Boa noite e Boa Sorte (Good Night, and Good Luck – 2005 – George Clooney)

Boa noite e Boa Sorte (Good Night, and Good Luck – 2005 – George Clooney)

É com extrema coesão que Boa Noite e Boa Sorte (BNBS) se desenvolve. Com menos de uma hora e meia de duração a película que tem a fotografia em preto e branco acertada conta sem faltas nem excessos um momento crucial da história da política norte americana como também todo o espírito de uma época, a década de 50.

Geralmente quando vemos um filme de curta duração podemos falar que o ritmo apressado poderia comprometer o conteúdo. Porém nesse caso os seus 93 (contanto com os créditos) são tão enxutos e contam profundamente bem o que tem a contar.

O desenrolar da estória foca em Ed Murrow (Edward R Murrow) grande jornalista, que na época pertencia a CBS (Columbia Broadcast System) e que foi considerado um marco como referência de integridade e responsabilidade em seu ramo de atividade.

A situação da época era a de caça aos comunistas e o, então, Senador de Wisconsin Joseph McCarthy usava de meios pouco convincentes para julgar e condenar pessoas de pertencer a partidos comunistas, simpatizar com eles ou até ter pertencido há dezenas de anos atrás. Com isso eliminando e afastando qualquer pessoa que discordasse de seus princípios.

Em momentos de puro medo e denuncismo Murrow vem a frente de seu programa de televisão dar ampla divulgação para os meios tortuosos que o senador está se utilizando e logicamente batendo de frente com ele e seus defensores, ou simpatizantes.

O filme é muito modesto, se retendo em poucos lugares, dentro da CBS, nos bastidores do programa. Em um ou dois bares e na casa de um ou outro personagem. Muito modesto em locações mas lotado de diálogos contundentes e que certamente contribuem para o desenrolar do que é proposto.

A fotografia preto e branca é acertada, primeiro por refletir o espírito da época que quando sobreposta com vídeos reais de arquivo não soam distantes e ajudam a criar um clima de veracidade a tudo o que é mostrado, além de refletir muito mais a tensão na constate fumaça de cigarros, que pareciam ser obrigatórios naquela época.

A direção de George Clooney merece real crédito. Com câmeras posicionadas em cantos, atrás de janelas, abaixo dos atores ele cria um clima de testemunha. Testemunhamos tudo o que se passa ali no background da CBS e sentimos que somos aquele espectador consciente da lambança que nos é escondida, mas que realmente acontece e acabamos simpatizando com a política adotada pelos jornalistas presentes em cena sem que, contudo, parecem esteriótipos de bons homens lutando por uma causa perdida.

Enfim o filme é de acertada mão com uma mensagem bem direta e sagaz, contudo, ao final somos levados a remeter toda a questão exposta ali ao nosso presente e é justamente ao analisar o que passamos agora que a segunda parte da critica se desenrola.

Ao sermos atingidos por grandes documentários que ganham mais e mais divulgação, mas nem tanta visibilidade popular, como Tiros em Columbine, Fahrenheit 11 de setembro, Sala de Controle, A Corporação, Além do Cidadão Kane dentre outros começamos a enxergar a realidade em que estamos inseridos.

Falta um pouco de justiça na nossa difusão de informação. Ao ampliarmos nossa gama de compreensão começamos a visualizar o quão podre é a nossa transmissão televisiva, principalmente a jornalística. Primeiro pela escolha das notícias que vão ao ar e segundo em como elas se mostram para nós.

Seguimos hoje em dia uma linha editorial que parece ser padrão consumado para todas as emissoras. Onde a falta de opinião muitas vezes reflete o espírito político por trás da noticia e em outra a emissão de esse ou aquele comentário rápido, que passa despercebido, acaba influenciando uma idéia pra outro rumo.

A falta de justiça, que em Aristóteles vem como equidade, algo como imparcialidade e igualdade, impera em nossas emissoras. Já que as notícias são editadas e mostradas em seqüências a deixarem o espectador em estado de torpor. Aquilo que se passa não é a realidade em si, mas sim uma ficção real.

Quando vemos um furacão destruindo uma cidade, ou um tsunami devorando litorais aquilo não é noticia, mas sim espetáculo. A dose diária de catástrofes, acidentes, roubos, falcatruas são a principal delícia do espectador que não vê aquilo como real, mas passa a se divertir, ignorar e a não emitir opinião alguma sobre aquilo tudo. Aquilo é só na televisão.

Falta hoje ética e profissionalismo em nossas emissoras. Tais faltas se devem, ou podem se dever, aos patrocínios. Que são os principais influenciados. Ou pode se dar por causa da busca incessante de audiência e massificação da burrice.

Soube por meios extra oficiais que um grande editor jornalista que apresenta um grande telejornal em horário nobre faz seu noticiário para os Homers. Sim, ele compara o espectador base com o Homer Simpson. O cidadão burro, ocioso e preguiçoso. Suas reportagem cortam siglas “difíceis”, tendem a explicar cada coisa básica indiscriminadamente, e buscam da a dose de inutilidade básica diária para eles. Sinceramente me sinto ofendido ao saber que o editor chefe de um jornal de horário nobre me compara ao Homer para fazer sua seleção de notícias.

Falta comprometimento com a verdade e a divulgação de conhecimento em nossas televisões. Como disse a cima a justiça é igualdade, mesmo a de informação, os dois lados tem que estar lado a lado no conhecimento para decidir, para opinar para influenciar o país. Mas o que acontece quando há censuras, há manipulação no que nos é mostrado?

Sinto-me enojado a cada vez que ouço um Boa Noite saindo da boca do casal mais pernicioso para o Brasil a cada final de seu “jornal” que de nacional só tem o nome.

leandroDiniz
Enviado por leandroDiniz em 02/02/2006
Reeditado em 03/02/2006
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