A cosmologia de Madoka Magica

 

A COSMOLOGIA DE MADOKA MÁGICA

Miguel Carqueija

 

O volume 3, derradeiro, do mangá “Puella Magi Madoka Magica”, de Magica Quartet e Hamokoge, que a Editora New Pop colocou nas bancas em edição caprichada, encerra “entre aspas” a série pois vários desdobramentos vieram depois. O original foi publicado em 2011 por Houbunsha (Tóquio).

O contraste entre as figuras infantis — Madoka é quase uma bonequinha — e a seriedade da história é realmente insólito. Do ponto de vista filosófico é uma história que envolve riscos para a saúde mental, por apresentar a premissa da criação de Deus — que seria, na verdade, Madoka divinizada, que para salvar sua amiga e a todos emite o desejp que a tornará toda-poderosa e inacessível.

Algo assim só poderia acontecer, a rigor, se até aquela época o universo existisse sem Deus, quando o conceito de Deus exige que Ele seja eterno e preexistente ao universo.

Como se vê, “Madoka Magica” é uma trama complicada e com implicações religiosas difíceis de engolir.

O ponto alto do mangá (e do animê, que eu já comentei) ocorre neste volume, é a confissão de Homura, quando ela abraça Madoka e lhe conta tudo — como, para salvar Madoka, ela provocou o “looping” temporal, rebobinando o tempo cada vez que o desastre final — a chegada do Walpurgis Nacht — ocorria. A emotividade da cena é perturbadora, antológica: “Eu vivo em tempo diferente do seu. Eu vim do futuro. Encontrei com você muitas e muitas vezes. E em todas, também te vi morrer. Como eu posso lhe salvar? É só por isso que eu tenho revivido tudo isso...”

Esta é a recorrência de muitos mangás e animês: adolescentes obrigadas a tomar decisões de ordem transcendental.

Rio de Janeiro, 16 de março de 2014.

 

Nota: resenha inédita, encontrada num dos meus cadernos de anotações.