DESAPEGO

Estou triste. Meu filho, meu parceiro durante mais de quarenta anos, está desistindo da música. Tudo porque não consegue aceitar o novo tipo de mercado musical que predomina em nosso país. Não o condeno por que sei que seria violentar o seu modo de ser e de pensar. Compartilho com os amigos recantistas o seu desbafo.

DESAPEGO – Erick von Sohsten

Estou assim

Me desapegando de mim,

E desapego dói,

Uma dor que se sente no futuro,

Por não saber como será

Sem aquilo que deixamos ir,

Mas sem dúvida mais livre estarei,

Livre de mim mesmo

E dos meus erros,

Livre de coisas que idolatrei,

Livre como a alma que deixa o corpo

Num desmembramento inevitável,

Pois somos isso,

Um eterno desapegar,

De culpas e objetos,

Amores e lembranças,

Pois de alguma forma

Somos as nossas lembranças

E quando mudamos,

Mudamos também o modo de as enxergar.

Me encontro assim,

Mas com imenso carinho

A tudo que se vai

Porque também fica

Na forma intangível

Das memórias,

No canto guardado dos outros tempos,

Na caixa decorada dos sentimentos.

Estou assim,

Porque tem que ser

E chegou a hora

De me ver indo

Dar adeus a mim

E abraçar o que serei,

Mas o que serei?

Nem sei!

Pois o desenlace liberta,

Mas não precisa ser total,

Apenas deixo para trás

O que não me serve mais

E voo leve em busca do que me atrai.

Jota Garcia e Erick von Sohsten
Enviado por Jota Garcia em 14/04/2024
Reeditado em 14/04/2024
Código do texto: T8041342
Classificação de conteúdo: seguro