A ÉPOCA DA TRANSPARÊNCIA, MONA LISA E SELFIE* - MERALDO ZISMAN

*A palavra selfie vem da adição ao substantivo self (em inglês “eu”, “a própria pessoa”) do sufixo -ie (“-inho(a)”), resultando “euzinho(a)” e foi considerada a palavra internacional do ano de 2013 pelo Oxford English Dictionary.

O mundo está caminhando para que se dê mais importância ao valor expositivo de tudo e não à sua importância cultural. Senão vejamos. Nesta era de turismo de massa, interrompido por um vírus pandêmico, desconheço roteiro turístico a Paris que não inclua uma visita ao Museu do Louvre para dar uma olhada no quadro, envidraçado e protegido por seguranças armados, da pintura de Leonardo Da Vinci (1452- 1519) conhecida por Mona Lisa (“Senhora Lisa”) também denominada A Gioconda (em italiano: La Gioconda, “a sorridente” ; em francês, La Joconde) ou ainda Mona Lisa del Giocondo (“Senhora Lisa esposa de Giocondo”), pintura essa que dizem ter sido iniciada no ano de 1503 e agora, no século XXI, atrai uma multidão de passeantes que avistam de longe o quadro famoso.

Afirmam os entendidos em arte que o sorriso da Gioconda é o mais enigmático na técnica pictórica denominada “sfumare”, que significa em italiano: “sombrear” ou “evaporar como fumaça”. Essa técnica foi criada pelo próprio Da Vinci e consiste em mesclar e suavizar as formas intensificando luz e sombra, minimizando as linhas de contorno. Da Vinci emprega essa técnica especialmente nos cantos da boca e nos arredores dos olhos das suas pinturas. O sorriso enigmático da Mona Lisa tem feito um grande sucesso, por mais de 500 anos.

Naquele tempo nem existia fotografia, câmara escura, negativo nem revelações. No entanto, as figuras que aparecem nas representações tinham vida, idade, lembrança, narrativas. Já na era da fotografia, o papel grosso do retrato ficava amarelado pelo tempo e alguns tinham no reverso a data em que a foto foi tirada. Agora é a época do selfie, uma palavra do inglês, um neologismo com origem no termo self-portrait, que significa autorretrato, e é uma foto tirada e compartilhada na ‘internet’.

Normalmente uma selfie é tirada pela própria pessoa que aparece na foto, com um celular que possui uma câmera incorporada, como um ‘smartphone’. Eu digo ou penso quando alguém me mostra um selfie: vaidade não é pecado, pecado é a falta de amor-próprio o que é uma constante nesta época de transparência e de narcisismo.