O NEVOEIRO
Direção: Frank Darabont.
Elenco: Thomas Jane, Marcia Gay Handen, Chris Owen, Natan Gamble, Lauren Holden, Alexa Davalos.
Origem/Ano de produção: EUA/2008.
Duração: 126 min.
Se você acha que o novo filme do diretor Frank Darabont é um terror tradicional, desses que fazem a delícia dos adolescentes no mundo inteiro, trago novidades: você errou feio. A princípio, nada leva a crêr que O NEVOEIRO será diferente de tantas outras produções baseadas na quilométrica obra do Mestre do terror Stephen King: numa cidadezinha perdida, uma violenta tempestade destrói casas e carros, derruba postes de eletricidade e deixa em pânico pacatos cidadãos que correm a comprar seus mantimentos no único supermercado da localidade, antes que o desabastecimento os deixe sem ter o que comer. De repente percebem que um estranho nevoeiro desceu sobre a cidade deixando a todos perplexos. Não é um nevoeiro comum, e logo eles descobrem que existe algo de terrível por trás dele.
Tudo muito comum, mas é exatamente aí que o enredo segue outro rumo, que faz de O NEVOEIRO um filme diferente de outros filmes com a mesma temática. Ao invés de basear seu suspense em seres horripilantes ou sobrenaturais, como de praxe, ele aposta em outro tipo de monstro, muito mais terrível e tão perigoso quanto o primeiro: o ser humano.
Sim, os monstros estão lá, por todos os lados: são tentáculos gigantescos e insetos pavorosos de todos os tipos, mas nada chega aos pés do terror causado pelas ações dos grupos que se formam dentro do supermercado. É nesse meio que David Drayton (Thomas Jane), um artista que cria cartazes para filmes de Hollywood, tem que sobreviver e ainda tomar conta do seu filho Billy (Natan Gamble). As coisas já não vão lá muito bem, mas ficam um pouco piores quando a Sra. Carmody, muito bem interpretada por Marcia Gay Harden, uma fanática religiosa sedenta de poder, começa a influenciar as pessoas através do medo. Formam-se então dois grupos antagônicos dentro do espaço claustrofóbico do supermercado: aqueles que querem encontrar uma saída para a situação-limite, e os que pretendem apenas aceitar passivamente a vontade "divina", que se manifesta através da sua "enviada", Sra. Carmody. Cercados por terríveis criaturas e sem saber o alcançe real daquele pesadelo, os habitantes da cidadezinha têm de lutar pela própria vida.
O diretor Frank Darabont entende perfeitamente o universo particular de King. Foi com filmes baseados na obra do Mestre do terror que ele conseguiu suas duas indicações ao Oscar de melhor direção (UM SONHO DE LIBERDADE, em 1995, e À ESPERA DE UM MILAGRE, em 2000), portanto sabia exatamente como traduzir em imagens todas as alegorias imaginadas pelo autor. E ele se saiu muito bem. O supermercado, que serve de prisão e ao mesmo tempo de refúgio aos personagens, representa a sociedade consumista norte-americana e o "American way of life" que eles tanto gostam de difundir mundo afora; os "monstros" que cercam o estabelecimento representam todas as ameaças a esse estilo de vida nos últimos sessenta anos - os nazistas, os comunistas, os terroristas e todos os demais "istas" que já existiram ou ainda virão a existir; e os fanáticos religiosos, liderados pela Sra. Carmody, representam a direita ultra-radical dos republicanos, ou seja, o presidente Bush e seus asseclas, digo, assessores, que sob o pretexto de defenderem os interesses da nação, criam guerras, invadem países e matam inocentes em nome de Deus. Frank Darabont explora com bastante competência o terror que o ser humano pode causar a seus semelhantes, sem esquecer que trabalha em Hollywood. Assim sendo, o filme consegue manter o suspense do princípio ao fim sem apelar para soluções fáceis de um final contemporizador. Aliás, o final... É um espetáculo à parte. Você pode amar. Você pode odiar. Mas não pode negar que o cara tem coragem para terminar um filme daquela forma. Resumindo: Mr. Dara é bont!...
COTAÇÃO: BOM