Crítica Literária - “Lapsos Linguæ” de Bosco Esmeraldo
Lapsos Linguæ, a poesia magistralmente criada por Bosco Esmeraldo, mergulha nas águas turbulentas e, ao mesmo tempo, fascinantes da comunicação humana. Com uma estrutura rimada que reverbera a complexidade do tema, o poeta nos conduz por um labirinto de palavras e significados que se entrelaçam, mas nem sempre se alinham de maneira harmônica.
A primeira estrofe apresenta a dualidade entre a clareza da mente e a desordem que surge na transição para a expressão verbal. O poeta destaca o contraste entre o pensamento fugaz e a dificuldade de articulá-lo com precisão, utilizando metáforas poderosas, como a mudança do sol para a lua na tentativa de expressar sentimentos contraditórios.
A segunda estrofe mergulha na cacofonia linguística, representada pela imagem do "caos" na língua, onde o laço simboliza a tentativa frustrada de amarrar palavras coerentes. A mente se perde em um labirinto de ideias, enquanto o lobo parietal, região do cérebro associada à linguagem, trava, resultando em ruídos da fala e perda de destino.
A terceira estrofe amplifica a luta do poeta entre a mente e a boca, onde lapsos se tornam um fio de tormento. A dualidade entre o querer e o dizer é expressa como uma peça que nem sempre se encaixa, causando um descompasso angustiante ao tentar traduzir pensamentos em palavras.
A quarta estrofe aprofunda a experiência, destacando a quebra do sentido na dança dos sons. A poesia se entrelaça com a voz, mas os lapsos revelam um descompasso doloroso. A sensação de se sentir perdido é acentuada, delineando o poeta como um ser falido de cognição, perdendo o compasso da própria existência.
O desfecho, caracterizado por rimas bem empregadas, confere uma conclusão poética à exploração dos lapsos linguísticos. A mente, imersa em tormento, vê-se envolvida numa dança caótica entre pensamento e palavra, desprovida de tino. O desatino persistente entre mente e língua desvela um cenário contínuo de desventuras.
Lapsos Linguæ é uma obra-prima que captura a fragilidade da comunicação, explorando o abismo entre o que pensamos e o que conseguimos expressar. Bosco Esmeraldo, com maestria, mergulha nos meandros da linguagem para revelar as complexidades inerentes à condição humana.
Poesia analisada:
LAPSOS LINGUAE
Bosco Esmeraldo
Rimada: ABBAAB CDDCCD EFFEEF GHHGGH IJJIIJ
À mente, murmúrios de clareza,
Versos tangentes, desordem na trama,
O pensamento, fugaz em chama,
Mas ao falar, se embaraça a beleza,
Dizer o sol, sai lua em incerteza,
Diz odeia, mas quis que ama.
Na língua, o caos: laço não desata
Entre palavras, vem desatino.
A ideia se perde em mezanino,
Versos somem, sem rumo. Que rata!
Lobo parietal trava e distrata.
Ruídos da fala, perde o destino.
Mente lança, mas boca tropeça;
O poeta em luta, a palavra em tento,
Lapsos, fio da fala, tormento;
Entre o querer e o dizer… mas que peça!
Sai errado, por mais que meça,
Em descompasso ao meu pensamento.
Na dança dos sons, quebra o sentido,
A poesia se tece, mas na voz me passo;
Lapsos que revelam, o descompasso,
Dói no peito, me sinto perdido.
De pensamento, sou ser falido,
Sem cognição, perdendo o compasso.
Torce a fala, a mente a atormentar,
Pensar em palavra, vibra irado;
Som difuso, senso deturpado
O poeta, entre lapsos a intentar,
Palavras perdidas, disfásico a aventar,
Entre a mente e a língua, um defasado.
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Mezanino, por empréstimo da construção predial que utiliza só meia escada pasta passar de um andar para o outro, assim a ideia se perde ao tentar encurtar seu caminho entre o pensar e o falar.