A nova humanidade (Huberto Rhoden)

A nova humanidade

No dia 29 de março de 1977, Huberto Rohden iniciou seu curso sobre a "Nova Humanidade" abordando o fascinante mistério do Gênesis. Rohden começa citando o renomado cientista francês Teilhard de Chardin, que propôs que a humanidade evolui por meio de quatro estágios: hilosfera, biosfera, noosfera e logosfera. Embora Chardin usasse termos em grego, Rohden traduziu-os para o português: a hilosfera refere-se à esfera da matéria; a biosfera, à esfera da vida; a noosfera, à esfera da inteligência; e a logosfera, à esfera da razão espiritual.

A antiga humanidade habitava a hilosfera, biosfera e noosfera. Nós, seres humanos atuais, ainda nos encontramos no terceiro estágio, a noosfera. Teilhard de Chardin acreditava que deveríamos esforçar-nos para alcançar a logosfera. Para ele, figuras como Cristo habitavam na logosfera, e alguns grandes iniciados chegaram perto desse estágio, embora não saibamos se chegaram a adentrá-lo completamente. Comparativamente, nós ainda estamos longe dessa esfera, o que nos leva a refletir primeiramente sobre a velha humanidade à qual pertencemos.

A velha humanidade está enraizada no presente e no passado. Almejamos que um dia, mesmo que seja em um futuro distante, a humanidade possa atingir a logosfera. O próprio Cristo, considerado o maior dos iniciados, disse que poderíamos realizar obras tão grandiosas quanto as que ele fez, ou mesmo maiores. Isso, para Rohden, caracterizaria a logosfera.

Ele introduz a ideia da possibilidade de uma humanidade anterior à nossa, mais evoluída, possivelmente, embora isso permaneça uma hipótese impossível de provar. A humanidade que conhecemos, argumenta Rohden, pode ter milhões de anos e ainda se sustenta nas primeiras esferas: hilosfera, biosfera e noosfera, o que caracteriza o que ele chama de velha humanidade.

Sem documentos escritos sobre esses períodos remotos, nos resta especular. Não há registros da história humana com milhões de anos, embora possamos encontrar relatos com cerca de 7000 anos. Dois livros antiquíssimos mencionam a evolução da humanidade primitiva: a "Bhagavad Gita," que data de cerca de 7000 anos antes de nossa era, e o "Gênesis," escrito há cerca de 3500 anos.

A Bhagavad Gita, nascida na Índia, descreve a evolução através de personagens arquetípicos: Arjuna, que representa o homem ego, e Krishna, simbolizando o homem Eu, iluminado. Enquanto Arjuna travava sua batalha no campo de Kurukshetra, Krishna guiava-o a transcender suas limitações. Esse texto antigo reflete um caminho de autoconhecimento e autorrealização, conceitos que parecem recentes no Ocidente, mas são milenares no Oriente.

Quanto ao Gênesis, frequentemente percebido como ocidental, na verdade nasce de uma tradição oriental. Foi escrito por Moisés na região agora conhecida como Arábia. Moisés, uma figura envolta em mistério, surgiu no Egito, porém seu texto fundamentalmente oriental influencia fortemente culturas ocidentais por milênios.

Moisés foi criado na corte do faraó, instruído na ampla sabedoria egípcia. Quando precisou fugir para a Arábia, passou 40 anos como pastor, tempo durante o qual se acredita que escreveu o livro do Gênesis. Pastores costumam ter profundas experiências intuitivas devido à vida contemplativa que levam. Rohden sugere que Moisés experimentou uma expansão de consciência que transcendeu os sentidos, permitindo-lhe testemunhar a criação do universo e da humanidade como um presente eterno, sem as limitações do tempo.

O Gênesis narra a criação do universo através das ações das potências cósmicas, os Elohim, diferente da ideia de um único Deus antropomórfico. Moisés escreveu para seu público contemporâneo, descrevendo em seis "períodos" a criação do mundo, ao invés de "dias", uma narrativa que ecoa, de maneira intuitiva, conceitos que cientistas como Einstein corroborariam séculos depois sobre luz e energia.

Essa visão coloca a origem do cosmos e do ser humano dentro de um eterno presente, uma ideia que extrapola a percepção linear de tempo e que ressoaria nos mistérios do conhecimento humano quando contemplamos a vastidão do nosso passado e o potencial de nosso futuro coletivo.