Sincretismo religioso
O Sincretismo e´ colocado como algo recente, na verdade já era usado desde a antiguidade . Realmente não existe religião ou culto que seja puro. E partindo deste ponto, podemos dizer que todas religiões existentes são uma miscigenação resultante de um processo evolutivo de tantas outras. Entretanto o sincretismo também foi usado como um instrumento de auto-defesa que permite a proteção de uma determinada cultura religiosa. No Brasil colônia o sincretismo obteve uma conotação, pelo menos no primeiro momento, como auto-defesa.
Os Índios e os escravos eram obrigados pelos padres jesuítas a aceitar á imposição da religião Católica, pois, a missão jesuíta era retirar o espírito impuro dos considerados não civilizados. Foi neste instante que o sincretismo teve papel forte, sendo que os escravos africanos como forma de resistência, admiravam imagens de santos católicos mas, na verdade eles estavam com o olhar e o pensamento voltado para os seus deuses e os seus rituais africanos. Aqueles que não o fizessem sofriam todo castigo como, o açoite entre outros, . tudo isso era feito para que os escravos deixassem de praticar os rituais e cultos da sua cultura. Daí que o sincretismo religioso surgiu. É devido a este choque, ou seja, o conflito de culto e o catolicismo foi a resultante das religiões afro-descendentes que No início do século XV, período da colonização brasileira, mais de quatro milhões de negros africanos cruzaram o Atlântico para tornarem-se escravos na colônia portuguesa. Oriundos de diferentes regiões da África, entravam no país, através de navios negreiros, principalmente pelos portos do Rio de Janeiro, de Salvador, do Recife e de São Luís do Maranhão, trazendo na bagagem a cultura africana.
Para evitar que houvesse rebeliões, os senhores brancos agrupavam os escravos em senzalas, sempre evitando juntar os originários de mesma nação. Por esse motivo, houve uma mistura de povos e costumes, que foram concentrados de forma diferente nos diversos estados do país. Os escravos possuíam suas próprias danças, cantos, santos e festas religiosas. Aos poucos, eles foram misturando os ritos católicos presentes com os elementos dos cultos africanos, na tentativa de resgatar a atmosfera mística da pátria distante.
O contato direto com a natureza fazia com que atribuíssem todos os tipos de poder a ela e que ligassem seus deuses aos elementos nela presentes . Diversas divindades africanas foram tomando força na terra dos brasileiros. O fetiche marca registrada de muitos cultos praticados na época, associado à luta dos negros pela libertação e sobrevivência, à formação dos quilombos e à toda a realidade da época acabaram impulsionando a formação de religiões muito praticadas atualmente - a Umbanda e o Candomblé.
Candomblé
É a religião que mais conservou as fontes do panteão africano, servindo como base para o assentamento das divindades que regeriam os aspectos religiosos da Umbanda. É conhecido e praticado, não só no Brasil, como também em outras partes da América Latina onde ocorreu a escravidão negra - a Santería cubana é famosa. Em seu culto, para cada Orixá há um toque, um tipo de canto, um ritmo, uma dança, um modo de oferenda, uma forma de incorporação, um local próprio e uma saudação diferente. As reuniões são realizadas em barracões rústicos e erguidos de acordo com certos preceitos: o feitio do barracão é retangular, com telhado coberto de palmas e ao seu redor são construídas casinholas para assentos dos santos. Os deuses do Candomblé têm origem nos ancestrais africanos divinizados há mais de 5000 anos. Muitos acreditam que esses deuses eram capazes de manipular as forças naturais, por isso, cada orixá tem sua personalidade relacionada a um elemento da natureza.
As cerimônias são realizadas com cânticos, em geral, em língua nagô ou yorubá. Os cânticos em português são em menor número e refletem o linguajar do povo. Há sacrifícios de animais (galo, bode, pomba) ao som de cânticos e danças. A percussão dos atabaques constitui a base da música. O despacho exige azeite de dendê, farofa, cachaça e outras oferendas, variando conforme a necessidade. Os filhos de santo são os sacerdotes dos orixás e nem todos são preparados para receber os santos. Existem os que sacrificam animais, os que cuidam dos guias quando os espíritos baixam e ainda os que tocam o atabaque e os que preparam a comida a ser oferecida.
