A estréia de Maga Patalógica

Ainda tenho comigo, e bem conservado, um exemplar do número 568, de 25 de setembro de 1962, da revista infantil "O Pato Donald", cujo preço vinha estampado na capa: Cr$25,00 (vinte e cinco cruzeiros). A capa mostrava os sobrinhos de Donald fazendo um banzé com tinta de aquarela, diante do olhar espantado da Margarida. A editora era a Abril, de São Paulo.
Neste número foi publicada a história em quadrinhos "A primeira moeda do Tio Patinhas", elaborada com o traço clássico de Carl Barks, que praticamente construiu o universo de Patópolis, a grande cidade dominada pelo Uncle Scrooge (o Tio Patinhas).
Essa história, muito movimentada, mostra pela primeira vez a pata feiticeira Maga Patalógica (Magica de Spell no original), que mora num barraco na encosta do vulcão Vesúvio, na Itália. Ela procura o Tio Patinhas com a esdrúxula intenção de comprar uma moedinha qualquer, pagando muito mais do que o seu valor. Ela vinha juntando moedas de diversos milionários com a idéia de fundi-los num amuleto da sorte e assim tornar-se rica também.
Mesmo zombando da idéia o velho pato vende à bruxa uma moedinha, sem notar de início que era a sua número 1, ou seja, a moeda de estimação, a primeira que ele ganhou. A partir daí gera-se um drama movimentado, pois a feiticeira, achando que aquela moedinha, pelo seu caráter excepcional devia possuir mais poderes que as outras, recusa-se a devolvê-la. E assim tem início uma perseguição que irá até a boca do Vesúvio.
Maga Patalógica é ardilosa e audaciosa. Curiosamente ostenta, sendo pata, uma comprida cabeleira humana (seria mestiça?). Nesta primeira história não apresenta os poderes obscuros que lhe foram atribuídos depois (inclusive voar com vassoura), limitando-se a jogar cápsulas estonteantes de magnésio. Ao longo da aventura, na disputa pela moedinha, ocorrem lances bastante cômicos, como a Maga se disfarçando como a atriz de cinema Gina Quaquabrigida (trocadilho com Gina Lolobrigida, então muito popular no cinema italiano).
Uma HQ verdadeiramente clássica e de ritmo singular e suspense crescente, anterior à banalização da personagem.

Rio de Janeiro, 17 de janeiro de 2021.