Redação e textualidade
Val, Maria da Graça Costa. Redação e textualidade. 2ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
Segundo o dicionário Aurélio, redigir significa: escrever com ordem e método; exprimir-se sintaticamente por escrito. Partindo dessa definição podemos dizer que o ato de escrever assume características próprias para a transmissão de informações organizadas numa estrutura que deve ser pensada na ralação entre um objetivo estabelecido e uma seqüência ostensiva e ordenada. Dessa forma, é posto, a princípio, duas possibilidades que deve completar-se no ato de escrever; a estrutura ou a “ordem metódica” e uma visão de mundo que deve ser anterior ao processo de criação textual.
Neste livro (redação e textualidade) Costa Val expôs de forma bem clara e lúcida uma série de características imprescindíveis que por sua natureza devem estar presentes não somente na mente do leitor, isto é, daquele que analisa o texto, mas também em todos os momentos do processo de criação textual.
Trata-se evidentemente de uma análise que em seu necessário processo de observação procura estabelecer a partir de seus elementos intrínsecos toda a vitalidade e relevância do texto. De fato, um texto dissertativo se constitui de elementos necessários e objetivos. Esses elementos – segundo a autora – podem ser definidos como continuidade, progressão, não-contradição e articulação.
A continuidade, como já está explicito no termo, se constitui da retomada de elementos no decorrer do discurso. Não se pode pensar, portanto, num texto sem estabelecer que em toda a sua estrutura deva haver uma ligação causal.
Não se confundindo com uma mera repetição, a progressão pode ser definida como a retomada de elementos conceituais e formais da dissertação aumentando o enriquecimento da argumentação numa abrangência mais pertinente da realidade.
Quando se vai analisar a idéia de não-contradição num texto não é correto partir apenas de seus elementos constituintes, mas da realidade subjacente anterior a todo o processo de argumentação. É nesse sentido que se pode afirmar que um texto dissertativo pode ser contraditório não somente no aspecto estrutural de seus elementos intrínsecos, mas também nos elementos no mundo a que se refere. A não-contradição refere-se a características que não deve se contradizer no decorrer do texto.
Quanto à articulação, segundo a autora, se constitui a partir da relação entre as idéias expostas no texto.
Esses elementos asseguram, indubitavelmente, a coesão e a coerência. Um texto correto, preciso e bem concatenado resulta de um pensamento organizado, ao qual se somam a capacidade para aproveitar os recursos expressivos da língua e a interpretação analítica da realidade.
Na análise realizada por Costa Val, se observarmos atentamente veremos que fica bem nítido que a linguagem não é somente reflexo determinado do mundo, não é apenas manifestação exterior de um pensamento íntimo pré-elaborado. A linguagem informa, torna possível e mesmo produz algumas espécies de pensamento. Ao escrevermos, fazemos da linguagem nossa conquista maior, combinando as impressões dos sentidos, a vivência pessoal e o pensamento crítico.
Para aperfeiçoar o exercício redacional, devemos aguçar a capacidade de interpretação, o espírito questionador e analítico, bem como o desprendimento para criar e inovar.
Posto tudo isso, pode-se dizer que este livro é de fundamental importância não somente para leitores que buscam critérios mais seguros e objetivos, mas também pra todas as pessoas que escrevem de uma forma geral, em especial textos dissertativos. Qualquer que seja a modalidade redacional, sua finalidade é concretizar a comunicação de idéias (conteúdo), valorizadas por uma expressão estética da linguagem (forma). Não basta, pois, saber o que escrever, mas como escrever.