A iniciação se dá através da indicação do orixá, que atribui diferentes rituais que devem ser cumpridos de acordo com as seguintes restrições: abstinência sexual, vestimenta branca, uso de cordão apertado no pescoço, comer com as mãos e sentar só no chão.
No Brasil, existem diferentes tipos de Candomblé, o Queto, na Bahia, o Xangô, em Pernambuco, o Batuque, no Rio Grande do Sul e o Angola, em São Paulo e Rio de Janeiro. Eles se diferenciam pela maneira de tocar os atabaques, pela língua do culto, e pelo nome dos orixás. A zona de maior propagação dessa religião encontra-se nos arredores de Salvador, Bahia.
Umbanda
Uma das religiões mais praticadas no Brasil, com maior propagação na Bahia e no Rio de Janeiro, a Umbanda brasileira começou a ser formada por volta de 1530, com a mistura de concepções religiosas trazidas pelos negros da África, na época da escravidão. O primeiro terreiro foi fundado em 1908 através de Zélio Fernandino de Moraes. Na época com 17 anos, Zélio, que fazia parte de uma família tradicional de Niterói, RJ, incorporava o chamado Caboclo das Sete Encruzilhadas e foi o responsável pela formação de sete tendas que acabaram difundindo a Umbanda. Todas as tendas funcionavam sob o lema: "manifestação do espírito para a caridade" e usavam rituais simples com cânticos baixos e harmoniosos.
A Umbanda incorpora os adeptos dos deuses africanos como caboclos, pretos velhos, crianças, boiadeiros, espíritos das águas, eguns, exus, e outras entidades desencarnadas na Terra, sincretizando geralmente as religiões católica e espírita. O chefe da casa é conhecido como Pai de Santo e seus filiados são os filhos ou filhas de santo. O Pai de Santo principia a cerimônia com o encruzamento e a defumação dos presentes e do local. Seguem-se os pontos, cânticos sagrados para formar a corrente e fazer baixar o santo.
Muitos são os orixás invocados na cerimônia de Umbanda, entre eles Ogun, Oxóssi, Iemanjá, Exu, entre outros. Também invocam-se pretos velhos, índios, caboclos,ciganos.
A Umbanda absorveu das religiões africanas o culto aos Orixás e o adaptou à nossa sociedade pluralista, aberta e moderna, pois só assim um culto ancestral poderia renovar-se no meio humano, sem que a identidade básica dos seus deuses fosse perdida.
Deuses
Principais personagens que compõem a religião negra.
EXU: De personalidade considerada atrevida e agressiva, o Exu, é o senhor dos caminhos que levam e trazem, fazendo as pessoas se aproximarem ou se distanciarem. Cada um tem seu próprio Exu, assim como todo o terreiro, que usa essa figura para proteger e zelar pela segurança da casa, do pai de santo e dos freqüentadores da entidade. O Exu não deve ser subestimado, pois se presta ao papel de servo em nome de uma recompensa que pode ser dinheiro, bebida alcóolica ou animais sacrificados. Ele representa o símbolo máximo da sensualidade e da voluptuosidade desenfreada. Com muito senso de humor, brinca e possibilita prazeres aos seres humanos, quebrando com suas próprias normas, os tabus de nossa sociedade. Tudo isso faz com que ele seja tanto amado, quanto odiado.
Os filhos de Exu:
Extremamente raros, seus filhos precisam estar sempre em atividade para poder liberar toda energia que possuem. São astutos e ágeis, insolentes, imprevisíveis, sociáveis, provocantes e briguentos. Destacam-se por sua sensualidade, inteligência e dinamismo.
Adorno: Ógo (um tipo de bastão feito e esculpido em madeira).
Colar: Azul-arroxeado.
Vestes: Azul, branca e vermelha.
Saudação: Larôye, Exu!
Oferenda: Farofa com dendê, feijão, inhame, água, mel e aguardente.
OGUM: Conhecido no Brasil como deus guerreiro, sendo identificado como São Jorge, foi uma das primeiras figuras do candomblé a ser incorporada por outros cultos. Quando irado é vingativo e, quando apaixonado, é sensual. O elemento principal de apetrecho de Ogum é o ferro, que lembra sua condição de ferreiro e metalúrgico, fazendo dele uma divindade da defesa e do ataque, que luta com prazer e que tem sede de conquista do poder. Dono da espada e da faca, está presente com sua simbologia em todas as cerimônias e no cotidiano da vida.
