“Fogo que arde sem se ver”? Sei, sei... já te digo que “fogo” é esse... (Sexo com Amor)
Sexo. Ô “teminha” infalível esse... é, pra dizer o óbvio, algo universal. E talvez seja por isso que, exatamente, ele tenha sido o ponto de convergência escolhido por Boris Quércia para congregar (melhor seria “tangenciar”) outros assuntos como a da educação dos jovens, da (in)fidelidade, crises conjugais, homossexualismo, em “Sexo com amor”, (Chile, 2003) uma comédia de “algumas gargalhadas e muitos risos contidos”, ganhadora de diversos prêmios internacionais.
Luisa (Sigrid Alegria) é uma professora encarregada de ministrar educação sexual para os alunos do primário, e pra tanto, deseja conhecer quais as concepções que os pais têm do assunto – temos ai nada mais que um pano de fundo...
O filme, na verdade, conta, de forma bem humorada, a história de (pelo menos) 3 casais e suas respectivas experiências sexuais.
O primeiro é formado pela própria Luisa, que apesar de namorar um pintor (que segundo ela faz o tipo “infantil demais pra mim”... Ah, mulheres e a eterna vocação materna...) se envolve com um dos pais de aluno, Jorge (Patricio Contreras), escritor, romântico, que crê que sexo com amor é “a junção perfeita entre o corpo e a alma” e busca isso não sem certa dose de hipocrisia – a meu ver – e que, estando à beira de um divórcio tenta manter o melhor de dois mundos: o de solteiro e o de casado.
O segundo casal, mais jovem, está na expectativa de seu segundo filho. Alvavo (Alvaro Rudolphy), pra quem sexo em nada tem a ver com amor – o que até explica todo o carinho que tem para com sua esposa Elena (Cecilia Amenábar) a quem diz amar – enfrenta o "dilema" de gerenciar suas parcerias sexuais ao longo da semana.
No terceiro e, sem dúvida, mais cômico de todos os casais, temos o próprio diretor do filme (Boris Quércia) fazendo o açougueiro Emilio – que apesar da profissão, parece não entender lá muito bem dos problemas da carne – e sua esposa, Macarena (María Izquierdo), enfrentando algo como um bloqueio psicológico (bastante justificável até...) que os impede de ter relações sexuais... a coisa complica quando uma sobrinha um tanto quanto ... é ... digamos... “complacente” chega da Europa... e esses europeus, já viu, né... todos “muito pra frente” como diria uma tia minha...
Sexo, sexo, sexo... e cadê o amor? Perguntariam alguns. É... para os espíritos mais românticos realmente vai ser um pouco difícil vislumbrar aquele sentimento perfeito, cantado por Camões e uma pá de poetas (mas não só eles) que ao longo dos séculos formaram (mas não eles, insisto) nosso arquétipo de amor.
Teve uma amiga minha que, no término do filme, foi categórica: Égua! Esse filme é uma putaria só! (pode escrever putaria aqui? Ah! já foi...)... e não se entenda aqui putaria como sinônimo de pornografia... não, o filme não é pornográfico e nisso, penso eu, mesmo a mais puritana das criaturas, desde que dotada de alguma sensatez, concordaria. Ainda mais se comparado a algumas novelas que passam por ai... bom, deixa pra lá...
O fato é que o amor, despido de algumas sobrecargas oníricas – é bem verdade –, está lá... mesmo que “em segundo plano” - o que?! Amor, o mais nobre dos sentimentos, em segundo plano? É isso mesmo: segundo plano pra ele, sem choro nem vela!
E assistindo a película, tive mesmo a impressão de que se quis por alguns pingos nos “is”, a exemplo do que ocorre com a badalada composição do Arnaldo Jabor, cantada pela Rita Lee.
Sexo é do bom e amor é do bem.
Sexo, com amor? Não necessariamente.
Se é melhor ou pior com amor, também não foi a preocupação do diretor, acredito eu.
Sexo, com ou sem qualquer coisa, é sexo e isso já é um universo muito vasto.
Amor? Sei lá... amor é outra história... muito mais complicada, por sinal...
Bom, é isso: assista, relaxe e aproveite!
(Publicado em: http://www.portalcultura.com.br/clube/cinema/index.php)