Lado B Lado A: A música como resistência e reflexo da desigualdade brasileira

O álbum Lado B Lado A (1999) do grupo O Rappa é uma das obras mais famosas da música brasileira por expressar crítica musical e social. No contexto de violência urbana e crescente desigualdade, o álbum retrata a realidade do Brasil suburbano, revelando as tensões entre moradores, traficantes e polícia. A linguagem direta com gírias e coloquialismos conecta-se com o público e valida a história contada e torna-se uma extensão das vozes marginalizadas.

A fusão musical de reggae, rock e hip hop cria uma atmosfera que alterna entre urgência e descoberta. Em músicas como "Minha Alma" e "Tribunal de Rua", a banda denuncia a brutalidade policial e o caos causado pelas leis informais do tráfico de drogas, mas sem denegrir os envolvidos. Essa perspectiva faz do álbum um trabalho de crítica e reflexão, dando ao ouvinte a oportunidade de ver além do estigma social.

A música "O que Sobrou do Céu" resume a essência do álbum ao discutir a destruição das relações humanas em meio das descaso governamental e caos urbano. A letra da música retrata a figura de um “anjo caído”, uma metáfora para a perda da inocência e da esperança, deixando o ouvinte com um misto de raiva e arrependimento A narrativa revela o impacto das desigualdades estruturais e convida a um exame interno do papel de cada indivíduo na manutenção ou superação dessas injustiças.

O álbum também questiona os limites da democracia no Brasil. Canções como "Se Não Avisar o Bicho Pega" criticam as desigualdades no acesso aos direitos e os abusos de poder que perpetuam a exclusão social. Rappa criticou as democracias fracas, onde os direitos fundamentais são rotineiramente violados nas margens, expondo a hipocrisia de um sistema que promete igualdade, mas proporciona injustiça. Estas questões fazem de Lada B Lado A uma obra que transcende o mundo da música e evoca uma reflexão profunda da paisagem

Desta forma, o álbum reforça a importância da história social, transforma experiências marginalizadas em arte e compreensão. Não é apenas um eco de vozes silenciadas, mas também convida à reflexão e à mudança e dá continuidade ao papel da música como ferramenta de resistência.

Júlia De Araújo Andrade
Enviado por Júlia De Araújo Andrade em 19/12/2024
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