A OBSESSÃO DE OTOME volume 2: a hora da verdade

 

A OBSESSÃO DE OTOME volume 2: a hora da verdade

Miguel Carqueija

 

(Resenha do volume 1, dia 7 de agosto: recantodaaletras.com.br/resenhas/7577361)

 

Sempai = veterano (modo de um estudante se dirigir a outro, de classe mais adiantada)

Banchou = líder, no sentido de colegial que lidera outros em brigas.

Otome = garota, donzela, termo aqui curiosamente usado como nome próprio, da protagonista.

 

Num mangá com apenas dois volumes, o estilo peculiar de Mayumi Yokoyama fica bem patente. Um ambiente escolar com detalhes exóticos, estudantes adolescentes, uma garota libertária porém virgem e com sentimentos profundos e um rapaz que parece não ser flor que se cheire e, no entanto, farão o par romântico. Como vimos no volume 1, Otome, a garota idealista que chega no novo colégio sonhando encontrar o amor, é acompanhada na transferência pelos seus antigos colegas Tokio, Kiyo e Shige, que logo arranjam briga com os valentões que seguiam o “banshou” (termo em desuso significando o líder da gang estudantil) Toyo.

Tokyo quer ser um líder de valentia no colégio e desbancar Toyo. Otome, porém, descobre que Toyo não é valente coisa nenhuma e, amparado por sua beleza física e lábia, tem uma fama falsa. Por puro acaso, para salvá-lo de uma briga com Tokyo, ela se apresenta como sua namorada — o que origina uma série de quiproquós.

Ao dormir no mesmo quarto com Toyo, na pousada de sua avó meio pervertida e que estimula essas coisas, Otome, menor de idade, crê que para levar a sério seu namoro acidental com ele deverão fazer sexo, mas esbarra com a indiferença do rapaz. Alguma coisa detém Toyo, que embora sabidamente libertino é tocado pelos sentimentos profundos e dignos da garota e a respeita, pois ela ainda é virgem.

 

Resenha do volume 2 do mangá “Otomental: a obsessão de Otome”, com os atos 1 a 4. Autora: Mayumi Yokoyama. Editora Panini, Barueri-SP, maio de 2010; Editora Shogakukan, Japão, 2007. Título original: “Otomental”. Tradução: Karen Hayashida. Atos 4 a 7. Em apêndice as histórias curtas “O rapaz ao meu lado” e “Colégio Santa Liberdade”, ambos da mesma autora.

 

Descobrindo que o seu coração pulsa por Toyo apesar das diferenças, e dos defeitos do rapaz, Otome com grande sinceridade e humildade se declara a ele.

 

“Afinal... o que eu significo para o sempai?”

(Otome Inazuma)

 

“Aquele banshou fracote vai morrer se encarar uma briga de verdade!”

(Otome Inazuma)

 

“Sempai... seu idiota. Por que foi fazer uma loucura dessas?”

(Otome Inazuma)

 

“Só resta eu me tornar um cara digno para encará-la de frente.”

(Toyo Bidou)

 

Apaixonada por Toyo e também sabedora do seu segredo (que ele não é bom de briga, embora passe por ser) Misao revela a Otome o que está acontecendo: a iminência de uma grande humilhação para Toyo.

 

Otome só não entrega sua virgindade a Toyo, a quem ela já ama mesmo tratada com indiferença, porque por alguma razão o rapaz, apesar da sua fama, não quer sexo com ela, mesmo dormindo ambos no mesmo quarto, na hospedaria da avó de Otome. A garota fica intrigada, sem saber o que se passa na mente de Toyo. Quando Tokyo (não confundam porque os nomes são muito parecidos: Tokyo é o amigo de infância da protagonista) subitamente se declara a Otome, que o considerava somente um amigo, ele a beija e Toyo flagra, trazido pela ciumenta Misao.

Então a situação chega ao clímax quando surge um confronto com a gang de outro colégio, liderada por um brutamontes de força descomunal. Atormentado em sua consciência, sabendo ser uma fraude e desejoso de poder merecer o amor de Otome, Toyo vai com os outros três ao encontro dos adversários, mesmo sabendo que não era bom de briga, só tinha a fama.

Diante da situação emergencial Otome e Misao acabam unindo forças para impedirem o pior. O mangá caminha para um desfecho emocionante.

Ainda que tangenciando situações de libertinagem escolar, Mayumi consegue mostrar que há valores mais elevados e o fato da protagonista, afinal, não perder a virgindade e obter êxito no amor, é louvável, pois a história não se perde em cenas de nudez e alcova.

 

Suando frio, mas resolvido a ir até o fim por amor a Otome, Toyo se vê diante do peso-pesado de 15 anos que lidera os brigões do outro colégio.

 

 

APÊNDICES

1) O RAPAZ AO MEU LADO

Aqui temos um casal de amigos, Satomi e Satoshi, que fazem muita coisa juntos mas não namoram. Nas vésperas do Natal resolvem apostar sobre quem conseguiria um par para a comemoração.

É previsível que essa amizade acabe em amor depois de experiências mal sucedidas com as pessoas erradas, aliás experiências muito desastrosas.

As garotas protagonistas dos mangás de Mayumi Yokoyama possuem uma expressão forte e muito peculiar quando ficam sérias e são vistas de frente.

2) COLÉGIO SANTA LIBERDADE

Trabalho antigo de Mayumi, provavelmente do início da sua carreira; ela aproveitou o espaço para colocar no volume 2 de “Otomental”. Mas vejam o que ela própria diz:

“Especialmente esse meu trabalho mais antigo tenho até vontade de jogá-lo no fundo do mar, de tanta vergonha...”

E por que isso? É que, ao contrário do que se vê em outros trabalhos da autora, desta vez a virtude não triunfa e a heroína Riko Kamiya se deixa corromper. Eleita Presidente do Grêmio Estudantil, embora recém chegada no colégio, logo ela descobre que seu cargo é decorativo e que toda a sorte de indisciplina ocorre naquele ambiente — até um cassino. E quanto mais ela tenta impor disciplina, mais coisas descobre — até a conivência dos professores.

Por fim ela renuncia ao cargo, desiste de lutar, adere à corrupção e vira uma garçonete na boate clandestina da bagunça geral.

Eu não sei se a autora quis apenas mostrar ceticismo em relação ao ser humano, mas felizmente ela se arrependeu dessa história.

 

Rio de Janeiro, 5 a 9 de setembro de 2022.

 

Encolerizada, Otome Inazuma interrompe a briga, disposta a defender o rapaz a quem ela ama. Sequência eletrizante.