"Instinto Secreto" (Mr. Brooks)
"Instinto Secreto" (Mr. Brooks)
Pensa um pouco. Sexta à noite, você na locadora, realmente no intuito de assistir algo que preste, você enxerga bem, mas esqueceu os óculos, às vezes eles são necessários, nem sempre, são para pequenos detalhes, e sua visão periférica captou um troço chamado “Instinto Secreto”. Pronto. Passou batido. Acho isso uma safadeza. Kevin Costner, Willian Hurt e Demi Moore, e o Kevin ainda de produtor, em suma, o povo ali, ralando para fazer uma película íntegra, com título original de “Mr. Brooks”, e um gaiato vem e rotula chamando de “Instinto Secreto”. Fim de papo. Ora...Ora que melhora. Quem sabe para a cultura tradutória.
Afinal é sexta noite. Mudando o ângulo, você trabalhou a semana inteira, mas, digamos que justo nesta sexta seu foco esteja em coelhinhas da playboy com pouquíssima roupa, umas velas pretas e umas galinhas, porque afinal, “Instinto Secreto”, e, zás, você dançou. Porque não é o estilo do Kevin nem do Willian. Eu sei, a Demi fez “Striptease”, mas olha, foi uma fase, passou. Assim, nenhum freguês é poupado. O que mirava em coelhas achou entretenimento de Valor, e frustrado ficou. Aquele que procurava um entretenimento de Valor, mas estava sem óculos, viu o título em letras graúdas, fez o sinal da cruz e perdeu o programa. Ou no mínimo, um bom filme. Se bem que, tudo indica, os gringos não gostaram muito. Essa é uma outra questão de Valor, do que os gringos gostam. De acordo com a jornalista do “The Guardian”, vamos saber quem são os gringos depois da eleição.
Mr. Brooks é o ideal idealizado e consumado – empresário de sucesso, o carro, a casa, a esposa, a empresa, tudo no azeite, mas, ele tem pequeno desvio. Nada demais. Uma bobagem.
Ele sente um prazer inenarrável ao mandar os irmãos para o além. Trata-se, na verdade, daquilo que os especialistas chamam de obsessão-compulsão.
Kevin Costner perfaz o Mr. Brooks. Colocando de lado o “Water World”, a compulsão do Kevin é fazer bem feito, e as pegadas da carreira dele nas areias da Califórnia já adentraram no campo do irretorquível, desde o “Campo dos Sonhos”. Redundando, tá bem no papel.
Willian Hurt é que nem a dupla João Bosco e Aldir Blanc, ou seja, não tem erro. Aqui, ele faz o alter ego do Mr. Brooks. Palavra que eu nunca vi esse negócio de alter ego, seja no cinema, teatro, televisão, funcionar sem ser maçante, piegas ou fora de contexto. Não sei como fizeram para que isso funcionasse tão bem, em “Mr. Brooks”.
Quesitos de roteiro e direção, decerto, assinados por Bruce A. Evans, longa data na estrada como roteirista (“Conta Comigo”), curta como diretor (esse é seu segundo filme), mas que ele acerta com o alter ego, acerta.
Demi Moore, ano passado, fez um filme chamado “Flawless”, com o Michael Caine, onde ela finalmente “re-mostra” a que veio. Em “Mr. Brooks” é apenas um rosto conhecido, num papel conhecido, procurando um assassino desconhecido. Pode ficar sossegado(a) que a película está longe de ser sanguinolenta. Tampouco é uma comédia.
Além de um alter ego personificado pelo Willian Hurt - e a dupla vale o filme - Kevin/Brooks tem um probleminha à toa, ele até que conseguiu ficar um tempo abstêmio, mas dizem que a carne é fraca, e o fraco do Brooks é cemitério. Não pra ele, pros outros.
Não é um filme à toa.