Chega de Saudade



"Sem querer fui me lembrar
de uma rua e seus ramalhetes
o amor anotado em bilhetes
daquelas tardes..."
           Tavito e Ney Azambuja



     Esta semana a palavra e o sentimento da saudade se fizeram presente em minha vida de várias formas. Mas, confesso: gosto dela. Gosto da sonoridade, de escrever, de sentir. Gosto de dizer SAUDADES DE VOCÊ e, quando falo ou escrevo, é a mais pura expressão da verdade. O sábio Peninha já disse “...Ter saudade até que é bom/É melhor que caminhar vazio...” e eu sempre concordei com ele.
     Mas voltando a semana, me emocionei com alguns reencontros, com boas novas de amigos distantes, além de encontrar por aqui, no RL, farto material que trata do assunto com propriedade. Destaco uma prosa poética da Maria Olímpia - Foi Um sonho, apenas um sonho- que não cita a palavra saudade, mas me arrancou lágrimas de saudades do meu irmão-menino que já não está mais entre nós.
     Li também uns poemas de Ângela Gurgel que fala de saudades de um jeito tão intenso, tão lindo que aquece a alma de quem lê e me flagrei pensando no quanto é bom amar assim e quanto faz bem falar disso. Por fim, não por ultimo, na escrivaninha do Mestre Raimundo Antonio de Souza Lopes, o lindo poema Saudades de Ti, me fez refletir no quanto o sentimento e a palavra SAUDADE são recorrentes e presentes na vida de quem faz da emoção e da sensibilidade expressão dessa mesma vida.
     Para acessar outros canais da percepção decidi, finalmente, ver o filme CHEGA DE SAUDADES, já que palavra e sentimento resolveram não me abandonar. Com uma trilha sonora excelente, é um filme simpático, despretensioso, leve. Fala de solidão, de amores fortuitos, de traições e, como não poderia deixar de ser, de saudades.
     No filme os personagens, em sua maioria da 3ª idade, desfilam num salão de baile suas solitárias vidas e encontram, na companhia uns dos outros, um tempo que não existe mais, a não ser, no sentimento de cada um e cada uma.
     Vi o filme e senti muitas saudades de minha amiga Edite, que tanto gostava de dançar e me divertia contando os mexericos, os namoros, as tramas dos bastidores dos bailes da 3ª idade que freqüentava. Edite gostaria de ter visto esse filme. De ter visto Elza Soares cantando clássicos como Lama, Não Deixe o Samba Morrer e o apimentado De Noite na Cama.Tomara que aí no céu os bailes também sejam animados, minha amiga.
     Enfim, eu que “sinto saudades até do que não vivi, do que apenas visitou meu pensamento”*concluo este arremedo de resenha lembrando de Mário Palmério lindamente adaptado por Renato Teixeira ”Se queres compreender o que é saudade/terás que antes de tudo conhecer/sentir o que é querer e o que é ternura/e ter por bem um grande amor, viver...” e também não vou esquecer minha dupla favorita “...Abraços e beijinhos, e carinhos sem ter fim/Que é pra acabar com esse negócio de você viver sem mim./Não quero mais esse negócio de você longe de mim...”[Chega de Saudades, Tom e Vinícius]


Ficha técnica
Título Original: Chega de Saudade
País de Origem: Brasil
Gênero: Drama
Classificação etária: 14 anos
Tempo de Duração: 92 minutos
Ano de Lançamento: 2008
Direção:Laís Bodansky

Sinopse (da web)

O filme Chega de Saudade conta várias histórias vividas pelos freqüentadores de um salão de baile. Com muita música e dança, os acontecimentos fazem o espectador se sentir dentro da vida pulsante do baile, a trama gira em torno de Marici (Cássia Kiss) e Eudes (Stephan Nercessian), que vão juntos ao baile. Marici faz amizade com Bel (Maria Flor), uma jovem "estrangeira" que namora o rapaz que cuida do som, Marquinhos (Paulo Vilhena). Eudes tira Bel para dançar, o que provoca reações diversas. Enquanto isso, Alice (Tônia Carrero) e Álvaro (Leonardo Villar) enfrentam as limitações da idade, sem abandonar o salão. Elza (Betty Faria) chega excitada ao baile, cheia de expectativas e com uma amiga de primeira viagem a tira colo - Nice. A libido de um par de dançarinos de tango quase transborda a tela; duas mulheres (a esposa e a amante) duelam pelo mesmo dançarino; um gordo dança sozinho; o garçom costura tudo, como quem usa linha e agulha. Sutil, empolgante e feminino, o filme, aos poucos, faz o espectador se sentir íntimo dos personagens e dentro do salão.

*fragmento do meu comentário no poema de Raimundo Antonio de Souza Lopes, Saudades de Ti.