(Munich e Paradise Now). Nosso Tempo ou A violência da Munich brasileira.
Durante a segunda semana das Olimpíadas da Alemanha Ocidental em 1972, um grupo extremista palestino denominado “setembro negro” invade a vila olímpica e mata onze membros da equipe israelense, mantendo outros nove como reféns. 900 milhões de pessoas em todo o mundo acompanham o atentado que resultou num trágico massacre, 21 horas depois, com o anúncio da TV: “estão todos mortos”.
O ataque sem precedentes desencadeou mais um ciclo de violência absurdo. Os jogos de Munich, até então chamados de “Olimpíadas da Alegria”, entrariam pra história, como mais um capítulo sangrento dos conflitos entre árabes e judeus.
Seguindo a cartilha do olho por olho, dente por dente, o governo israelense recruta um grupo de agentes do Mossad, o serviço secreto, para procurar e executar os responsáveis pelo ataque.
“Munich” (cinco indicações ao Oscar desse ano sem ter levado nada) conta a história deste “troco” dado pelos judeus. Steven Spielberg, diretor do filme, não esconde a vontade de realizar um “quase documentário”. Não esconde, mas também não a alimenta o tempo todo. O roteiro muito criativo permite a invenção de fatos e situações que, no entanto, não arranham a verdade.
Mas, é bom ressaltar que, Spilberg, é o mesmo comovido diretor de “A Lista de Schindler” e nem podia ser diferente: Ele é judeu. E quem sou eu para acusar seu filme de racista como se vem fazendo por ai? O máximo que se pode admitir é que é um filme desagradável. Sim, é bastante desagradável... E não é nem pela parcialidade (que isso qualquer coisa é), mas sim pelo fato mostrar que violência e intolerância não são meros conceitos, ilações de nossas mentes, mas realidades, dia após dia, esfregadas em nossa cara.
A realidade, hoje em dia, é isso mesmo: absurda, indigesta e dói (será que ainda dói?). O que? Não concorda? Então me diga se não dói no coração encontrar recém nascido boiando numa lagoa? Como engolir que sete bandidos assaltem um quartel? Diga-me o que o exército brasileiro faz ocupando os morros do Rio de Janeiro? Diga-me, pelo amor de Deus (?), se é ou não é absurdo, policial extorquir empregada doméstica? 90 Reais!!! E, ainda por cima, com hora marcada!!! E isso pra não falar da política... ah, a política!
Como diria Chico: a coisa aqui tá preta! Mas esse preto não é só verde-amarelo e tem muitas outras tonalidades...
Voltando ao cinema – e pra não ficar só no Brasil –, em “Paradise now” (que concorreu ao Oscar para melhor filme estrangeiro desse ano), por exemplo, Hany Abu-Assad utiliza muito bem os matizes do ódio racial, do extremismo religioso e do terrorismo se valendo da fé e da ingenuidade do povo, para pintar outra faceta do quadro terrível que é a realidade. Mais uma vez, árabes X judeus; mais uma vez, um filme terrivelmente excepcional.
Dessa vez a história é de dois rapazes absolutamente comuns que poderiam ter qualquer nacionalidade ou religião e que, com pouca coisa a fazer, passam a maior parte do tempo conversando, rindo, se drogando, amando... E quem poderia supor que jovens assim se preparam anos para uma missão suicida? Pobres jovens-bombas: querem o paraíso. Mas já não acreditam na idéia de construí-lo por aqui mesmo. E ai? Qual a saída? Um absurdo, não? Mas quem sou eu pra criticar, não é verdade? E depois, Yoga no hindu dos outros é incenso!
É. “Este é tempo de partido, tempo de homens partidos” , uns de um lado, outros de outro... São tantos lados... Patrões e empregados, “sem-terras” e “com-terras”, policiais e traficantes, esquerdas e direitas, certos e errados, pretos, brancos, amarelos e vermelhos (azuis com bolinhas cor-de-rosa, que seja!), Judeus matando palestinos, palestinos dispostos a morrer para matar alguns judeus...
E agora José? E agora?!!!
Como escutei alguém dizer na TV: filmes terríveis, falando do mundo terrível em que vivemos.
Enfim, assistir os dois filmes bem pode ser um belo exercício dialético. A síntese? Sei lá da síntese!
(publicado em:http://www.portalcultura.com.br/clube/cinema/)