"Força Policial" (Pride and Glory)
"Força Policial" (Pride and Glory)
Começa com o Edward Norton assistindo um jogo de futebol americano. É quando seu irmão, Noah Emmerich, recebe a notícia de que 4 policiais foram mortos numa emboscada. Jon Voight, o pai, aconselha Edward a sair da auto piedade e conduzir a investigação.
Termina com o letreiro, “Em homenagem à Eric Hernandez”, seguido pela convenção, com caracteres maiores do que o usual: “esta é uma obra de ficção. Toda e qualquer semelhança...”. No mesmo instante, a banda sonora dirime qualquer objeção quanto ao poder do RAP, enquanto manifestação musical sobre a opressão dos homens sobre os homens.
Pode-se catalogar um filme violento de várias formas. Nos trabalhos de Steven Seagal, onde seus oponentes são derrubados antes mesmo do golpe ser desfechado. Nos trabalhos de Silvester e Arnold, quando o ketchup borrifa na tela e o espectador sacode os ombros.
Ou quando o Colin Farrel, uniformizado, pega o ferro de passar roupa e ameaça queimar o recém nascido de um informante, caso este não dê o serviço. A violência não reside apenas no que a cena mostra, mas no desenrolar que ela sugere.
Colin Farrel e Edward Norton encabeçam a trama escrita por Joe Carnahan e Gavin O´Connor. Gavin também dirige.
Jon Voight coadjuva. Noah Emmerich idem.
Filme policial sério, como há um bom tempo não se via, mas infelizmente dotado de um final capaz de levar às lagrimas qualquer sedento, desde “Dia de Treinamento”, e que já estava suspirando: enfim..., quando se depara com o desfecho e, de fato, lastima.
Todos os nomes citados, e mais uma dúzia deles, usam a farda da NYPD e tem alguma culpa no cartório.
“Força Policial” não perde tempo com corre corre e artilharia leviana.
Muito menos propõe a violência de praxe, não raro improvável, cuja forma fantasiosa só deve servir para saciar fantasias de terceiros.
Na direção de Gavin O´Connor, mesmo quando as cenas não apenas sugerem, explicitando seja lá o que for, o que anda em paralelo, com exceção do final, é a casualidade de uma vida torta, onde não existe - nem em sonho - a linha divisória.
Desde 2001, Hollywood solta uma tranqueira atrás da outra, tentando mordiscar o tema “corrupção na polícia”, com pouquíssima eficácia. Gente talentosa atirou pérolas para os porcos, errando o alvo em cheio, em maior ou menor grau.
Colin e Edward esbanjaram, e o candidato a esta película, desavisado, pode supor a corriqueira forma de ambos serem uma dupla imbatível. Jon Voight saiu da jaula da eminência parda malfeitora, para se tornar um omisso de carne e osso, com falas curtas e caráter fraco. Noah Emmerich (“Pecados Íntimos”, “Amor Sem Fronteiras”) também esbanja, na mesma linha do Voight, com mais dramaticidade, visto a exigência do papel.
Muito provavelmente, em virtude da tônica dos dias que correm, mais e mais a instituição policial tem se tornado alvo de indagações, e a expressividade de suas ações anda estampada em variados veículos.
“Pride and Glory” exibe a força da pirâmide invertida, não especulando, como a tolice do “Reis da Rua”, sobre um vilão de gravata atrás de uma escrivaninha, e sim indo na ferida, que é o verdadeiro perigo de um sujeito (Colin Farrel), com baixa auto estima, eterno mau humor e poder de vida e morte sobre os paisanos. E de quando esse perigo se alastra, Colin se tornando apenas mais uma erva daninha em meio a dezenas, com idêntico perfil. Quem está no topo, Noah Emmerich, se sente culpado, mesmo não lucrando nada ou sequer apadrinhando. Quem está no topo há mais tempo ainda, Jon Voight, tem o olhar perdido e um copo de uísque. Dentro de um filme denso e de qualidade, Edward Norton corre solto tentando juntar os pontos, ciente de que existe uma sandice galopante entre os colegas, mas ainda alheio face à sua estatura. Dada altura, ele vai se perguntar: como é que se freia isso?
Gavin O´Connor estreou na direção de longa metragem em 1999, com o filme “Livre para amar”, premiado no Festival de Sundance.
Gavin conhece o riscado, mesmo que “Pride and Glory” seja o seu terceiro longa, o diretor escreve e atua na bastante TV. É de se admirar como uma direção que prima pela intensidade durante 110 minutos, jogue tudo pela janela nos últimos 20.
Colocou um freio estapafúrdio numa história que fluía no azeite, pelo grande mérito de retratar sem cerimônia, o lado trágico e familiar de uma profissão que vive em exposição.
Quando Caco Barcelos lançou o livro “A Polícia que Mata”, em 1996, havia entre os pretendentes ao autógrafo um coronel, que lhe disse:
Deus o proteja, meu filho. (Noutras palavras, não há como frear).