Volta, Anakin!
(Matéria publicada no jornal Consceg-indo, editado pelo Conselho de Cegos da Universidade São Marcos, ano de 2005).
Acabou. Após uma espera muito, muito longa, 30 anos após o lançamento da primeira trilogia, o já consagrado George Lucas encerra a épica saga “Guerra nas Estrelas” em seu terceiro e último episódio “A vigança dos Sith”. Mesmo os fãs que não acompanham desde o começo, mas conhecem de alguma forma a história, se reuniram na madrugada do dia 18 e 19 em 400, das 1900 salas de cinema que exibiram o filme em sua estréia. O momento mais esperado é o surgimento de Darth Vader – aquele com a máscara preta para quem não conhece. Para muitos nada mais é que uma febre neurótica, uma mega-produção hollywoodiana com efeitos especiais e batalhas espaciais que fogem a realidade, uma forma de enriquecer mais ainda o criador dessa saga. Apenas uma curiosidade: mais de 6000 ingressos já estavam vendidos bem antes da pré-estréia. Com certeza foi o filme mais esperado por legiões de fãs, unidos pela paixão.
Li inúmeras matérias, críticas, números, estatísticas, e inclusive artigos que analisam toda a política e religiosidade por trás de “Star Wars”. Na verdade, cheguei a ler uma matéria em que um pastor americano acusa o mundo criado por George Lucas de ter virado um tipo de religião para muitos fãs, que seguem os roteiros como dogmas. Além disso, Tim Kade, da Epic Church (Igreja Épica), no subúrbio de Detroit, estado norte-americano de Michigan, compara a saga dos jedi com as dos apóstolos de Cristo, a luta interior de Anakin Skywalker/Darth Vader com a tentação de qualquer um entre o bem e o mal, e a aventura de se tornar cristão no mundo de hoje à aventura de lutar contra o lado negro da força.
Agora vamos mudar um pouco o foco do assunto. Mesmo que não seja fã, talvez assistir a esse filme traga algumas reflexões importantes, especialmente a corrosão de um homem pelos seus medos e fraquezas, e pelo desejo de querer mais cada vez tornar-se poderoso. O tão falado “Lado Negro da força” talvez nos mostre um ponto fraco dos cavaleiros jedi – guerreiros que lutam em prol do equilíbrio da força e da estabilidade tanto da República como da democracia – uma vez que eles não entram em contato com essa Força, apenas denominando-a de “lado negro”. Mas a dimensão humana é feita do bem e do mal, uma dualidade há muito conhecida. Logo, as dimensões desses homens altruístas que lutam em nome de diversos sistemas existentes na galáxia, ao se absterem do lado obscuro de suas almas, entregam, talvez, uma definida arma para seus inimigos. Ao lutar com o que não conhecem, com certeza não terão a mínima chance de sobreviver. Além disso, temos uma questão política englobada em tudo isso: a República entra em queda quando o Senado, corrompido pelo poder do Chanceler Palpatine (um lord sith,integrante do lado negro da força disfarçado, conhecido como Darth Sidious). O sonho de democracia e liberdade que estava tão próximo fica novamente distante ao ser instaurado o Império Galáctico, uma espécie de ditadura espacial. Ou se está a favor do império, ou se está contra. Para quem viu os filmes, o poder de persuasão do Império está em seu arsenal bélico assombroso. Resumidamente falando sobre esse poder de fogo que o Império possui, a tecnologia e os exércitos são dignos de renome. Isso também nos dá um alerta para o cuidado que devemos ter com os avanços tecnológicos; máquinas e robôs substituindo humanos. Estes, também possuem parte do poder sobre o universo.
Enfim, por mais que atrizes e atores não pareçam bem dirigidos, as câmeras não parem muito, e os robôs atuarem melhor que humanos, sem dúvida o grande George cumpriu seu trabalho e fechou com chave de ouro um sonho de muitos. Tudo bem, eu confesso ser mais um fanático por essa série e entrei nessa paixão aos 11 anos mais ou menos. Mas quem não assistiu, assista a saga completa, mesmo que não goste de ficção, façam esse esforço! Certamente verão algumas das inúmeras questões que, simploriamente, coloquei aqui. Não sou especialista, mas fiz meu melhor. Sem dúvida, irão notar as transformações políticas, sociais e pessoais das personagens, seja da República em Império, de sistemas livres em sistemas oprimidos e de um homem que escolheu ter mais do ser. O preço que ele pagou, seja qualquer um, foi triste, muito triste, mas necessário.