...

LEITEIRO

(De salto). Não...

FONSECA

(Sem entender). Não?!

LEITEIRO

(Nervoso). Hen? É...

FONSECA

Por que não?

LEITEIRO

Sabe o que é Coroné?

FONSECA

Eu daria tudo pra saber o motivo de seu nervosismo...

JOSÉ CREUDO

(Ironicamente, brincando com o passarinho). O problema foi que ele rezou muito ontem à noite!

FONSECA

Onde?

ABELARDO

Ontem foi o primeiro dia da novena de São Cristóvão da Coroa grande!

FONSECA

Eita, tinha me esquecido... Meu Deus do céu... Eu não poderia ter esquecido uma data como esta... A minha santinha devia tá num sufoco... Essa festa é muito trabalhosa! Essa eu não me perdoou... Como foi que ela conseguiu fazer os preparativos sozinha?

JOSÉ CREUDO

Pergunte ao leiteiro, que ele sabe lhe responder...

FONSECA

Ah, você ajudou a minha Carmem?

LEITEIRO

(Tremendo de medo). Foi, sim senhor... (Fonseca bota a mão no bolso e o leiteiro pensa que ele vai puxar o revólver. O leiteiro reage botando a mão na cabeça para não vê).

FONSECA

E quanto foi o seu trabalho?

JOSÉ CREUDO

(Ironicamente). Foi nada não, coronel... Ele até que gostou... Ele adora ajudar o santo...

LEITEIRO

É, sim senhor...

FONSECA

Então muito obrigado por tudo...

JOSÉ CREUDO

Oh, coronel... Mudando de assunto... O senhor conhece quando um passarinho é macho ou fêmea?

ABELARDO

O coronel Fonseca não vai ter tempo pra ficar olhando essas coisas não, José Creudo! (Transição). Mas me diga uma coisa... Em que devo a honra de tê-lo em minha casa?

FONSECA

Assim que eu cheguei de viajem, da porta mesmo, a minha santinha mandou lhe convidar pro noivado da Geninha, nossa filha...

JOSÉ CREUDO

(Surpreso). A Geninha vai noivar é, coronel?

FONSECA

É, pelo menos foi o que eu fiquei sabendo, assim que cheguei...

ABELARDO

E quem é o noivo, coronel Fonseca?

FONSECA

Eu não conheço o rapaz! Mas a minha Carmem disse que ele é um rapaz decente! É o Alexandre filho da delegada...

JOSÉ CREUDO

(Dá uma gargalhada de zombaria). Quem?! O Alexandre, filho da delegada? Eu não acredito no que acabei de ouvir! Coronel, se eu fosse o senhor não deixava a Geninha nem se aproximar daquele cara, quanto mais noivar... A fama dele por aí, não é nada boa...

ABELARDO

(Repreende). José Creudo... Isso é um assunto que só diz respeito ao Coronel e ao rapaz...

LEITEIRO

A prosa tá muito boa, mas eu já tenho que ir...

FONSECA

Não esqueça de deixar o meu leite lá em casa!

JOSÉ CREUDO

Vá logo! Você tá demorando demais...

LEITEIRO

Tou indo... (Sai).

FONSECA

José Creudo, você me deixou preocupado... Que fama tem o filho da delegada?

JOSÉ CREUDO

Não precisa se preocupar! Não tá mais aqui quem falou...

FONSECA

Mas me interessa sim... Afinal de contas, ela vai noivar com ele...

ABELARDO

Você não devia ter assanhado o formigueiro...

JOSÉ CREUDO

Mas ele tem que saber mesmo, pai... E também eu já namorei com a Geninha e acho que tenho obrigação de protege-la! Não se preocupe, coronel Fonseca! Eu vou acertar umas continhas com ele agora mesmo... (Sai apressado).

ABELARDO

(Grita da porta). José Creudo... José Creudo... Esse menino não tem juízo... É um desmiolado... Onde diabo ele foi?

FONSECA

Acho que ele foi na delegacia...

ABELARDO

O se incomoda de ir lá comigo, coronel?

