E se fosse verdade
 
          Sábado, quatorze de fevereiro: reunião de amigas no apartamento de Marlene para comemorar seu aniversário. Eu estava lá e também a aniversariante, é claro. Rosangela ficou responsável pelo filme: E se fosse verdade. Acho que foi a filha adolescente dela quem escolheu.Só pode. Esparrachadas no sofá, cadeiras ou no colchão colocado no chão, Beth, Marta, Conceição e Dirce, lá estavam também.
 
          O Filme: E se fosse verdade (Just Like heaven) baseado no livro de Mark Levi If only it were true, encontrado nas melhores livrarias da net e também disponível para download.
É uma comédia romântica de 2005, filmada em São Francisco, a maior parte das cenas na casa da roteirista Leslie Dixon que além de ter recebido pelo roteiro ganhou também pelo aluguel do imóvel e quase me matou de inveja. Ali até eu queria morar.

          Reese Whiterspoon é Elizabeth, Lizzie, uma médica que vive para trabalhar. No momento em que ganha a tão sonhada estabilidade no Hospital onde trabalha, sofre um acidente.

        Mark Ruffallo é David, um paisagista angustiado pela morte inesperada da mulher que indo morar em São Francisco precisa de um apartamento.

          O engraçado é que no livro ela se chama Lauren e ele Arthur. Por que será que mudaram seus nomes na transição para o cinema? Uma pergunta que sei, eu não vou ter resposta. Também que diferença faz?

        A história? Água com açúcar com uma grande dose de misticismo. Uma fantasia, segundo os parâmetros de nossa racionalidade. Bem, o caso é que David aluga o apartamento que foi de Lizzie. E toma conta dele. Do seu jeito desorganizado. E a moça não gosta. Os dois estão ali pelo que garantem ser seu. Um quer expulsar o outro. E de embate em embate, as descobertas. Primeiro ele: descobre que ela é um fantasma. Depois ela: descobre que está morta. Só que não se conforma. Ela não se lembra de nada da própria vida e então os dois partem para decifrar o mistério. Um pedaço aqui, outro ali, vão descobrindo. Só que não vou contar tudo, vou deixar um pouquinho de fora. Juntos fazem duas grandes descobertas: Ela não está morta e sim em coma no hospital onde trabalhava. A irmã dela acaba de assinar os papéis permitindo que os aparelhos sejam desligados. O tempo corre e a morte ronda. É preciso fazer alguma coisa, mas ai quem quiser saber que trate de ver o filme ou ler o livro. Sobre o livro não posso falar, não li e não vou comprar. Minha amiga Conceição leu e gostou. Mais que do filme. Sobre o filme todas que assistiram gostaram muito. Inclusive eu. É uma comédia despretensiosa que faz rir, com atores bonitos e locações também. Marlene, recém chegada de uma viagem aos EUA sempre interrompia para dizer “puxa, eu estive ali”. Eu não dizia nada,mas pensava: eu já vivi ali, pois se é possível ter certeza de alguma coisa sobre essas coisas eu sei que em uma de minhas encarnações eu vivi ali. Já vivi também na Irlanda e na Cornualha. Mas isso é assunto para outra crônica. Fim de filme, algumas lágrimas discretas, arrepios. O papo rolou – o que realmente alguém em coma percebe do mundo exterior? Minha irmã ficou em coma meses e voltou. Ela conta algumas histórias estranhas,como a do homem usando uma camiseta com propaganda de alguma coisa que nunca a deixava sozinha, mas nada pode ser confirmado. Beth por sua vez narrou a história de seu tio, internado em um hospital em São Paulo, em coma, com o fígado derretido, prestes a morrer, mas não estando pronto, de repente abriu os olhos, levantou-se, exigiu sair do hospital e viveu ainda muitos anos. Com o fígado derretido. Mas valeu. Discussões metafísicas e religiosas em volta da mesa do lanche. Inclusive sobre a Bíblia e a sabedoria de seus textos. Harold Bloom tem um livro Onde encontrar a sabedoria? Está em minha mesinha de cabeceira. Vou lendo devagarzinho, quem sabe eu acho. Mas bem no comecinho ele faz uma pergunta mais ou menos assim, que assim foi que entendi: Para que serve a saabedoria se quando a gente mais precisa dela fica tão desesperado que a deixa escapulir pela janela? Foi uma reunuão de gente civilizada, cada qual no seu quadrado, respeitando umas as outras. E fomos saindo, uma a uma, prometendo um breve reencontro para depois do Carnaval. Agora, o meu relógio marca meia noite, já é hora de atrasá-lo. Fim do horário de Verão! Recuperei minha hora perdida.