A Simplicidade do Bom

“A Simplicidade do Bom”

Acordei. Vou direto ao banheiro. Eu sei que todo mundo tem um pouquinho de merda dentro de si. E até na cabeça. Sento-me, junto com meu fiel jornal local e despejo os resíduos e faço uma leitura cotidiana. Já sinto-me mais leve e feliz.

O despertar é ligação de neurônios desconectados. Façamos sempre bons contatos logo cedo.

Café-da-manhã bem generoso. Ovos, pão, manteiga de amendoim, vitamina de banana ou abacate, ou mamão. Café com leite, sem açúcar ou adoçante. Olho pra fora, se o dia é lindo – como a maioria das manhãs goianas – vou de moto. Só de ligar a bichona e ouvir seu roncado, eu vibro. Como ela. Se a cirurgia é um pouquinho mais tarde, vou de bicicleta. O vento no rosto é fundamental para renovação espiritual.

Comer bem na primeira refeição é fundamental. A máquina humana depende de glicose.

Chegando ao destino, seja ele qual for: aula, cirurgia, ginástica, reunião, consultório de gestantes... invariavelmente a saudação é a mesma...

- Bom dia!

Com muita ênfase. Com muito carinho, com muito amor. E um olhar bem nos olhos dos meus interlocutores. Um sorriso é fácil de se dar. Um pequeno encantamento me envolve nessas horas. Nada de mais.

Sorrir é mágica facial. Abre portas, abre corações, abre almas de olhos sãos. Sorria.

Adoro meu trabalho, então ele é sempre fonte de prazer. Teço um equilíbrio entre a atividade médica, a literária e a desportiva. Não de tempo. Mas de prioridades e momentos. Simples, não?

Quem não faz o que gosta, faz mal feito e faz errado. Deixe de lado o ganho, o supérfluo e se entregue no trabalho árduo que lhe dá retorno emocional. O trabalho dignifica o homem.

Almoço com a família, piadas. Sem correria. Almoço é reunião. Cochilo sagrado de 15 minutos. Braços cruzados. Barriga pra cima. Gestante ligando. Amigos combinando a noite. Coisas lidas e ruminadas. E eu só divagando. Só relaxando.

O meio do dia foi feito para ser quebrado, para uma pausa de guerreiro.

Levanto-me solenemente. Um perfume, uma gravata colorida, um telefonema de afeição para quem sofre. Se de carro estou, coloco músicas ao léu. E canto, canto desafinado, mas canto alto. Vou devagar. Sem pressa. Os caminhos sempre podem ser proveitosos.

Rotinas prazerosas, pequenos enfeites pessoais, nos renovam.

No trajeto as quaresmeiras em flor. A sibipiruna cheia de folhas, a enorme paineira – a barriguda – verde como nunca, já que estamos em janeiro. Chove. Chover me dá vontade de fazer amor. Antes mesmo de amar, de beijar, beijar infinitesalmente. E abraçar. Abraçar como cobra aquática, longo e forte. Ficar enrolado a tarde toda. Imaginar também é bom.

Quanta coisa está a nossa volta e nunca reparamos? Inclusive pessoas? Faça sintonia fina. A música será incrível.

Perguntem-me se eu não tenho problemas? Claro que sim! E muitos. Dos graves, dos de decidir o rumo da vida que levo. Mas e daí? Impedir-me-ei de ver o pôr-do-sol alaranjado de Goiás? Deixarei de gritar a plenos pulmões saudando meu time de pólo-aquático? Ou de chegar com fome e molhado ao cinema e dentro da noite, profunda noite; amar?

Dentro de cada um de nós mora um leão. Uma força da Natureza. Solte-a.

Nada disso. Rememoro com prazer meu dia passado. Leio Dante e vejo que o inferno são os outros. Na minha escrivaninha, teclo suavemente. A brisa de chuva entra afiada pela porta da varanda. Eu a abro ainda mais. Um estrondo. Dá vontade de dar um corridinha. Assim, de madrugada. Vou. Pois sei que meu destino maior, me espera de braços abertos.

O amor move o mundo da simplicidade. Simplesmente, ame!

JB Alencastro

JB Alencastro
Enviado por JB Alencastro em 30/01/2008
Código do texto: T840049
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