FONSECA

Claro, que não... Vamos até lá... (Os dois saem. Câmera passa imediatamente para o lado de fora e os dois vêem o tumulto na cidade. Muita gente agitada espalhada na cidade. Transição perplexo). Meu Deus, a cidade está em pé de guerra e a gente não ouviu nada...

ABELARDO

(Preocupado). José Creudo... Agora eu fiquei preocupado! Vamos depressa... O José Creudo pode estar em apuros... (Os dois saem e se infiltram no meio do povo. Corta).

CENA.12

Externa. Dia. Câmera numa geral, mostra o padre correndo só de bermuda, pelo meio da cidade e o povo atrás numa grande agitação. O padre vem se aproximando, pára na frente da Câmera, demonstrando estar muito cansado e depois correndo. Câmera continua numa geral, acompanhando a agitação. Corta.

CENA.13

Interna. Dia. Interior da delegacia. Os presos estão num barulho infernal. A delegada levanta o revólver e dá um tiro para cima para acalmar os presos. Os presos trepados em cima da parede, vendo através da janela de grades, o padre correndo com medo do povo.

DELEGADA

Vocês querem parar de fazer zoada, ou vão preferir que eu atire na cabeça de cada um pra moralizar isso aqui? Tão pensando que aqui é a casa da sogra de vocês?

PRESO 1

Foi o padre que passou por aqui, que nem uma bala e o povo tudinho atrás dele... Dona Delegada, a cidade tá em pé de guerra... O que é tá acontecendo lá fora?

DELEGADA

E eu sei lá... Esse povo parece que tá tudo maluco! Eu ouvi um zum,zum,zum, mesmo! Eu não tou sabendo o que tá acontecendo!

PRESO 2

(Trepado na janela). Pela multidão de gente que tá passando por aqui, eu acho que a coisa tá é feia... Eu acho melhor a senhora dar uma olhada! Parece que arrancaram a batina do padre! Ele passou por aqui só de cueca...

DELEGADA

(De salto). O que? De cueca? Até o padre ficou maluco? Tem alguma coisa errada mesmo!

PRESO 1

De bermuda... Ele passou de bermuda...

DELEGADA

Eu vou apurar isso direitinho! (Vai saindo e vem entrando o José Creudo).

JOSÉ CREUDO

Pra onde a senhora vai, dona delegada? (Corta).

CENA.14

Externa. Dia. O padre super cansado e tenso de tanto correr com medo do povo, dá de cara com seu Abelardo e o coronel Fonseca.

PADRE

(Apavorado e cansado). Me socorram, pelo amor de Deus... Eles querem me pegar...

ABELARDO

(Tenso). O que está acontecendo, padre? O povo enlouqueceu de vez? Tá tudo maluco... Que corre, corre é este? Por que o senhor tá desse jeito?

PADRE

(Cansado). Eu não posso explicar agora! Eu preciso salvar a minha pele! O povo quer me matar... Com licença... Eu preciso me proteger... (Sai correndo. O coronel Fonseca vê as costas dele arranhada).

FONSECA

Olhe, seu Abelardo... Veja a situação das costas do padre...

ABELARDO

Ah, então é por isso que o povo está atrás dele...

FONSECA

Eu não estou entendendo mais é nada... (Transição). Por que o povo quer pegar o padre? Estranho isso, não, seu Abelardo?

ABELARDO

Estranho mesmo! Se for o que eu tou pensando, coronel Fonseca... Essa confusão tá sendo só o começo de uma grande guerra! Meu são Cristóvão, que proteja muita gente! Eu tenho muito medo, mas, a verdade é que muito sangue vai ser derramado por aqui! Depois eu lhe explico... Vamos primeiro na delegacia, antes que José Creudo crie mais confusão ainda... (Os dois saem. Câmera acompanha a agitação do povo. Corta).

CENA.15

Interna. Dia. Interior da delegacia. Câmera em perfil na delegada e no José Creudo.

DELEGADA

Saia da minha frente! Eu vou ver que bagunça é essa que tá aí no lado de fora...

