Munique (Munich - 2005 - Steven Spielberg)

Munique

Para liquidar rapidamente o essencial básico e partir para o que desejo falar vou resumir rapidamente as minhas impressões sobre a parte técnica desse que é um dos maiores filmes que já tive a oportunidade de ver sobre a direção de Steven Spielberg, um dos judeus mais famosos e reconhecidos do mundo (comentário esse que terá respaldo ao longo do texto).

Sobre uma direção primorosa Munique é tenso e abrange grande quantidade de informação e não busca analisar o que é passado, mas sim mostrar o problema. Ao longo de suas quase 3 horas de duração não ficamos nem um pouco cansados nem tampouco desinteressados pelos caminhos que o grupo de anti-heróis percorre.

Com mão segura Spielberg mantém o filme até sua tomada final, que é uma das melhores coisas do filme. Aliado a bela fotografia e a estupenda reconstituição de época, cuja deixa boquiaberto cada um que correr os olhos pelas cenas buscando referências setentistas. A trilha sonora sempre contida, mas com certeza eficiente ajuda o clima pretendido. Com uma edição de som que também deve ser mencionada, mas sem méritos, já que isso é quase uma obrigação de um filme na mão de Spielberg.

O roteiro é realmente bem escrito e em nenhum momento, salvo uma ou duas cenas meio forçadas a princípio, deixa escorregar o tema proposto. O foco do filme vai da primeira cena a ultima sem qualquer relaxamento. Quando o filme termina, ficamos engasgados com tudo o que vimos. Não é um filme bonito nem de leve digestão, ele pega fundo na questão que acaba por respaldar em qualquer conflito. O nome do livro que inspirou o filme é propriamente o tema do filme, Vingança.

Começando na trágica seqüência de fatos que ocorreu aos 11 atletas palestinos em 1972 o filme conta o que veio depois, de forma crua e pesada. Nunca tiros feriram tanto quanto nesse longa, eles soam reais, sujos, feios.

Era de se esperar que o diretor tomasse parte de um lado, já que é judeu, mas otimamente vemos os dois lados de uma mesma perspectiva, já que durante a montagem ele consegue, aos poucos, passar a clara mensagem que qualquer que seja o lado e a justificativa nada embasa o fato de haver tais matanças, que só gera mais intolerância e mais carnificina.

No começo vemos pessoas determinadas a se vingarem dos “inimigos” que atacaram os atletas. No decorrer do filme a coisa começa a ser questionada chegando a um nível em que a própria validade de se fazer o que se faz é posta conjuntamente com o outro lado, como todos são assassinos com suas próprias razões.

Um ciclo infinito que se auto-alimenta e se torna pior a cada ciclo, já que contra uma violência há de se rebater com uma maior para impor respeito ou medo. Com isso deixando o conflito eternamente sem solução.

E é com habilidade notável que as questões vão sendo destiladas aos olhos do espectador. Pouco a pouco, e a identificação com o protagonista é essencial para que isso aconteça, vamos vendo a que ponto chega a falta de conhecimento próprio, essa que é suprimida pelos ideais externos, sejam de uma nação, um povo, uma família.

Que no fundo é o cerne do conflito psicológico do personagem. Ao perceber o quanto tem a perder, já que além de uma esposa que ama agora tem um filho, Avner (Eric Bana) vai reavaliando suas prioridades e vendo que aquele conflito que antes era uma vingança simples passa a ser mais um dentre todas as conseqüências que já vinham acontecendo antes e continuarão a acontecer.

Munique não foi de jeito algum um caso isolado, foi uma resposta a alguma atitude árabe anterior que causou conseqüências funestas após seu acontecimento. Mas de jeito algum a sede de vingança para. Em algum momento do filme Avner é perguntado se ele conseguiria parar de matar. E é exatamente essa questão a principal em sua mente. Como esquecer o que aconteceu com seus compatriotas e ao mesmo tempo não alimentar tal ciclo de carnificinas?

Mais uma vez ressaltando a veracidade, a crueza e a habilidade nata de diretor para que nesse filme tudo ficasse muito bem mostrado de forma artística mas o mais perturbador possível. Não vemos ali mocinhos e bandidos pré-formados ou de fácil identificação. Temos pessoas que parecem perdidas, mas cheias de confiança e justificativas para fazer o que fazem. E isso é que é perturbador. São pessoas! Humanos fazendo aquilo. Não é um mero filme, aconteceu!

Fiquei com certo receio de que Spielberg fosse amarelar e fazer com que o publico não precisasse tapar os olhos com as mãos de vergonha. Mas foi justamente onde estava errado, e com grande satisfação. Considero um dos melhores filmes do cineasta com louvor.

Só deixando aqui, pra constar, um informe sobre a qualidade geral do elenco. Um grupo excepcional de atores que garantem o filme sem que consigamos estabelecer critérios de melhor ou pior interpretações, em níveis fáceis e perceptíveis.

Um dos melhores filmes do ano desde já, e olha que estamos em Janeiro.

leandroDiniz
Enviado por leandroDiniz em 28/01/2006
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