Mulheres de Atenas e "ou" Mulheres de Esparta
 
O nosso fabuloso Chico Buarque exaltou as qualidades das mulheres de atenas, que segundo ele eram ou são exemplo de dedicação a seus maridos, um exemplo a ser "mirado", seguido por todas as mulheres. Diz o Chico no primeiro trecho da canção "Mulheres de Atenas", "mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas,
vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas". Em outro trecho ele diz, "quando fustigadas não choram, se ajoelham, pedem, implorammais duras penas".

Ora, em que pese a licença poética do Chico, bem como o seu reconhecido carinho pelas mulheres, a considerar os trechos citados, parece que ele exagerou na dose.
E não considero um exagero ou um equivoco o simples fato das mulheres atenienses serem tal qual ele caracterizou, porém sim o fato delas se constituírem ou não, um "exemplo" a ser seguido pelas mulheres do nosso tempo, visto que a mulher contemporânea vem buscando ser protagonista.

O hábito ou a "cultura" das mulheres atenienses receberem de volta das batalhas os seus guerreiros e maridos, de forma exemplar, não implica dizer que elas sejam exemplo para as mulheres do nosso tempo, concordam comigo? A percepção dessa diferença é muito importante para que possamos situar no "tempo" e no "espaço", portanto historicamente, a força do papel social exercido pelas mulheres, tanto na cidade de Atenas quanto na cidade de Esparta.

É claro que o nosso grande "Chico Buarque" não teve uma intenção reducionista ao compor a letra de tão bela canção. No entanto, o discurso subjacente à letra da música sugere alguma passividade ou subserviência das mulheres atenienses, e isto é notório. O que diríamos acerca das mulheres de Esparta, cidade grega vizinha de Atenas? Elas eram tão "passivas" ou "subservientes" assim? Os seus papéis sociais eram similares aos das mulheres atenienses?

Ao que parece, há alguma diferença entre os papéis sociais das mulheres de ambas cidades, visto que o fundamento da sociedade espartana era a preparação para a guerra, para a defesa da cidade. As famílias espartanas eram obrigadas pelo  "estado" a ceder seus filhos do sexo masculino, a fim de que fossem treinados, preparados para o combate, para a excelência da guerra.

Não podemos precisar muito bem, mas os meninos por volta dos 12 anos de idade eram conduzidos para as montanhas, lá permanecendo em treinamentos até a idade adulta, quando retornavam ao seio das suas respectivas famílias. É claro que essas crianças seguiam para esses lugares acompanhas dos "militares" espartanos, que por sua vez deixavam a administração das suas terras e outros patrimônios sob a responsabilidade, guarda e administração de suas mulheres.

Essas mulheres espartanas também eram "guerreiras", visto que além de cederem seus filhos para o "estado", perdiam a proteção de seus maridos, ausentes, tinham que proteger os demais membros da familia, além de defender o patrimônio da família por sua própria conta e risco Observando melhor agora os papéis sociais das mulheres atenienses e das espartanas, percebemos que se em Atenas elas eram "passivas" e ou "subservientes", em Esparta, elas eram atuantes e protagonistas, e quando necessário, "beligerantes"

Em linguagem figurada, enquanto em Atenas elas usavam "cabelos soltos ao vento", impróprios para as "batalhas", em Esparta elas usavam "rabo de cavalo" ou "tranças", próprios para guerra. Portanto, aquém e além do bem e do mal, as mulheres ao longo da história nunca foram totalmente submissas, tal qual muitos historiadores fizeram acreditar. Conforme nos diz o fantástico João Bosco, "O mar da história é agitado"!

Humberto de Campos
   Mestre Holístico