DESAPEGO
Estou triste. Meu filho, meu parceiro durante mais de quarenta anos, está desistindo da música. Tudo porque não consegue aceitar o novo tipo de mercado musical que predomina em nosso país. Não o condeno por que sei que seria violentar o seu modo de ser e de pensar. Compartilho com os amigos recantistas o seu desbafo.
DESAPEGO – Erick von Sohsten
Estou assim
Me desapegando de mim,
E desapego dói,
Uma dor que se sente no futuro,
Por não saber como será
Sem aquilo que deixamos ir,
Mas sem dúvida mais livre estarei,
Livre de mim mesmo
E dos meus erros,
Livre de coisas que idolatrei,
Livre como a alma que deixa o corpo
Num desmembramento inevitável,
Pois somos isso,
Um eterno desapegar,
De culpas e objetos,
Amores e lembranças,
Pois de alguma forma
Somos as nossas lembranças
E quando mudamos,
Mudamos também o modo de as enxergar.
Me encontro assim,
Mas com imenso carinho
A tudo que se vai
Porque também fica
Na forma intangível
Das memórias,
No canto guardado dos outros tempos,
Na caixa decorada dos sentimentos.
Estou assim,
Porque tem que ser
E chegou a hora
De me ver indo
Dar adeus a mim
E abraçar o que serei,
Mas o que serei?
Nem sei!
Pois o desenlace liberta,
Mas não precisa ser total,
Apenas deixo para trás
O que não me serve mais
E voo leve em busca do que me atrai.