A PAIXÃO DE CRISTO

A PAIXÃO DE CRISTO

FLAVIO MARTINS PINTO

Mel Gibson poderia ter contado as horas finais de Jesus Cristo com menos sangue. Mas o seu relato está fiel ao que consta em todos os escritos sobre os últimos momentos daquele que veio dar sua vida em troca da remissão dos pecados terrestres.

Parece que o grande ator hollywoodiano gosta de sangue e relembramos Coração Valente e também Todos Fomos Heróis, como exemplo, filmes nos quais desempenha o papel de guerreiro, comandante, chefe e líder. Jesus Cristo também foi um guerreiro, mas um guerreiro sem armas que procurava conscientizar a população que as Virtudes deveriam ser a bússola da vida, do amor ao próximo, do perdão, da crença na reencarnação como continuação da vida terrestre. Suas armas eram o seu exemplo em atitudes, que diuturnamente transmitia aos seus seguidores e sua sabedoria a cada palavra e ato que participava. Não deixava nada em branco, nada sem resposta.

Confesso que foi difícil assistí-lo, mas a cada momento lembrava, como a me martelar a cabeça, que a verdade é dura, mas temos de aceitá-la. Custe o que custar.

Não podemos ver o filme com os olhos do séc XX com Direitos Humanos, etc...e sim com os daquela época onde a pena de crucificação era normal no Império Romano e com requintes de humilhação.

A surpresa para quem vai meio desarmado de espírito é a extrema brutalidade com que Jesus Cristo é tratado. Acostumamo-nos com os filmes de bang-bang, e até os orientais atuais com pancadas para todo lado, com o mocinho apanhando e no fim, acerta um direto no bandido e vence a luta. Neste caso, Jesus leva a pior. Sabíamos que levaria a pior, mas no fundo sempre havia uma esperança de, ainda vivo, mostrar algo superior aos seus algozes. A nossa mente condicionada aos filmes de mocinho-bandido aguardava um final feliz que sabíamos que não viria.

-“ Pai, eles não sabem o que fazem” frase histórica de Jesus Cristo que, em belo e bom som, reconheceu toda a maldade a que estava sendo submetido, mas ao mesmo tempo perdoava aqueles que as praticavam. Esta foi a resposta de Jesus Cristo ante um inimigo que o acusava, atacava, surrava, o ensangüentava. Para seus acusadores valia menos do que um fora da lei reconhecido- Barrabás.

Mel Gibson nos apresentou uma relíquia de filme, uma verdadeira lição de uma obra irretocável na montagem, seqüência de cenas, cenário, costumes, guarda roupa, música e diálogos. Neste, eu me dei mal, pois costumo evitar ler as legendas, mas em Aramaico....nem sei o que diziam e se era correta a tradução. Só sei que em alguns momentos nem os escribas do filme “pegaram” o que os atores diziam, pois não havia legendas nem em inglês nem em português.

Independente disto tudo e a despeito da violência sofrida, a mensagem de Cristo divulgada naqueles momentos dramáticos e pelo Cristianismo mundo afora, encontra amparo também em outras religiões, considerando que todas possuem pontos comuns, do Cristianismo ao Islamismo, passando pelo Hinduímo, Judaísmo, Budismo e Espiritismo.

Jesus era de fato um Avatar, uma divindade que desceu á Terra para iniciar e fechar uma Era. Com Moisés, Krishna, Maomé, Zaratustra, voltarão no fim dos tempos para dirigir a Humanidade no caminho da paz e da salvação. Assim pregam suas religiões. Dizem os hindus que o Sermão da Montanha contém uma síntese dos 9(nove) upanishad, as máximas da religião hindu e, de acordo com o Islamismo, Cristo anunciou a vinda de Maomé. Os espíritas o vêem como um espírito do mais alto nível enviado á Terra com os padrões éticos e morais necessários para a evolução espiritual. Mensagens que ele nos transmitiu mesmo em uma situação totalmente adversa. E, pelo que consta, foi o único atacado ferozmente e por sua própria gente.

Por sublime ironia, os romanos que perseguiram cristãos e os mataram em espetáculos públicos e ainda foram encarregados da execução de Cristo, hoje acolhem sua Igreja e seu representante máximo-o Papa. Já os judeus ainda parecem carregar sua cruz.

E é por aí que temos de encarar e receber as mensagens e olhar A Paixão de Cristo. A não ser aquele ateu que nada viu além da brutalidade, e que achou um horror. Claro... Então, tá.