O CORTIÇO
Direção: Francisco Ramalho Jr.
Elenco: Armando Bógus, Betty Faria, Maurício do Valle, Mário Gomes, Ítala Nandi, Beatriz Segall, Antônio Pompeu.
Origem/Ano de produção: Brasil/1977.
Duração: 110 min.
Baseado no clássico romance do maranhense Aluísio de Azevedo, a segunda versão desse marco do naturalismo brasileiro ficou a cargo do diretor, roteirista e produtor Francisco Ramalho Jr., que mais tarde seria o responsável por produções de sucesso como DAS TRIPAS CORAÇÃO, O BEIJO DA MULHER-ARANHA (que, inclusive, concorreu a três Oscars, tendo vencido na categoria melhor ator, com Willim Hurt) e, mais recentemente, O CASAMENTO DE ROMEU E JULIETA.
O filme narra a vida miserável dos habitantes do cortiço de João Romeu (Armando Bógus), português ambicioso que, no Rio de Janeiro do final da monarquia, amazia-se com uma escrava fugitiva para tomar conta da sua quitanda e das suas economias. Tentando enganar a ex-escrava, ele falsifica uma carta de alforria para que a ela tenha a ilusão de que é livre de fato, quando, na verdade, é totalmente escravizada por ele e tem que trabalhar horas seguidas e ainda entregar todo o dinheiro que consegue em suas mãos. Com o dinheiro conseguido, ele começa a construir o cortiço, num pequeno pedaço de terra que logrou comprar. Primeiro três casas, depois muitas outras, graças ao trabalho da ex-escrava, que, apaixonada, deixa-se explorar sem perceber que João está interessado apenas em seu dinheiro e em seu trabalho.
Com o sucesso da empreitada, João Romão prospera. Moradores não faltam para habitar seus cubículos e ele começa a juntar dinheiro, ambicionando um futuro igual ao do rico Miranda, seu vizinho (Maurício do Valle), homem de posses, porém, desprezado pela esposa por não ter nascido em berço de ouro. Com poder e prestígio, Miranda, um árduo defensor do Império, acaba por conseguir o título de Barão, despertando mais ainda a inveja de João Romão.
Com o crescimento do cortiço, as mais variadas personagens começam a transitar pela história, sendo a principal delas Rita Baiana (Betty Faria), mulata assanhada e festeira, alegria dos marmanjos do lugar. Mesmo morando com Firmo (Antônio Pompeu), capoeirista, sambista e malandro carioca, a mulata desperta a paixão de um outro português, Jerônimo, recém-chegado ao Rio de Janeiro, cuja esposa logo percebe que algo está acontecendo entre Rita e seu marido. Ela aceita o jogo de sedução da mulata, pois tem medo de perder Jerônimo, por isso prefere fazer de conta que nada percebeu.
Temos também outros personagens inesquecíveis, como Machona, a mulher que tinha "filhos que não se pareciam uns com os outros", Pombinha, a prometida que não podia se casar porque ainda não havia menstruado pela primeira vez, sua madrinha, secretamente apaixonada por ela e que a desencaminharia no futuro.
Num encontro casual, na Caixa Econômica, o Barão Miranda descobre que seu vizinho tem uma quantia considerável aplicada, e começa a vislumbrar um ótimo casamento para sua filha. O único empecilho é Bertoloza, a ex-escrava fugitiva e amázia de João Romão. Ele, homem sem escrúpulos, concebe um plano para se ver livre da mulher que o tinha sustentado com seu dinheiro e seu trabalho, que culmina com a morte da ex-escrava.
O romance entre Rita Baiana e Jerônimo caminha para o seu desfecho trágico quando Firmo, enciumado pelas atenções que a mulata parece dispensar ao português, resolve lavar sua honra com sangue, mas não é bem sucedido, permitindo a Jerônimo se vingar de forma mais efetiva: ele assassina o capoeirista, mas é visto pelos amigos deste, que tomam o corpo e começam um quebra-quebra no cortiço. Em breve, um incêndio terrível consome todas as casas, para o desespero de João Romão, que tenta inutilmente apagar o incêndio. Somente mais tarde ele vem a se lembrar que havia feito um seguro na Caixa Econômica, o que lhe garante o reembolso de uma quantia considerável e a reconstrução do cortiço.
Rita Baiana vai morar com Jerônimo, mas não dura muito tempo: em breve, o português se cansa da mulata e acaba voltando para os braços da esposa.
Na cena final do filme, vemos João Romão e sua jovem esposa saindo para a lua-de-mel, sob os olhares orgulhosos do Barão Miranda e de sua esposa, quando chega a notícia da proclamação da República, e todos os moradores do cortiço comemoram, mesmo sem saber direito o que isso significa. Como na vida real, a falsa aparência de uma falsa burguesia sai fortalecida, os ricos ficam mais ricos e só resta aos pobres cantar e dançar, para esquecer da própria pobreza.
COTAÇÃO: REGULAR.