Hoje

Meus cinquenta anos chegaram, muitas coisas aprendi, algumas coisas ensinei, mas aprendi muito mais que ensinei. Ficará para sempre aquela palavra proferida apenas uma única vez, em tom baixo, mas que de tão marcante jamais esquecerei. Minha memória, involuntariamente, apagará aquilo que não me fará crescer. Hoje, sei diferenciar quem caminha comigo de quem apenas está comigo. Hoje compreendo quem me diz “sim” e quem me nega, e sei que não devo cobrá-los por algo diferente de sua vontade.

Não sou mais um jovem, porém, esta idade me revela coisas que só agora consigo enxerga-las, embora todo tempo estivessem ali. Agora consigo ver o quanto magoei as pessoas sem perceber; o quanto faltei com a simplicidade quando mais se fazia necessário; o quanto fui egoísta onde menos precisava ser, mas, a vida é mesmo assim. Acho que cresci, acho que estou “melhor”, me acho mais bonito, apesar dos cabelos escassos e da barba já grisalha, apesar das cicatrizes e rugas expostas em minha pele, apesar dos cortes e apertos no coração.

A gratidão e a decepção são inerentes à idade, afinal, é com o tempo que se percebe estas coisas. Hoje me alegro com muito menos, basta observar uma atitude benevolente para acreditar que o mundo ainda tem esperança, abdicar de algo em favor de outra pessoa que necessita me traz alegria, embora nem sempre eu possa. Favorecer o próximo, mesmo que singelamente e em segredo me enche o coração. Mudar planos que foram traçados longinquamente não me desanima mais, pois, a vida quer desta forma e eu não posso ir de encontro à minha própria natureza.

Hoje tenho muito mais a gradecer que reclamar, pode ter me faltado algumas coisas, mas me sobraram outras tantas. Também consigo avaliar com mais clareza as intenções alheias, contudo, nunca me falte a inocência de um menino ao ser agraciado com um brinquedo. Um elogio, um afeto, um carinho, gosto de receber, porém me faz muito bem expressá-los. Os desafetos, as brigas, as discussões tento evitá-las para que sejam atenuadas com o tempo, ou quiçá dissolvidas completamente, senão, pouca relevância darei para que em minha mente este pormenor não faça morada. Perdoar é acionar a função “fique tranquilo consigo mesmo” e seguir a diante sem peso na consciência, sabendo que “este carma não é meu”, isso me faz bem.

É chegado o tempo também de tomar algumas decisões importantes na vida: quem deve estar ao seu lado, o que você não merece escutar, por quais motivos você não deve sofrer, qual é a hora de ser mais complacente consigo mesmo, é a hora de entender que nem tudo que acontece depende diretamente de você. Hora de saber que os ciclos da vida se renovam, hora de saber que tudo pode acontecer e aceitar com serenidade que a vida tem que seguir apesar de tudo que possa acontecer, e, sobretudo, reconhecer qual é a hora certa de avançar ou recuar nas suas convicções.

É isso! Acho que chamam isto de maturidade, quando começa a clarear as ideias sobre os acontecimentos da vida e o que você pode ou não interferir para mudar esta situação. Quero amadurecer sem perder a graça pelas coisas simples, quero seguir meu caminho livrando as pedras e os buracos, mas parando de vez em quando para um balanço no parquinho. Quero seguir meu caminho as vezes ávido e em frente sentindo o vento no rosto, mas também voltando um pouco para contemplar a beleza do lago que passou despercebido na minha correria. Quero ir em passos calmos de encontro ao meu futuro, mas sem jamais desprezar o que já passei. Quero envelhecer com a mente tranquila e que as pessoas possam me dizer ao telefone: “chame seu pai que esta é uma conversa para adultos”. Maerson Meira 27/02/2020.

MAERSON MEIRA
Enviado por MAERSON MEIRA em 27/02/2020
Reeditado em 10/12/2021
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