Comer, beber e rezar, na “ bolha”.

Nada normal, nada de novo normal, está tudo fora do lugar! Há quatro meses que durmo entre 1:00 e 2:00h da manhã, acordo entre 9:30 e 10:00h, tomo café entre 10:00 e 10:30h. Vou dormir de pijama, seja curto ou longo, dependendo do clima, acordo e continuo de pijama por quase o dia inteiro, tomo banho e troco de pijama, já tive que fazer uma compra online de novos pijamas, que aliás, não recebi ainda, pois o site que entregava entre três e cinco dias, agora bagunçou tudo também e a entrega está atrasada.

Há quatro meses que não corto cabelo, tingindo em casa, claro, senão a coisa fica pior, não uso meus lindos anéis , incluindo aliança, não uso os tantos sapatos que tenho, não uso minhas roupas “ normais” , não uso maquiagem, não uso protetor solar! Divido o dia entre tomar café quase meio dia, almoçar no meio tarde, incluindo uma leitura nos intervalos, jantar quando sinto fome, incluindo uma seção de yoga entre o fazer crochê, assistir televisão e dormir.

Há quatro meses a rotina diária não altera em quase nada. Para não sair rolando, procuro selecionar melhor o que fazer para comer, alimentos saudáveis e bem menos carboidratos, mesmo assim entrei na nova onda de fazer pães, nunca imaginei que um dia estaria fazendo pão italiano, pão francês, pão de forma, com recheio, sem recheio, com glúten, sem glúten, e por aí vai.

Há quatro meses, vivo apreensiva, qualquer alteraçãozinha no organismo, corro no Google para reafirmar os sintomas da Covid, mesmo estando presa em casa, oro pra dormir, oro pra levantar, oro o tempo todo.

Há quatro meses vivo numa adrenalina só! Mesmo sem receber nenhuma visita nesse tempo, saio borrifando álcool nas maçanetas, nos controles de TV, no sofá, nos vasos de banheiro, acredito que se riscar um fósforo pegará fogo em tudo(rsrsrsrs).

Há quatro meses o celular e a televisão são as formas mais próximas de socialização com o mundo lá fora, fico imaginando cem anos atrás na pandemia da gripe espanhola quando não se tinha esse meio.

Ha quatro meses que a cada quinze dias entro na paranoia de higienização das compras. Começo pelo marido, faço passar direto para o banheiro, só deixo aproximar de qualquer coisa depois de estar devidamente limpo e com novas roupas. Sapatos fora da porta até a borrifação de álcool. Passo a separar as compras: embalagem de plástico, embalagem de papel, enlatados, congelados, frutas e legumes. Me armo de álcool 70°, Cândida, água e papel toalha. Nada fica sem inspeção. Aí começa a paranoia com o marido, afinal esteve fora da “bolha” por umas duas horas, durante uns dez dias fico na expectativa, observando se ha alguma alteração de saúde, um tipo de quarentena dentro da quarentena, sem falar no interrogatório de como foi exatamente esta estada “tão” longa lá fora: onde foi, com quem falou, se usou a máscara devidamente, se pôs as mãos em algum local suspeito, e por aí vai, até ele me mandar calar a boca, para não me manda para aquele lugar (rsrsrs)

Há quatro meses a vida se resumiu a este básico, sobreviver ao vírus. Tudo que achava indispensável foi dispensado: viagens, passeios pelos centros, shoppings e parques, cinema,teatro, happy hour com amigos, churrasco, compras pelo simples prazer de comprar, praia, visitar familiares e tudo mais que não faz parte da minha “ bolha”.

Há quatro meses vivo nesse novo formato de liberar adrenalina:

Comer, beber e rezar, na bolha.