JOSÉ CREUDO

(Impedindo). Vai nada! Se não disser aonde tá o cachorro de seu filho, a senhora pode ficar certa, que não vai pra lugar nenhum...

PRESO 2

(Desce da janela). Êta, delegada... Botou quente! Botou moral...

DELEGADA

(Autoritária com José Creudo). Espere aí! Quem você tá pensando que é? Você tá ficando besta, me respeite... Quem manda nessa merda ainda é eu, seu frangote...

JOSÉ CREUDO

Eu não tou faltando com respeito com a senhora! Minha conversa é com seu filho. Agora se a senhora tá se doendo, o problema é seu...

PRESO 2

Se perder pra ele, vai ganhar pra quem, delegada?

DELEGADA

(Dando um basta). Cala a boca aí, besta fubana... (Transição com o José Creudo). E tu não tira prosa com a minha cara, que eu te jogo dentro das grades perto desses vermes nojento, pra tu saber respeitar o ambiente! E é isso mesmo que eu vou fazer... Bote as mãos pra cá... (Pega as algemas).

PRESO 1

Bota quente, delegada... Manda ele pra cá, pra perto da gente...

DELEGADA

(Repreende). Cala a boca aí, seu verme sujo! Se não tu não vai sair nunca mais daí... (Transição). E eu posso pelo menos saber o que você quer com o meu filho?

JOSÉ CREUDO

O coronel Fonseca falou que a Geninha tá pra casar com o Alexandre e eu vim aqui pra lhe dizer, que isso só vai acontecer, se ele passar por cima do meu cadáver...

DELEGADA

(Dá uma gargalhada).

JOSÉ CREUDO

Por que a senhora tá rindo? Eu não falei nada de engraçado, dona Delegada!

DELEGADA

(Expontânea). O Alexandre? (Outra gargalhada).

JOSÉ CREUDO

Eu sei que ele não gosta da fruta, mas...

DELEGADA

(Fica séria bruscamente. Transição furiosa). Mantenha o respeito! O meu filho é homem...Homem, esta ouvindo? O fato dele ser um pouco afeminado, não quer dizer nada...

JOSÉ CREUDO

E o que a senhora me diz dos comentários? Todo mundo sabe que ele tem um caso secreto! Pelo jeito dele, eu tenho certeza que não é com mulé não... Eu já pude crer, que tem mãe que é cega!

DELEGADA

(Com raiva). Essa foi a gota d’água! (Gritando com raiva). Fora da minha delegacia, antes que eu perca o restinho de paciência que ainda me resta... Fora... (Entra o coronel Fonseca e o seu Abelardo).

ABELARDO

Ai, graças à Deus, conseguimos nos livrar da multidão! Deu trabalho pra chegar aqui, hen, delegada?

FONSECA

É, a cidade tá em pé de guerra... Tá uma confusão, que faz até medo a gente sair na rua...

ABELARDO

O que diabo tá acontecendo por aqui, dona Delegada? (Transição). José Creudo, eu não gostei de sua atitude! Não me desobedeça nunca mais, está ouvindo? (Entra o Alexandre).

ALEXANDRE

(Pederasta exagerado). Bom dia para todos...

FONSECA

(Irônico). Ihhh...

TODOS OS PRESOS

(Dão uma vaia). Uhhhhhhhhh... (A delegada atira pra cima).

ALEXANDRE

Que susto! Quer me matar do coração, mamãe?

JOSÉ CREUDO

É com você que eu quero falar, seu pirobo sem vergonha... (Parte pra cima do Alexandre).

ALEXANDRE

(Grita exagerado). Ahhhhhiiiiiii... Mamãe, eu vou bater na cara dele, viu? (Parte pra bater no José Creudo, mas a delegada segura o Alexandre).

DELEGADA

(Repreende). Alexandre se comporte...

JOSÉ CREUDO

Mas repara! A formiga quando quer se perder cria asa... (Transição debochado). Solta a franga, menina...

ABELARDO

Vamos embora daqui, José Creudo... Eu não quero saber de confusão...

