Caminho das nuvens
CAMINHO DAS NUVENS
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Caminho das nuvens, mais um filme da família Barreto, narra a história de um casal e seus cinco filhos que saem da Paraíba para o Rio de Janeiro em busca de um ideal/ utópico: conseguir um emprego de mil reais.
O que impressiona é que este percurso, de 3.200 km, é feito de bicicleta. A família submete-se a condições desumanas em busca desse sonho. Realidade e religiosidade mesclam-se numa narrativa que retrata o drama de mais um nordestino, pobre, desqualificado e marginalizado socialmente, que deixa para trás sua família, casa e cidade com o mesmo objetivo. São Paulo fora construída basicamente por estes nordestinos, talvez por este fato, é que “cheira e lembra a nostalgia nordestina em suas ruas” (Wally Salomão).
Ao longo do filme estas duas características – realidade e fé – entram em conflito quando são questionadas pela razão presente no filho mais velho do casal. O filho que a tudo vê, sente e reflete atravessando a utopia como farpas presentes e árduas no meio do caminho. A posição da família – pobre e faminta - faz com que alguns membros desenvolvam algumas atividades, sejam elas artísticas ou até mesmo de sobrevivência, como pedir esmolas, para sobreviverem às suas necessidades precárias e tão animalesca. A mãe ao se deparar em uma cidade do Juazeiro observa que no meio de tantas casas ninguém se prontifica a ajudá-los. Ao ser questionada pelo marido a resposta vem à tona como uma navalha no peito sofrido: “se alguém lhe pedisse comida para o filho que está morrendo de fome, você tiraria da boca do seu próprio filho para matar a fome de um filho que não é o seu?(...) é claro que não”. Mas, prossegue em sua fé e vai beijar os pés do Padre Cícero – figura com importância tal qual a de Cristo para os nordestinos – na esperança de conseguir o emprego tão almejado e dinheiro.
O filme é baseado em fatos reais, mas não chega a ser o melhor dos Barretos. Realidade impressionista já foi abordada em outros filmes como Carandiru e Cidade de Deus, ambos com temáticas sociais e comportamentais, inspirando assim, uma nova maneira de se fazer filmes – comerciais e lucrativos - que se aproximem mais do documentário realista do que o ficcional.
Imitar a vida na arte talvez seja ainda um bom começo para principiantes visionários, mas não para um diretor experiente. O filme peca em não possuir um final. Esteticamente é simples e não possui nenhum grande roteiro. Se há uma filosofia em tudo que é arte, ficou lamentavelmente fora de foco. Talvez a intenção do diretor fosse mais uma vez, mostrar a realidade dura do nordestino sem lenço e sem documento.