Orgulho e Preconceito (Pride & Prejudice – 2005 – Joe Wright)

Orgulho e Preconceito (Pride & Prejudice – 2005 – Joe Wright)

É sempre interessante notar como uma obra é adaptada a diferentes meios de expressão. O tipo mais comum de adaptação que vemos hoje em dia é daquela dos livros para as telas. A sétima arte se apropria dos sucessos literários e com isso tenta atingir o público com uma versão diferente da obra. E o mais curioso é que fenômenos de venda como Dan Brown já mostram sinais claros de que a obra escrita está se aproximando da exibida nas salas de cinema.

Mas de todas as adaptações as ditas de época são as que mais chamam atenção. Primeiro por remeterem a um período longínquo do qual temos apenas escritos e nossas imaginações para reconstituí-la.

Infelizmente estamos chegando ao ponto em que a aparência daquela época está se concretizando com uma imagem criada a partir de elementos em comum adotados em todos os filmes que são ambientados no passado. Criando uma falsa idéia de realidade do passado.

É com grande prazer que, ignorando alguns elementos como a perfeita aparência das pessoas que naquela época pouco escovavam os dentes, tomavam banho ou se embelezavam de alguma forma, essa adaptação me soou não real, mas como que estivesse vendo o uma obra literária na minha frente.

Os cenários são bem montados, a reconstituição de época, como tem ocorrido com freqüência nessas produções, é muito boa, a forma de agir e falar são bem estudadas e toda essa lenga lenga técnica que sempre é abordada no comentário desse tipo de filme.

Nesse, contudo, destaca-se o tom fluído do filme, mesmo sendo um pouco lento em alguns casos é perfeitamente visível sua fonte literária. Que esta sim merece crédito pela trama, tão simples quanto possível, um retrato da época, de fato.

Não vemos tramas complexas, subterfúgios para distanciar mocinho e mocinha que no final conseguem superar tudo e terminar felizes. De fato terminam, mas não por um esforço sobrenatural, nem por um trabalho árduo.

O retrato mais amplo contudo respalda em todas as eras e em qualquer sociedade. Como não fazer julgamentos e ser imparcial com alguém que acabamos de conhecer? Seria justo criar uma imagem completa de alguém o qual sabemos apenas pouco de sua vida, seu caráter e tudo o que é realmente?

Nessa obra acompanhamos a vida de uma família, cujo pai e mãe tem que dar conta de cinco meninas. Em um tempo onde mulheres eram um “fardo” para a família a situação não era lá muito boa. Financeiramente também não andavam muito bem, com riscos de perder a propriedade em que moravam.

Enfim uma família normal no meio do século dezoito. Passavam suas dificuldades normais, mas vivam como que felizes, cada um com seu jeito de levar a vida. É quando somos apresentados às escolhas preferenciais da protagonista, esta que vai levar o filme inteiro para aprender e se reconstruir. Elizabeth Bennet (Keira Knightley) é a mocinha que não quer casar por conveniência. Já meio avançada de idade, sendo a segunda na escala, ela se recusa a aceitar uma mera conveniência desejando um sentimento puro, maior, deixando claro que a pessoa com quem quer estar precisa realmente merecer o sentimento dado.

Começamos o filme quando um locatário aluga uma mansão perto de onde a família vive para passar o verão. Pessoas ricas e interessantes, um solteirão, sua irmã e um amigo. E as meninas ficam alvoroçadas pela chance de desencalharem. Naquela época era praxe a irmã mais velha se casar antes que as mais novas, deixando o caminho embarreirado se encalhada.

É então que o solteirão rico se interessa e se encanta pela mais velha das irmãs. No mesmo baile de apresentação Elizabeth conhece o amigo dele Darcy, irrepreensível no papel. Começa então toda uma batalha, psicológica entre os dois gênios, um contido e aparentemente esnobe e ela provocativa mas ingênua.

Ao longo do filme vamos descobrindo mais sobre a personalidade de Darcy e vamos vendo Elizabeth descobrir mais sobre si mesma, descobertas essas necessárias para sua aceitação quanto a toda a situação montada.

Não pretendo esmiuçar cada detalhe da trama, acho que isso é para ser visto, uma analise seria ser redundante. Mas alguns comentários se fazem necessários.

Uma das coisas interessantes é a quebra da utopia do pensamento da protagonista ao longo do filme. Vemo-la caindo mais na realidade e deixando um pouco de lado sua idéia de relacionamento perfeito. Ela se encanta realmente com as virtudes, nem tão nobres assim, do seu par romântico, que a princípio se parecia faltoso quanto as virtudes. Mas com o desenrolar da vida, leia-se trama, vai se mostrando.

Ele é daquelas pessoas virtuosas, mas de extrema reserva, do tipo que não tenta mostrar ao mundo o que tem de bom e o faz só pelo fato de fazê-lo, nem tão nobre assim. Mas uma pessoa íntegra que busca o máximo de virtude dentro das limitações humanas.

Mas o que mais me incomodou na moralidade da situação foi no diálogo final, quando o Darcy fala abertamente para Elizabeth que fez tudo o que fez, coisas ao seu alcance mas que precisaram de boa dose de vontade própria, por ela. Do momento em que ele diz que fez o que fez só pra ficar com a mocinha ele se mostra egoísta e não virtuoso como poderia parecer. Certo de seus sentimentos sinceros amorosos por Elizabeth ele se desdobra para conquistá-la, nobre, mas nem tanto. Ele não se mostra de total virtuosidade deixando o beijo final com um sabor meio amargo.

leandroDiniz
Enviado por leandroDiniz em 13/02/2006
Reeditado em 22/09/2007
Código do texto: T111318
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