Woody Allen à grega. (Match Point)
Entediado com todo o “skindô lê lê, skindô lá lá” dos dias de Momo, não pensei duas vezes em dizer um eufórico “sim” quando convidado a ir ao cinema mesmo sem saber que filme estavam exibindo. “O último filme do Woody Allen” - me disseram já na fila pros ingressos. Pensei comigo: vai ser bom saborear aquele fino humor nova-iorquino e a atuação de Allen que é sempre uma graça... Coisa nenhuma...
“’Match Point’ – ponto final” O último filme de Woody Allen que estreou no Brasil agora em 17 de fevereiro, não tem Woody Allen como protagonista nem tem Nova Iorque como cenário e, pra esculhanbar geral, é um baita de um drama, na verdade uma tragédia grega. Um Wood Allen realmente mudado, eu diria... até o jazz ficou pra trás: no lugar dele uma ópera soturna matizando a trama. Frustração? De jeito nenhum. O filme é interessantíssimo.
A história gira em torno de Chris Wilton (Jonathan Rhys-Meyers), um ex-jogador profissional de tênis que acaba de chegar na Inglaterra para se tornar instrutor num clube de ricaços, lá ele faz amizade com um de seus alunos, Tom (Matthew Goode). Este, o apresenta à família, que fica fascinada com o seu gosto pela ópera e pelas artes. As portas se abrem definitivamente à Chris, quando ele se casa com a irmã de Tom, Chloe (Emily Mortimer). Mas ao cair em tentação com a bela noiva plebéia do amigo, Nole (Scarlett Johansson) – uma americana aspirante a atriz que transpira sensualidade – pode pôr todas as suas “conquistas” a perder. A solução pra enrascada em que ele se mete é surpreendente.
Sofisticado (e ai percebe-se o bom e velho Allen), o filme contém citações a Dostoiévsky e Shakespeare, óbvias inspirações, além de uma visão irônica, elegantemente sutil, sobre ambição, adultério, crime e o acaso.
O acaso... Na verdade, há um fatalismo, digno de Sófocles em “Édipo Rei” (também referenciado no filme), que permeia cada cena e que condena a todos a cultivar, sob o fino véu da felicidade, numa dúvida interior dilacerante... O acaso... A fortuna e tragédia... Destino e escolha... Sim, o filme questiona o papel da sorte nos rumos que a vida pode tomar.
“Num jogo de tênis, a bola bate em cima da rede; durante um quarto de segundo, ela pode cair para um lado ou para o outro da quadra. Com um pouco de sorte, cai para o lado adversário e você ganha o jogo. Mas também pode cair no seu lado, e então você perde.”
O filme parece estar caindo “do lado certo” da rede, pendendo para a preferência do público e da crítica especializada, tendo recebido 4 indicações ao Globo de Ouro, nas categorias de Melhor Filme - Drama, Melhor Diretor, Melhor Atriz Coadjuvante (Scarlett Johansson) e Melhor Roteiro; uma indicação ao César de Melhor Filme Estrangeiro; e para o Oscar de Melhor Drama; além de ganhar o Goya de Melhor Filme Europeu. Até mesmo nos EUA onde o diretor não é visto com bons olhos, “os críticos estão caindo em si” como disse o próprio Allen Em entrevista ao jornal nova-iorquino Daily News.
O acaso... Obviamente, tratando-se de Woody Allen, “acaso” não seria a melhor palavra pra explicar o sucesso.
Por acaso, o filme não estreou ainda em Belém; a previsão é que até março o filme entre em cartaz na mangueirosa, mas quem quiser conferir algo mais até lá pode acessar o site: http://www.dreamworks.com/matchpoint/ .
(Publicado em: http://www.portalcultura.com.br/clube/cinema/index.php)