O sorriso de Monalisa
O SORRISO DE MONALISA
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O sorriso de Mona Lisa é um filme demasiado humano. Dirigido por Mike Newell, o filme é ambientado na Faculdade Wellesley, a qual é direcionada apenas para o ensino de moças bem comportadas e de boa família, em 1959.
O filme é narrado por Betty Warren, aluna da Faculdade, e possui um tom memorista. A narradora datilografa a história e também é parte fundamental do enredo.
O cotidiano de Wellesley transforma-se com a chegada da nova professora de arte, Katrina Watson, que motivada por novas perspectivas, consegue preencher a vaga na disciplina História da Arte. As dificuldades logo surgem no primeiro dia de aula: todas as alunas do curso sabem de cor o conteúdo programático da disciplina, deixando surpresa a professora, que sem opção e estímulo, se ver ameaçada e incapacitada diante das alunas. Destaca-se aqui, a prepotência do ser humano: mostrar-se inteligente, crítico e detentor do saber. Esse fato vai de encontro às expectativas da professora Watson, cujo objetivo era mudar o mundo, do seu próprio ponto de vista. Esquecemos que a realidade de cada um é diferente para outros. Para Katrina, devemos ser livres para tomarmos as nossas escolhas viáveis e não devemos desistir de sonhos e ideais em prol de uma outra pessoa. Longe de ser um egoísmo, é antes de tudo a razão sobrepondo-se sobre a emoção. Um contra-senso para as alunas de Wellesley, as quais são educadas, principalmente, para serem bem casadas e donas de casa exemplares. Eis a tradição.
O tema é abordado de maneira ríspida pelas alunas, que vêem na figura da professora o oposto delas. A senhora Watson é solteira e casar está fora de seus planos. Ao debater o assunto com uma das alunas, Katrina sugere que a mesma vá para a Universidade de Yale para fazer pós-graduação, alegando ser possível que a aluna se case e não necessariamente tenha que abandonar o curso de Direito, podendo conciliar a vida de casada e de estudante. Valores tradicionais são abordados no filme, tais como: a obediência familiar, a submissão da mulher para manter o casamento de aparências, a infelicidade individual e a aceitação de uma condição que não satisfaz completamente a cada uma delas. Esses valores entram em conflito com outros valores universais: a inveja e o egoísmo.
A arte é apresentada no filme como ponto fundamental de interação entre as alunas e a professora Watson. O que chama a atenção das alunas é a maneira pela qual Katrina expõe o seu ponto de vista em relação à pintura. Picasso, Da Vinci, Michelangelo, Van Gogh, Polloc, entre outros, são caracteres importantes na composição e formação de opinião entre as alunas, que apenas enxergam a arte de forma superficial e não vêm além do que se deve ser visto. Ou seja, com a visão de uma pessoa comum e não a de um artista. Analisar, olhar, falar e criticar são fáceis para quem apenas decora e expõe uma opinião já formada por outros.
Aos poucos a professora passa a ser admirada pelas alunas, que descobrem o seu verdadeiro potencial. E isso incomoda a direção da Faculdade. É preciso antes de tudo, ser tradicionalista e evitar o que seja subversivo. Deve-se ensinar as alunas a terem uma visão do que é belo, porém, sem a crítica. E neste contexto, não há espaço para a arte reflexiva e moderna. O sorriso de Mona Lisa é a metáfora de todo o filme. A pintura de Leonardo Da Vinci serve de análise para Betty de sua própria infelicidade e compreender o quanto vive uma vida de aparência. Atrás do sorriso de Mona Lisa esconde-se toda uma tristeza. É um verdadeiro enigma para que o vê.
Mike Newell finaliza o filme com o retorno da professora Watson para casa. Katrina chega a conclusão de que cumpriu o seu dever. O retorno para casa é a busca de resolver também a sua pendência. Através de suas alunas ela conseguiu enxergar a si mesma e a conclusão de que é impossível querer mudar o mundo se ela própria não mudou.
O sorriso de Mona Lisa é um filme para a reflexão. Deve-se, no entanto, assisti-lo com os olhos de um observador atento a riqueza da arte e não com um simples olhar sobre a tela.