O Curioso Caso de Benjamin Button

Não pretendo gastar muitas linhas elogiando os atores, muito embora, estes estejam impecáveis. Não é por acaso que este filme recebeu nada mais, nada menos, que treze indicações ao Oscar..

Mas sua história é fantástica. Não é daqueles filmes de "revolucionários de sofá"; ele mostra a realidade que todos tememos, que todos colocamos na treva vil do esquecimento (ou pelo menos tentamos). E quando conseguimos, ela se mostra tão potente que nos deprime.

O tempo passa. E passa de forma diferente para cada um de nós. Cada um sabe quanto tempo lhe custa o próprio minuto. O filme tem uma maneira peculiar de demonstrar isso. Logo no início vem a bomba: um relógio cujos ponteiros correm no sentido anti-horário! Opa. Pude me certificar logo aí de que não era um filme qualquer.

"Tudo bem, é uma boa idéia, mas não se pode deixar impressionar por um simples relógio", deve estar pensando. A pessoa que construiu o relógio o fez em 1918. Este ano o lembra de algo, leitor? Fim da Primeira Guerra Mundial. O filho do relojoeiro já tinha idade suficiente para participar da guerra. O relógio foi construído daquela forma para que aqueles que foram mortos na guerra (junto com o filho dele) pudessem voltar no tempo e retornar às suas respectivas casas e famílias.

No mesmo dia da inauguração, nasce Benjamin, que ainda não tem este nome. Nasce em um corpo tão estranho que, pensando que se tratava de um monstro, e confuso pela morte da esposa, seu pai o abandonou na escada de uma casa de idosos. Lá, uma mulher estéril que sempre quis ter um filho o adota e dá o nome que teria até o fim (ou seria o início?) de sua vida.

Embora o médico que o viu no primeiro dia tenha dito que sua vida teria uma curtíssima duração devido ao frágil estado em que se encontrava, o protagonista melhorava a cada dia, e, ao pasar dos anos, percebeu que ficava mais jovem.

Os cabelos cresciam, a audição melhorava junto com os ossos que ficavam mais fortes. Em algum tempo, já podia andar. Foi uma criança solitária. Tratavam-no como um velho. Tudo bem, neste sentido, o roteiro perdeu um ponto pelo clichê, mas ganhou dois pela forma com que apresentou. É uma inovação traduzida para a exaustivamente usada frase "as aparências enganam".

E o tempo continuava andando no sentido contrário para Benjamin. Mas o que é o sentido contrário? Olhando pela perspectiva dele, talvez nosso ponto de vista seja o contrário. A mesma conversa de "ordem" e "desordem". Vou trazer para uma realidade mais comum. Se no Brasil, a política está em ordem, é preciso provocar uma desordem, para que a ordem (no sentido de organização) seja estabelecida. Chegamos a um paradoxo. Não existe nem ordem nem desordem. Não existe "caminho" para o tempo. O tempo é fluido e, como todo fluido, ele flui.

Quando o roteiro traz a natureza do tempo, ele mostra que o tempo é relativo. Ele mostra a efemeridade do momento. E ele aproveita para mostrar a efemeridade das pessoas.

Como boa parte dos dramas, este nos poupa duma taquicardia. A diferença é que este nos faz voltar para casa distraídos, pensando no quão rápido as coisas nos acontecem na vida. Demonstrando fluentemente que, às vezes, o tempo flui conforme os acontecimentos devem seguir, como um rio que leva um graveto por onde passa. Sem dúvida, marcante.

Rafael Galvão
Enviado por Rafael Galvão em 31/01/2009
Reeditado em 07/02/2009
Código do texto: T1414341
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