Resenha Crítica do texto “O QUE É OUVIR”
RESUMO
O texto trata-se de uma palestra dirigida por Rogers para um público não especializado em psicologia, mas pessoas de Posições relevantes. E o resultado? Poderia ter sido um fracasso. No entanto, adquiriu um poder de síntese muito grande, ultrapassando os limites dos termos técnicos. Percebe-se que um dos
principais desafios que abarca a comunicação é o aperfeiçoamento do ouvir, justamente, porque ele é o fator diferencial que aproxima os sujeitos envolvidos
na construção de vínculo a ser construído em uma relação terapêutica e educação cujo texto apresentado se configura. Isso faz germinar uma abertura para um transcender da fala alcançando o verdadeiro significado, e os elementos envolvidos no processo de acordo com a situacionalidade, a fim de que haja compreensão e atribua sentido ao mundo do falante. Por isso, vale ressaltar, a força que isso exerce no contexto terapêutico entre o psicólogo e o cliente, que busca esse apoio para entender os processos internos que geram dúvidas, desconforto, angústias e sofrimentos, minando a resiliência humana do sujeito deixando-o incapacitado de gerenciar a sua vida com mais assertividade e falta
de efetividade em desenvolver a consciência de si mesmo, sustentando uma vulnerabilidade que cria raízes mais profundas irrigadas e mantidas pelo
contexto ambiental que a produziu e ainda evoca emoções e sentimentos desastrosos para o sujeito.
INTRODUÇÃO
De acordo com Rogers (1983), ouvir é a regra de ouro que devemos levar em consideração em ações continuadas quando se trata de alcançar o outro em
sua totalidade, ou seja, as palavras, os pensamentos, a tonalidade dos sentimentos, o significado pessoal, até mesmo o significado que subjaz às intenções conscientes do interlocutor. Neste sentido, temos a grande tarefa de desenvolver essa habilidade que nos torna pessoas mais sensíveis, empáticas, compreensíveis e presentes nas relações em nosso cotidiano. De fato, o ouvir vem antes do falar. “O ouvir me envolve e me afeta” (Buber, 1982). Quando ouço o dizer, deixo de exercer o papel de opressor
aproximando o outro da veracidade de sua expressão na comunicação como emissor da fala, para que o nível do dizer produza um real e pleno significado
(dimensão semântica), levando a uma mudança transformadora a partir do poder que esta fala realiza e propõe (dimensão política) levando a uma descoberta em que a fala sinaliza e indica para além do seu significado (dimensão semiológica). Desta maneira, estabelece uma fala autêntica, compreensão do que foi dito e, amplia-se a possibilidade de indissolubilidade do significado, do poder e do
indicado pela fala por parte do locutor, envolvendo o interlocutor promovendo uma relação de interdependência para acessar os recursos inexplorados, descortinando o oculto, permitindo atingir a mudança de vida desejada por parte
daquele que através do dizer revela os seus gritos que ecoa nas vozes dirigidas em busca de entendimento, liberdade, transformação e autoconhecimento para desenvolver habilidades cognitivas e domínio comportamental que proporciona um autocontrole consciente de suas ações. De acordo com Rogers, estar em contato com o outro é uma fonte inesgotável de enriquecer-se a vida. Portanto, poderíamos dizer que este decurso envolve uma reciprocidade entre: “enriquecimento” - “contato” – “ouvir realmente”. Ainda diz que, "Foi ouvindo pessoas que aprendi tudo o que sei sobre personalidade, sobre as relações interpessoais, [...], por trás da mensagem imediata de uma pessoa, qualquer que seja essa mensagem, há o universal. [...], assim, existem ao mesmo tempo a satisfação de ouvir esta pessoa e a satisfação de sentir o próprio eu em contato com algo que é universalmente verdadeiro”.
Conforme Ricouer, há níveis diferentes de distanciamento em relação ao real - fala (ouvindo alguém numa situação de diálogo); obra (consideração dos modos de significar); escrita (vai além da declaração e do conhecido pelo autor
– ouvir tudo que se faz presente); o universal (discurso como desafio, ou seja, expor-se ao texto e receber dele um si mais amplo).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O texto de Mauro Martins Amatuzzi, nos remete a uma reflexão que abarca os nossos comportamentos produzidos em nossas relações no dia a dia,
englobando as várias esferas da vida que exigem atitudes de empatia, compreensão e validação dos significados das vozes a nós dirigidas. Visto que,
isso só será possível se estivermos dispostos a ouvir realmente o outro, ou seja, o significado real do que outro quis dizer, para que isso me afete de alguma
forma e, me coloca em estado de presença real na comunicação enquanto nos expomos na construção desse vínculo que nos aproxima do outro e enriquece a nossa vida através de trocas que me faz estar em contato com a pessoa.
Deixo aqui algumas indagações anteriormente citadas para despertar em nós uma profunda reflexão que nos leve ao aperfeiçoamento do ouvir:
• Estamos aptos à tarefa de ouvir realmente o outro atribuindo o sentido real daquilo que outro quis dizer?
• A palavra viva está sendo plenamente pronunciada pelo emissor encontrando no receptor o seu significado real?
• Qual papel assumiremos na cena?
• O de “opressor” fazendo-se "hospedar" pelo então "oprimido", e fazendoo distanciar-se de sua verdadeira palavra?
• Ou assumir uma postura acolhedora sendo aberto ao mundo do outro, alcançado o nível do dizer?
Link de acesso ao texto “O Que é Ouvir”:
https://seer.sis.puccampinas.edu.br/estpsi/article/view/794