FONSECA

O seu Abelardo tem razão, José Creudo... Deixe isso pra lá... E também a delegada vai se ocupar... (Irônico). Aliás, a senhora delegada, deveria estar ocupada à muito tempo... Afinal de contas é a profissão dela...

DELEGADA

(Como quem não gostou). O que o senhor está querendo insinuar, coronel Fonseca?

FONSECA

Nada, delegada! Só estou querendo lhe avisar, que a cidade está em pé de guerra... E parece que o padre tá envolvido na confusão!

DELEGADA

Que diabo... Quer dizer que essa zoada todinha lá fora, é com o padre? Eu já vi que essa cidade tem um povo meio doido mesmo... E vocês acham pouco e ainda fica trazendo mais confusão pra cá... Eu sou uma autoridade... E eu preciso pensar no que eu vou fazer... Vamos, saiam da minha delegacia, que eu preciso pensar...

JOSÉ CREUDO

Sem acertar as contas com este safado... Eu não saio daqui...

ABELARDO

(Puxa o José Creudo). Você vai sair sim... E para casa... Chega de confusão! Eu não tenho mais idade pra tá agüentando isso... Vamos embora... (Transição). Minhas desculpas, dona Delegada! Agora verifique o que está acontecendo lá fora, antes que alguém acabe morrendo... Vamos embora, José Creudo...

JOSÉ CREUDO

(Passa pelo Alexandre). Depois a gente tem uma conversinha... (O Alexandre dá língua para o José Creudo. Saem de cena: O coronel Fonseca, o seu Abelardo e o José Creudo).

DELEGADA

(Com o Alexandre). E você fique aí, que eu vou dar uma olhada nessa confusão da peste, que tá lá fora... (Transição). Alexandre... Eu não quero mais confusão pra essas bandas, tá me ouvindo? (Sai de cena).

ALEXANDRE

Que sujeitinho mais impertinente! Se ele vir de novo, eu quebro o focinho dele... (Um dos presos dar psiu). Ah! Nem ligo! Vai te catar... (Levanta a cara pra cima e sai. Câmera em um preso sorrindo. Corta).

CENA.16

Externa. Dia. Meio da rua perto da praça de São Cristóvão da Coroa Grande. Câmera numa geral mostra tumulto na cidade. O revoltados põem fogo em alguns objetos e quebram outros. O céu exibe um cenário de escuridão, dando idéia de que vai chover. Começam alguns trovões e vez em quando uma réstia de relâmpago clareia o céu.

DELEGADA

O tempo fechou de repente! Parece que vai cair um temporal! (Se aproxima do prefeito). Vocês poderiam pelo menos me dizer o que está acontecendo por aqui? Confusão da gota! Esse povo enlouqueceu de vez, foi?

PREFEITO

Não me diga que a senhora não tá sabendo o que tá acontecendo!? Então a senhora é a única... Coisa que deveria ser a primeira a tá a par da confusão...

VICE-PREFEITO

É muito incrível mesmo! Uma confusão da gota serena dessa e a senhora não tá sabendo de nada? Espere aí, dona delegada... Pra cima de mim não...

DELEGADA

(Com ironia). Deixa de muita conversa! Tu sabe muito bem que a tua campanha depende deu, cabra...

VICE-PREFEITO

O padre apareceu com as costas arranhadas de unha...

DELEGADA

Só por causa... (Transição brusca). O que? Meu são Cristóvão da coroa Grande, o que tu tá me dizendo, home de Deus?!

VICE-PREFEITO

Isso mesmo que a senhora tá ouvindo! Veja com seus próprios olhos a revolta do povo! O padre tá correndo feito cão assustado e se ele for pego, eu não sei como é que vai ser não, viu?

DELEGADA

Quer dizer então, que o padre traiu o santo padroeiro?! E quem pode ter arranhado o homem?

PREFEITO

Quem é que arranha as costas dos homens aqui na cidade?

DELEGADA

(De salto). A senhora Carmem... Que abacaxi eu acabei de pegar pra descascar... Eu não sei se vou conseguir segurar esse povo sozinha não... Me desculpa! Tá certo, que eu sou a autoridade aqui na cidade... Mas eu não vou morrer por causa de uma padreco safado de jeito nenhum...

