Mergulhe de Cabeça! (Mar Adentro)

Perturbador, filosófico e poético. Assim é “Mar Adentro” (Espanha, 2004), de Alejandro Amenábar.

Baseado em fatos reais, o premiado filme conta a história de Ramón Sampedro (no filme interpretado por Javier Bardem), que após ter ficado tetraplégico aos 28 anos, decide que tem o direito de morrer.

A fim de exercer esse direito, procura uma ONG dedicada à eutanásia e, mesmo sem o apoio da família, da igreja ou governo, leva a idéia adiante, ingressa com um processo judicial e acaba causando uma grande discussão nacional em torno de um tema elementar: a vida.

A vida... A vida de um ser humano... Vida que é um direito, não uma obrigação e que, dentre os valores da humanidade, certamente é o mais fundamental. Vida cujo verdadeiro exercício, só admite uma forma: forma digna... Viver com dignidade.

Mas “o que é dignidade?”, perguntava Ramón, em sua carta-testamento dirigida aos “juizes, autoridade policiais e religiosas” que se opunham à sua batalha judicial, para que ninguém fosse incriminado por ajudá-lo em seu intento. Desde 1968 estava preso a uma cama e já havia se passado vinte e oito anos. Vinte e oito anos numa cama! “Isso não é viver dignamente”, dizia.

É um filme sobre liberdade, pois, afinal, que limite encontra a liberdade humana? Somos livres pra dispor da própria vida? Mas e quando a vida se torna uma prisão? Para Ramón, a morte é liberdade. E o que ele busca não é aquilo que todos nós buscamos, ou seja, ser livre?

É um mar de questões... Um oceano imenso de aporias...

E levantando todas elas, pondo em cheque alguns valores da sociedade, Alejandro Amenábar, fala da morte como uma homenagem à vida, à capacidade, à beleza, à inteligência e à razão humanas. Utilizando dados verídicos da historia, intercalando situações e personagens fictícios, ele acentua o paradoxo-chave: Ramón é uma alma dinâmica e mesmo impossibilitado de se mover é capaz de movimentar a realidade á sua volta.

O resultado é um filme belíssimo. A história (que por si só já é um tratado de filosofia) é contada com todos os recursos do bom cinema: um elenco afinado, boa trilha sonora e acima de tudo uma excelente fotografia o que propicia mergulhos profundos em temas fundamentais.

Assista, emocione-se e reflita.

(publicado no Portal Cultura de Comunicação - http://www.portalcultura.com.br/clube/cinema/)

Harley Dolzane
Enviado por Harley Dolzane em 24/03/2006
Reeditado em 24/03/2006
Código do texto: T127779