GALISM volume 1: as três “defensoras da justiça”

GALISM volume 1: as três “defensoras da justiça”

Miguel Carqueija

 

O bizarro título deste mangá vem de “gal”, adaptação japonesa do inglês “girl”, isto é, garota, no fundo refere-se a um estilo próprio de colegiais, que não deu para entender bem.

Eu gostei do primeiro volume deste mangá, achado em saldo (afinal a edição brasileira é de 2008), difícil vai ser achar os outros cinco volumes. À primeira vista, para quem é conservador como eu, assusta saber de saída que, das três irmãs da história, a mais velha e a do meio já tinham intensa vida sexual embora adolescentes e somente a caçula era virgem. Mas a continuação da história mostra que a mensagem não é fútil nem lasciva e que passa humor, sutilezas humanas e sentimentos e ainda mostra a fatuidade da promiscuidade sexual.

São elas as irmãs Ugajin: Yuri, 17 anos, que distraída com uma vida sexual ativa repetiu o ano e está no segundo colegial com Nobara, 16, tida como hedonista, porém agora estão ambas sozinhas. Por fim Ran, 15 anos, sem experiência sexual, a figura mais importante do mangá.

A história, muito divertida, começa com os pais do trio viajando em busca de aventuras e deixam o velho administrador do colégio — que lhes emprestou 50 milhões de ienes — para tomar conta delas, ainda que de longe, embora ele faça visitas. A situação se esclarece quando Kento Suenaga, ou Kent, neto do fundador do colégio e ele próprio membro da administração, se apresenta e explica às três irmãs que elas vão ter de trabalhar para ele afim de “limpar” o colégio (Instituição Educacional Manten), para pagarem a dívida dos pais (que não foram elas que fizeram, diga-se de passagem). E isso inclui combater os maus elementos ou delinquentes juvenis que por lá existem.

 

Ao resolverem se unir, as três irmãs caminham orgulhosamente pelo colégio em guerra, como a dizer: "Estamos para o que der e vier".

 

Resenha do volume 1 do mangá “Galism”, de Mayumi Yokoyama. Editora Panini, Barueri-SP, março de 2008. Editora Shogakukan, Japão, 2005. Volume 1 com os atos 1 a 4. Tradução: Karen Kazumi Kayashida.

 

Ran Ugajin atende o seu coração e descobre que ama o rapaz que tem fama de desordeiro, Yuudai Araki, mas que a salvou dos três delinquentes.

 

 

“Eu sei que é perigoso me intrometer nesse tipo de coisa... mas, quando fico preocupada com algo... não consigo ficar parada.”

(Ran Ugajin)

 

“Meu avô é bonzinho demais, mas eu não sou.”

(Kento Suenaga

 

“Isso mesmo! Tenho que fazer algo, antes que façam comigo!”

(Ran Ugajin)

 

“É esse tipo de “ajuda” que você está querendo?”

(Yuri Ugajin para Kento Suenaga, depois que as três descem a lenha no rapaz que atraiu Ran para uma cilada)

 

“Dentro de mim a imagem dele aparecendo para me salvar é tão heroica... que não consigo acreditar que ele seja tão perigoso.”

(Ran Ugajin sobre Yuudai Araki)

 

Unidas em torno de Kento contra a sua madrasta e pela moralização do colégio.

 

“Galism” tem algumas cenas antológicas e um enredo envolvente, como a forma com que Ran Ugajin, a garota idealista do trio de irmãs, se interessa e se enamora de Yuudai Araki, o garoto de elevada estatura e com fama de delinquente, que embora acostumado a transar com as garotas acaba atraído pela pudica Ran, que vai ao seu encontro para ajudá-lo quando o vê ameaçado por três desordeiros do colégio — dos quais aliás Yuuda se livra facilmente. E embora ele não goste da idéia de uma garota querer ajudá-lo, acaba tocado pelo gesto de Ran. E depois retribui quando ela própria se vê em perigo.

Ainda que Yuuda esteja na lista de investigados do Ken (Kento), Ran se recusa a deixar o namoro. Acaba ocorrendo um estremecimentos entre as irmãs e Kento mas quando, alertadas pelo avô do rapaz, elas entendem as manobras da diretora e madrasta de Kento, que prefere o poder financeiro a manter a boa moral no colégio, o trio de “gals” se assume de fato como defensoras da justiça e desfilam pelo local juntas e impávidas.

O drama, e ao mesmo tempo comédia, é super-criativo e prende de fato a atenção.

O traçado dos personagens é meio escrachado e é pena que a tradução abuse de expressões vulgares como “tô”, mas vale a pena ler e deixa grande expectativa sobre a sequência.

Ah, imperdível e hilária a cena em que as Ugajin interferem na gravação de um vídeo da Reitora Mitsuoka para demonstrar que apoiam seu enteado Kento, na briga familiar que está ocorrendo na administração do colégio. Uma cena em que, fingindo carinho para com a reitora, elas interrompem a gravação e se retiram com Kento, depois de colocar a Mitsuoka no ridículo.

 

Rio de Janeiro, 17 de março de 2022.