PREFEITO

Eu acho que a senhora tem que dar um jeito sim... Se a senhora não se impor, que é que vai? São ossos do ofício, dona Delegada! A Senhora Carmem que se cuide! Fatalmente o povo irá pega-la também... Eu já tou até imaginando que é o satanás que anda solto por aqui...

DELEGADA

Que satanás coisa nenhuma! Ai, meu São Cristóvão da Coroa Grande! Já não basta os problemas que eu tenho na delegacia?

PREFEITO

(De salto). Eita... Olha só aquele rapaz com aquela corda!

DELEGADA

Aonde?

VICE-PREFEITO

Ali, oh... (Aponta para o rapaz).

DELEGADA

Eu vou ver isso de perto... (Chama o rapaz). Ei, cabra! Venha aqui em nome da lei... (O rapaz se aproxima). Pra onde você pensa que vai com essa corda?

FIGURANTE 4

É o povo que tá querendo, dona Delegada! Parece que eles pegaram o padre e já vem trazendo ele pra cá... Ele vai ser enforcado!

DELEGADO

Que loucura! Você não vai levar essa corda pra lugar nenhum! Diga ao povo que foi a lei, a grande autoridade da cidade que mandou...

FIGURANTE

Oxe! Eu não tou doido não, dona Delegada! A autoridade da cidade, é São Cristóvão da Coroa Grande! O padre traiu o santo! O povo tá com muita raiva e se eu não levar essa corda quem vai morrer é eu... (O figurante sai às pressas com a corda e a Delegada volta ao encontro do prefeito e o Vice. No meio do povo, mostra a Mariluce, mulher do coronel Araujo, cruzando a praça).

DELEGADA

Aquela mulher ali! A dona Mariluce! Tem me dado uns trabalhinhos! Umas sarninhas pra eu me coçar! Minha cabeça tá em tempo de explodir com tanto problema! Eu não sei mais de nada! O povo não me obedece mais! O cabra teve a coragem de vir me dizer que a autoridade da cidade é o santo! Pode uma coisa dessa? A autoridade sou eu... Eu não posso admitir uma coisa dessa!

PREFEITO

Eu acho melhor a senhora aceitar, se não vai sobrar pra senhora também! Aí, vai ser muito pior...

DELEGADA

Eu não tou acreditando que eles vão matar o vigário, assim de sangue frio! E o pior é que vão mesmo! Eu não quero acreditar nisso...

VICE-PREFEITO

Pode acreditar que o povo não está brincando não... A gente pode fazer qualquer coisa na vida; até desobedecer a lei... Agora, trair o santo padroeiro, isso é morte na certa! O povo faz justiça com as próprias mãos... (A delegada cruza os braços).

PREFEITO

E a senhora vai cruzar os braços? Não vai fazer nada?

DELEGADA

E o que é que eu posso fazer? Se eu for me meter nessa confusão quem vai acabar sendo enforcada, sou eu!

VICE-PREFEITO

(Irônico). Em que mão tá a nossa cidade, hen, prefeito?

DELEGADA

(Com raiva). O que foi que você falou?

VICE-PREFEITO

Nada não, dona delegada... Eu falei comigo mesmo... (Câmera em perfil na delegada com cara de preocupada. Corta).

CENA.17

Interna. Dia. Interior da residência de seu Abelardo. Seu Abelardo vem chegando da rua com o Coronel Fonseca e o José Creudo).

ABELARDO

Que confusão da gota tá lá fora! Eu tou vendo que a cidade anda sem lei mesmo! (Transição com o coronel Fonseca). Eu quero lhe pedir desculpas, coronel Fonseca! O José Creudo ainda não tá maduro... É um desmiolado como qualquer outro jovem...

