NAUSICAA DO VALE DO VENTO volume 1: a iluminada

NAUSICAA DO VALE DO VENTO volume 1: a iluminada
Miguel Carqueija

Resenha do volume 1 da novela gráfica “Nausicaa do Vale do Vento”, de Hayao Miyazaki. Editora Conrad, São Paulo-SP, 2006. Niburihi Co., Japão, 1983. Título original: “Kaze no Tani no Nausicaa”. Roteiro e arte: Hayao Miyazaki. Capa: Jonathan Yamakami. Tradução: Dirce Miyamara. Inclui um mapa e o artigo “Sobre Nausicaa”, de Hayao Miyazaki.

Gênio do cinema e dos quadrinhos japoneses, Hayao Miyazaki, nascido em Tóquio, em 1941, realizou em elevado número de grandiosos filmes de animação, sendo mesmo considerado um Walt Disney oriental. Talvez a sua maior criação tenha sido a Princesa Nausicaa do Vale do Vento, inspirada numa Princesa Nausicaa que aparece rapidamente na “Odisseia” de Homero. A Nausicaa de Miyazaki, porém, não pertence ao distante passado mas ao longínquo futuro. Para ser mais exato ela vive mil anos após a Guerra dos Sete Dias de Fogo, que irá destruir a nossa atual civilização industrial.
A orelha do álbum traz uma espécie de prólogo que explica a terrificante condição do mundo futuro: “Durante a chamada Guerra dos Sete Dias de Fogo, as grandes metrópoles desmoronaram por causa das substâncias tóxicas que elas mesmas produziram e espalharam. A infra-estrutura da sociedade industrial ficou arruinada, sua tecnologia complexa e avançada foi perdida e quase toda a superfície do planeta ficou estéril. Depois disso a civilização nunca mais se reergueu, e o ser humano foi destinado a viver um longo crepúsculo”.


“Que poder misterioso.”
(Yupa Sama, o samurai errante)

“Quem é você? E por que carrega tanto ódio no coração?”
(Nausicaa)

“Ela percebeu pela primeira vez que uma força poderosa se encontra dentro do seu ser. Ficou assustada com o próprio poder...”
(Yupa Sama)

“O homem em si pode ser considerado uma sujeira.”
(Nausicaa)



A figura de Nausicaa, Princesa do Vale do Vento (situado em região não identificada do globo terrestre) é sensacional. Uma adolescente talvez com 15 ou 16 anos, mas dotada de grande força física e agilidade, sem deixar de ser esbelta. Não é baixinha, mas não chega a ser alta. Na espada sua perícia é surpreendente, conseguindo derrotar facilmente um adversário gigantesco e protegido por armadura. Todavia, mais do que os atributos físicos, importam os espirituais da garota. Bondosa e mística por natureza, Nausicaa ama animais e plantas. Filha do rei local Jihl, Nausicaa praticamente dirige o pequeno reino com carinho e dedicação. Possui misteriosos poderes de telepatia e telecinesia, consegue se comunicar com os insetos gigantes (os “ohmus”, que não voam, são grandes como baleias) e até com as árvores. Ela consegue acalmar insetos em fúria e até salva Yupa do ataque de um ohmu. Consegue a amizade do pequeno esquilo-raposa que se torna seu mascote, Teto, que monta em seu ombro.
Diante da doença de Jihl, entrevado na cama pela doença transmitida pelos esporos do Mar Podre (na verdade uma floresta), Nausicaa assume em seu lugar a missão de ir com um séquito juntar-se à Princesa Kushana, do Império de Torumékia, num conflito armado. Algo que vai contra a natureza de Nausicaa, mas um antigo tratado obrigava o Vale do Vento a acompanhar Torumékia nas guerras.
Nausicaa movimenta-se graciosamente num planador, entende as correntes aéreas, voa como ninguém. E embora Jihl confidencie a Yupa que estaria mais tranquilo se ela fosse homem, a verdade é que um homem não faria melhor. Jihl e sua falecida esposa tiveram muitos filhos, porém só Nausicaa vingou.
Kushana, mesmo respeitando Nausicaa, representa outra filosofia de vida. Belicosa, acredita no confronto com a natureza. Apesar disso ela simpatizou com Nausicaa, ao reconhecer nesta princesa uma pessoa diferente e superior ao comum da humanidade.

Rio de Janeiro, 31 de janeiro a 2 de fevereiro de 2020.