Solano Trindade 100 anos-Documentário

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     O excelente documentário “Solano Trindade 100 anos”, de Alessandro Guedes e Helder Vieira é uma homenagem merecidíssima ao poeta e escritor que sempre estará no coração de quem não tolera o racismo em nenhum lugar do mundo.Os depoimentos de amigos, admiradores e familiares de Solano tornam o documentário profundamente humano e emocionante.Os vários registros audiovisuais do poeta são um destaque, inclusive de sua atuação no antológico "A Hora e a Vez de Augusto Matraga" filme baseado no conto homônimo de João Guimarães Rosa(Em Sagarana), que também recomendo.
     Na figura do poeta Solano Trindade minha homenagem ao povo negro deste país, lembrando que tudo que se fizer ainda é pouco para se apagar a lembrança desonrosa da escravidão.Chegará o dia em que todas e todos não precisem de data para lembrar que o racismo ou qualquer tipo de discriminação, só humilha, só desqualifica a espécie. A raça é humana e todas as etnias merecem respeito e consideração.

Edna Lopes



Sinopse

Se estivesse vivo estaria completando 100 anos.Solano Trindade foi não um simples homem,foi acima de tudo um divulgador da cultura "negra"que era e ainda é muito descriminada. Na década de 70 os Secos e Molhados musicaram uma das grandes musicas do grupo "Mulher Barriguda",anos depois ney Matogrosso incluiu no LP seu tipo a Canção Tem Gente Com Fone. Uma oportunidade de entender o universo desse artista inquieto será o documentário :Solano Trindade 100 Anos.
[http://angustiacriadora.blogspot.com/2008/07/lançamento-do-documentario-solano.htm]

Ficha técnica
Direção: Alessandro Guedes e Helder Vieira
Duração: 35 minutos



"Solano, vento forte da África"

"De todos os escritores negros, ligados à coletividade negra brasileira, o que deixou presença mais forte foi Solano Trindade. Foi o primeiro a escrever, com especificidade, para negros, naquele tempo. Pagou o preço disso, e como!
Solano Trindade era poeta, pintor, teatrólogo, ator e folclorista. Nasceu no dia 24 de julho de 1908, no bairro de São José, no Recife, capital de Pernambuco. Era filho de Manuel Abílio, mestiço, sapateiro, e da quituteira Merença (Emerenciana). Estudou até completar um ano de desenho no Liceu de Artes e Ofício. A partir de então, começa a escrever.
Solano Trindade foi o poeta da resistência negra por excelência.Sua "carreira" como militante inicia-se, de fato, a partir de 1930, quando começa a compor poemas afro-brasileiros e, já integrado nesta corrente, participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro, no Recife e Salvador. Em 1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o Centro de Cultura Afro-brasileiro, que tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros.
Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte. Depois chega ao Rio Grande do Sul, fixando-se por um tempo em Pelotas, onde funda com o poeta Balduíno de Oliveira um grupo de arte popular. Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro do povo, o que não se concretizou devido à enchente de 1941, que carregou todo o material. Voltou então para Recife, indo logo depois para o Rio, onde no "Café Vermelhinho", detém-se a discutir e a conversar com jovens poetas e intelectuais, artistas de teatro, políticos e jornalistas. Ali fez sucesso.
Em 1944, edita o livro "Poemas de uma vida simples", onde se encontra o seu declamadíssimo "Trem sujo da Leopoldina". Em 1945 funda o Comitê Democrático Afro-brasileirom, com Raimundo Souza Dantas, Aladir Custódio e Corsino de Brito.
Em 1954 está em São Paulo, criando na cidade de Embu, um pólo de cultura e tradições afro-americanas. Em São Paulo também funda o Teatro Popular Brasileiro – TPB, onde desenvolveu uma intensa atividade cultural voltada para o folclore e para a denúncia do racismo. Em 1955 viaja para a Europa, com o TPB, onde dá espetáculos de canto e dança. Em 1958 edita "Seis tempos de poesia"; em 1961, "Cantares ao meu povo" (com uma reunião de poemas anteriores).
Solano Trindade faleceu no Rio de janeiro, em 19 de fevereiro de 1974. Sua obra, não! Continuará eternamente viva, como que escrita com brasas na pele escura de todo afrodescendente, mesmo que não queira, mesmo que não saiba...[ Fonte: O Negro Escrito, de Oswaldo de Camargo]

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CONVERSA

- Eita negro!
quem foi que disse
que a gente não é gente?
quem foi esse demente,
se tem olhos não vê...
- Que foi que fizeste mano
pra tanto falar assim?
- Plantei os canaviais do nordeste
- E tu, mano, o que fizeste?
Eu plantei algodão
nos campos do sul
pros homens de sangue azul
que pagavam o meu trabalho
com surra de cipó-pau.

- Basta, mano,
pra eu não chorar,
E tu, Ana,
Conta-me tua vida,
Na senzala, no terreiro
- Eu...
cantei embolada,
pra sinhá dormir,
fiz tranças nela,
pra sinhá sair,
tomando cachaça,
servi de amor,
dancei no terreiro,
pra sinhozinho,
apanhei surras grandes,
sem mal eu fazer.

Eita! quanta coisa
tu tens pra contar...
não conta mais nada,
pra eu não chorar -
E tu, Manoel,
que andaste a fazer
- Eu sempre fui malandro
Ó tia Maria,
gostava de terreiro,
como ninguém,
subi para o morro,
fiz sambas bonitos,
conquistei as mulatas
bonitas de lá...
Eita negro!
- Quem foi que disse
que a gente não é gente?
Quem foi esse demente,
se tem olhos não vê.
[Solano Trindade, in"Cantares ao Meu povo"]

Do http://www.portalafro.com.br/literatura/solano/solano.htm

O Canto da Liberdade

Ouço um novo canto,
Que sai da boca,
De todas as raças,
Com infinidade de ritmos...
Canto que faz dançar,
Todos os corpos
De formas,
E coloridos diferentes...
Canto que faz vibrar,
Todas as almas,
De crenças,
E idealismos desiguais...
É o canto da liberdade
Que está penetrando,
Em todos os ouvidos...