FONSECA

Não precisa se desculpar, seu Abelardo! Esfrie a cabeça! Ele tem razão! Eu tenho que agradecer por ele ter me avisado! Geninha não tá maluca namorar com aquela coisa que acabei de ver... Pode ficar certo, que meu genro, aquele pederasta não vai ser nunca! Ou então ela sai de casa e vai morar com ele onde ela achar melhor, mas no mesmo teto que eu, não... E quanto ao José Creudo, seu Abelardo, é um menino de ouro... O senhor é um homem feliz! Eu quero minha Geninha do mesmo jeito da mãe... Uma santa...

JOSÉ CREUDO

(Consigo mesmo). São Cristóvão me livre de uma coisa dessa! Se puxar a mãe, já viu...

ABELARDO

Já viu o que, José Creudo?

JOSÉ CREUDO

... Uma santa, meu pai... Uma santa...

FONSECA

Uma santa mesmo! José Creudo, meu filho... Se um dia você chegar a se casar com uma santa da marca de minha Carmem, pode se considerar o homem mais feliz do mundo... (Com o Abelardo). O senhor precisa ver pra crer, seu Abelardo... O que a minha santinha mulé sabe de reza, eu precisava estudar um bocado pra chegar perto do que ela sabe... Até o padre fica de boca aberta, quando vê ela rezando... (Transição). Mas por falar no padre... Coitado daquele infeliz... O senhor viu, não foi, seu Abelardo? A desgraceira que tava nas costas dele? Só uma vadia mesmo pra fazer aquilo... Coitado... Se o povo pega-lo...

ABELARDO

(Irônico). É... Eu sei... Eu vi sim... (Alguém bate palmas, chamando à porta).

JOSÉ CREUDO

Tem gente aí...

ABELARDO

E o que você está esperando, home? Veja lá quem é!

JOSÉ CREUDO

(Vai à janela). Virgem, meu são Cristóvão da Coroa Grande... (Volta rápido).

FONSECA

Parece que viu fantasma!

ABELARDO

O que foi, José Creudo? (Vai à janela. Transição). Ah, é a senhora? Vamos entrando! A casa é pobre, mas é de família... Agora de pressa, antes que o povo invada a minha casa... Com essa agitação a gente não sabe o que se passa pela cabeça do povo... (Entra em cena a Mariluce).

MARILUCE

Me desculpe eu atrapalhar a prosa de vocês! Eu não vou me demorar! Eu vim conversar mesmo, foi com o José Creudo...

JOSÉ CREUDO

(Assustado). O que a senhora quer comigo, dona Mariluce?

FONSECA

Eu tou vendo que a conversa de vocês é uma coisa particular! Eu vou deixar vocês prosear à vontade...

MARILUCE

... É bom o senhor esperar, que o assunto que eu tenho pra tratar, com o José Creudo, se eu não tiver enganada, também vai lhe interessar muito...

JOSÉ CREUDO

(Com medo). Home, mas o coronel tá dizendo que o assunto é particular e eu também tou com ele...

FONSECA

Não precisa dizer mais nada! Mais tarde, depois que passar toda essa confusão da cidade, eu venho aqui com a minha santa, pra gente falar a respeito dos preparativos da festa de São Cristóvão da Coroa Grande!

MARILUCE

(Irônica). Se são Cristóvão tiver ponta ao invés de coroa, não é, coronel Fonseca?

FONSECA

Não entendi, dona Mariluce...

ABELARDO

(Amenizando). Nada não, coronel! Ela tá brincando com o santo!

FONSECA

Com o santo ninguém deve brincar, dona Mariluce! (Transição). Bom, eu vou deixa-los... Inté...

ABELARDO

Inté, coronel! (Fecha a porta. Transição). Cadê o coronel Araújo, dona Mariluce?

MARILUCE

(Com raiva). Deixei ele trancado dentro da privada! Aquele cachorro me aprontou uma, seu Abelardo... Dessa vez não tem volta de jeito nenhum! Ele tá pensando o que? Eu sou carne de pescoço...

ABELARDO

Se acalme, dona Mariluce! Hoje tá todo mundo agitado... Parece que passou um furacão aqui na cidade!

MARILUCE

Eu tou calma até demais! E a confusão todinha, é por causa daquela piranha mesmo

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 28/03/2009
Reeditado em 28/03/2009
Código do texto: T1510677
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