Na capa: a garota que vai desafiar o sistema.
COLÉGIO FEMININO BIJINZAKA volume 1: a garota revolucionária
COLÉGIO FEMININO BIJINZAKA volume 1: a garota revolucionária
Miguel Carqueija
Mayumi Yokoyama é a mesma autora de “Galism” e tem muito talento para desenvolver enredos criativos e envolventes em torno de figuras femininas adolescentes em ambiente escolar. Suas tramas abordam estranhas situações em colégios que parecem dominados por máfias internas.
Aqui, a personagem central e que domina toda a trama é En Nonomiya, de 15 anos, rosto entre atrevido e doce, que parece uma rebelde mas que acredita no amor e na amizade.
A história é adulta e apresenta uma dose de licença, adolescentes que já exercem liberdade sexual com todos os seus riscos (numa cena são exibidos preservativos). Falta o critério religioso, especialmente o cristão, apesar de tudo En mantém-se virgem neste primeiro volume.
Ela é expulsa de um colégio supostamente por mau comportamento, mas essa parte não é mostrada. Órfã de mãe, ao mudar para o Colégio Bijinzaka foi morar na casa do tio, Shu.
En depara de saída com problemas no novo colégio. Um misterioso “Comitê de Moralidade” parece dominar tudo, até a diretora, já que são meninas de famílias ricas, que é preciso agradar. E como En chega acompanhada por sua má fama, logo se torna alvo de repressão e implicância. Saudosa do amigo de infância, Yohei, ela faz amizade com Chihiro, rapaz que estuda perto, num colégio masculino, o Jouyama, e logo acaba se enamorando dele. Mas nada é o que parece. Há segredos em torno de Chihiro, das alunas Sayoko e Yoshino, e do “Esquadrão Maya”, três garotas que servem ao tal comitê.
Recusando-se a trocar o modelo de meias que usa, En logo se torna líder de um movimento de revolta contra a tirania do Comitê — e coisas espantosas começarão a acontecer.
A primeira dessas é a conversão do Esquadrão Maya — Kayo Abe, Mai Ide e Maya Katagiri, que são praticamente idênticas. Embora elas comecem explorando En com serviços no banheiro, esta descobre uma paixonite absurda de Maya por um tal de Akio, que explora garotas pedindo dinheiro sob pretextos duvidosos. A manipulação é tão forte que En descobre que Maya está indo a um motel com um coroa, para conseguir o dinheiro pedido por Akio. Ela resolve interferir, aparece no quarto na hora em que Maya, apavorada, já se arrependeu da loucura e quer fugir. En inventa uma doença venérea em Maya e ela própria simula uma hemoptise com “katchup”. A encenação é tão perfeita que o velho paga as duas para ficar livre delas.
Como a En ainda leva a Maya para um flagra com o cafajeste do Akio, Maya, espantada, indaga: “Quem é você? Não é nem minha amiga”. E a partir daí o Esquadrão Maya aumenta para quatro — e as três novas amigas de En passam a usar as mesmas meias relaxadas.
A rebelião começou.
O espanto de Maya Katagiri: na pior situação de sua vida é salva pela garota a quem maltratava.
Resenha do volume 1 do mangá “Colégio Feminino Bijinzaka”, de Mayumi Yokoyama. Editora Panini, Barueri-SP, março de 2007. Tradução: Ricardo Cruz. Título original japonês: “Shiritsu! Bijinzaka Joshi Koko”. Editora Shogakukan, Tóquio, 2004. Neste volume: 4 episódios.
Selando a amizade, Maya Katagiri zoa de En Nonomiya, por causa das mesmas meias que agora ela também usa.
“Fique feliz que eu não te matei até agora!”
(En Nonomiya, em pensamento para Maya Katagiri, antes de se tornarem amigas)
“Afinal quem é você? Não é nem minha amiga...”
(Maya Katagiri, perplexa por ter sido salva de uma situação crítica pela colega En Nonomiya, em quem ela praticava “bullying”)
“Quarto dia desde que eu fui transferida. A minha verdadeira vida no Colégio Bijinzaka começa agora.”
(Em Nonomiya, ao ser aceita pelo Esquadrão Maya)
“Nós vamos mudar este lugar.”
(En Nonomiya)
“Que sentimento... estranho...”
(En Nonomiya, ao despertar o amor por Chihiro Narushima)
“A gente não precisa obedecer ao Comitê.”
(En Nonomiya)
O Esquadrão Maya passou a ter quatro meninas. As duas do meio são Maya e En. As quatro em aberta rebelião contra o Comitê de (falsa) Moralidade.
Os acontecimentos que seguem são envolventes, uma verdadeira guerra que se desenvolve no colégio, praticamente ignorada por mestres e pela diretora. Coisas estranhas acontecem nos bastidores. Outra garota, Yoshino, é um capacho do comitê e tenta se opor à influência de En, que porém está disposta a modificar as coisas no colégio e acabar com a infame supremacia do comitê. Outros acontecimentos porém irão complicar a situação. En começa a namorar com Chihiro, o garoto da escola masculina, sem imaginar que ele tem um secreto envolvimento com o comitê. E o ódio das garotas do comitê contra En é tão grande que, na noite em que ela vai ao apartamento onde Chihiro mora sozinho, para ter com ele a iniciação sexual, o rapaz é sequestrado.
A cena ocorre quando os dois namorados já se preparavam para o ato: tocam a campainha, Chihiro vai ver quem é e desaparece. É patética a cena em que En corre descalça pela rua, procurando o seu amado. Mas a sua determinação é poderosa e, disposta a ganhar essa guerra, ela reúne as três amigas e elas partem para a busca em plena noite; finalmente, nas proximidades de um festival escolar, elas encontram gente do comitê no colégio e partem para o confronto.
O grau de maldade — a nível de crime organizado — do Comitê é inacreditável, e curiosamente ninguém cogita chamar a polícia. En está em ponto de bala para enfrentar suas torpes inimigas.
Em tempo: a história reflete a realidade sexual em que, infelizmente, vivem tantos adolescentes, mas não é uma história pornográfica, com cenas lascivas, e apresenta profundidade psicológica e densidade moral.
O volume 1 (ao todo são três) encerra com uma cena impactante, com En a um passo de partir para a agressão física diante de inimigas do comitê: “Se importariam de devolver o meu namorado?”
Rio de Janeiro, 26 de maio de 2022.
Acompanhada por Maya, Kayo e Mai, En Nonomiya peita as garotas do Comitê, criando o perfeito suspense de encerramento do volume 1. As coisas vão ferver no volume 2.