Os filhos de Ogum:
A companhia dos amigos e a sensualidade são essenciais para eles. A rotina os arrasa, pois além de dinâmicos, são arrebatadores. Aparentemente são calmos, mas, na realidade, escondem dentro de si toda a impetuosidade do guerreiro violento e devastador. Normalmente curiosos e demasiadamente francos, às vezes chegam à falta de tato. Não gostam de perdoar, nem de perder, o que para eles tem o sabor de uma derrota ocorrida num campo de batalha.
Adorno: Espadas e peças, tudo em ferro.
Colar: Azul-escuro ou verde.
Vestes: Azul, vermelha ou verde.
Saudação: Ogunyê!
Oferenda: Feijoada, xinxim, inhame.
XANGÔ:
É o representante da justiça espiritual e o mais solicitado nas pendências judiciais. Tido como herói divinizado, Xangô é ambicioso e tem obsessão pelo poder. Seu alvo é castigar os mentirosos e os malfeitores, não admitindo a contestação de suas atividades.
Os filhos de Xangô: eloqüentes, sociáveis e bons ouvintes, mas gostam sempre de dar a última palavra, mostrando que também são autoritários. Contraditórios, são aristocráticos, libertinos e infiéis em seus relacionamentos. Volúveis, esquecem rapidamente as paixões passadas. Estão sempre envolvidos em novas aventuras e a paixão atual é sempre a maior, a única, a verdadeira.
Adorno: Oxé, machado duplo de dois cortes laterais, feito e esculpido em madeira.
Colar: Vermelho e branco em contas alternadas.
Vestes: Vermelha, branca e marrom.
Saudação: “Káwo-kabiesile!”
Oferenda: cerveja escura, vinho tinto doce, licor de ambrósia.
OXALÁ:
Criador dos homens, obstinado e independente, é identificado, no Brasil, como Jesus Cristo sendo cultuado como o senhor de todas as coisas e do universo. Oxalá, que é visto como o senhor do silêncio, do vácuo frio e calmo, no qual as palavras não podem ser ouvidas, está ligado a todas as etapas da vida, desde a criação até a morte. Lento como caramujo, todo de branco, como seu ritual exige, é conhecido como Oxalufan. Enérgico e guerreiro, de colar branco com azul real, é Oxaguian. Em todas as versões é Orixanlá e em todas as situações é Obatalá, rei do pano branco.
Os filhos de Oxalá: quando sob a influência de Oxalufan, são calmos tranqüilos, relacionando-se com equilíbrio e tolerância com pessoas, mesmo nos momentos mais difíceis. Amáveis e prestativos, são voltados para a espiritualidade, sabedoria e domínio da situação. Quando dos os poderes de Oxaguian, assumem seu lado guerreiro e valente, de caráter romântico e vigoroso. Ágeis e combativos, chegando a ser geniosos, às vezes são calados, galantes e majestosos, transmitindo altivez.
Adornos: Opaxorô, um grande cajado enfeitado, feito com prata ou metal branco, quando Oxálufan, uma espada e mão de pilão também em metal branco, quando é Oxaguian.
Colar: Oxalufan, branco-opaco e Oxaguian, branco salpicado com azul real.
Vestes: Branca.
Saudação: Epa baba!
Oferenda: frutas, coco verde, mel.
IEMANJÁ:
Seu nome significa mãe dos filhos-peixes. Originária do rio Ogun, na Nigéria, tem seus domínios nas profundezas das águas, de onde emerge para atender seus devotos, principalmente as mulheres que atribuem a ela poderes que favorecem a fertilidade e a fecundidade. É maternal, sempre pronta para amamentar as crianças sob seu domínio, mas também sabe ser belicosa, mantendo-se de espada em punho para defender seus filhos e seus direitos.
Os filhos de Iemanjá: são autoritários, persistentes, preocupados, responsáveis e decididos. De personalidade amiga e protetora chegam às vezes, quando mulheres, a se comportar como supermães. São agressivos e até traiçoeiros, quando a segurança dos filhos e da família está em jogo. São faladores, e não gostam da solidão.