Prática ética, moral e educação em valores na escola: aplicações e competências

Universidade de São Paulo (USP)

Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP)

Aluna: Cristina Barcelos Rodrigues Pinto n° USP: 5.636.502

Disciplina: 4800702 – Pesquisa Educacional: Questões Teórico - Metodológicas e Prática Pedagógica

São Paulo - 2019

Resumo

Considerando a moral como um agente social, pode-se afirmar que a educação moral se dá no interior dos diversos segmentos sociais, prioritariamente, através das relações de convivência entre as pessoas. Nesse sentido, o trabalho em questão busca apresentar como ocorre a educação moral dentro de um segmento social específico, as escolas, apontando para suas variáveis de atuação, que foram extraídas do material bibliográfico utilizado. São elas, as relações de convivência, prática escolar, prática docente, pesquisas referente a temática em questão e, por fim, as medidas públicas educacionais quanto a educação moral. Conclui-se que todas as variáveis mencionadas carecem de maior atenção e senso de urgência para garantir de fato a educação moral em valores dentro das escolas, culminando na formação de cidadãos mais justos e éticos.

Justificativa

Percebendo a relevância da moralidade quanto sua aplicabilidade nas relações sociais, até mesmo como reflexo do desenvolvimento moral presente em cada indivíduo, julgamos pertinente verificar como o ensino da moralidade tem- se dado dentro das escolas. Tal escolha se baseou no fato de que, nossa sociedade carece de valores morais, que reflitam num bem maior para os indivíduos pertencentes a essa mesma sociedade, nesse sentido, inúmeros estudos apontaram a escola como um ambiente propício para transmissão e aplicabilidade de valores morais, pautados, principalmente, nos princípios da ética e da justiça.

Além disso, de acordo com o material bibliográfico utilizado, percebeu-se a carência de pesquisas nessa área, tanto de cunho teórico, mas, sobretudo, de cunho metodológico, para que subsidiem o trabalho dos docentes, gestão e demais integrantes da realidade escolar quanto a prática da educação moral. A importância da educação moral já era evidenciada por Durkheim (2008), segundo aponta Rohling (2017, p. 6, 7):

[...] mas porque se trata de um problema particularmente urgente nos dias de hoje. É nessa parte de nosso sistema educacional que a crise é mais profunda e, ao mesmo tempo, mais grave; porque tudo aquilo que pode diminuir a eficácia da educação moral, tudo aquilo que ameaça tornar a ação mais incerta, ameaça à moralidade pública em sua própria fonte. Não há, portanto, nenhuma outra questão que se imponha com mais urgência à atenção do pedagogo. ( Durkheim, 2008a, p. 19)

Questão de pesquisa

O contato com a bibliografia utilizada para compor o presente trabalho evidenciou três variáveis como eixos norteadores quanto a educação moral dentro das escolas, sendo eles, as relações de convivência, prática escolar, prática docente e pesquisas referente a temática em questão. Pode-se perceber também referência a Durkhein e Jean Piaget, dois autores de notável importância no contexto educacional. Dessa forma, será apresentada a teoria mencionada sobre desenvolvimento moral, segundo Jean Piaget, para que se evidencie a importância da moralidade em valores dentro da escola.

Desenvolvimento moral:

Segundo a teoria de Piaget, presente em Oliveira; Caminha; Freitas (2010), Muller; Alencar (2012) e, Vinha; Tognetta (2009) , sobre a aquisição da moralidade, a formação do juízo moral nas crianças se da de forma gradativa, de acordo com a maturidade adquirida por essa mesma criança, sendo agentes preponderantes de atuação, o convívio social pautado em valores de cooperação e respeito embasados sobre o conceito de justiça. Dessa forma, ele aponta para um desenvolvimento moral dividido em duas fases: moral heterônoma e moral autônoma.

Durante a moral heterônoma, dos dois aos cinco anos de idade, as atitudes das crianças são, em maior parte, egocêntricas, sendo a autoridade (de pais, professores, responsáveis...), ou a coação moral, como denomina o autor, a força motriz para o respeito as regras que, tem seu valor externos a elas, e oriundo de quem manda, sendo vistas ainda, como supremas e imutáveis. Esse momento é bastante relevante para o sucesso da próxima fase, culminando em formas superiores de respeito aos valores morais.

Já na fase seguinte, do início da moral autônoma, que se dá dos sete aos oito anos, gradativamente ocorre a substituição das atitudes egocêntricas por atitudes cooperativas, dando início a compreensão aos valores de igualdade e respeito mútuo, por meio da convivência.

Por isso mesmo, sendo a escola um espaço de convivência, é importante que essa possa propiciar reflexão de conduta aos alunos, para que eles sejam ativos em seu processo de desenvolvimento moral, fazendo com que estejam em contato, de forma cotidiana, com valores morais de justiça, respeito, para que tais valores acabem ficando inerente a sua própria pessoa.

Convivência:

A escola é um espaço de convivência por natureza, essa convivência pode ocorrer entre pares ou não, considerando a relação existente entre os alunos; entre eles e professores, gestores e demais funcionários; e também desses últimos entre si. Pensando a moralidade em valores, pode-se pensar como essas relações poderiam propiciar a educação moral dentro das escolas. Segundo Vinha; Tognetta (2009, p.527) “Será durante a convivência diária, desde pequena, com o adulto, com seus pares, com as situações escolares, com os problemas com os quais defronta, e também experimentando, agindo, que a criança irá construir seus valores, princípios e normas.”.

Prática docente:

A educação moral dentro das escolas tem como um dos agentes fundamentais a prática docente considerando que, a relação entre as crianças e, entre elas e seus professores durante o cotidiano escolar, consiste em um terreno potencialmente fértil para a transmissão de valores morais, por isso, essa prática precisa ser direcionada para a oferta e aproveitamento de oportunidades que visem a aquisição, reflexão e, conduta moral. Valores pautados na ética, justiça, solidariedade, empatia, dentre outros, podem e devem ser trabalhados em classe, utilizando-se das situações cotidianas, tais como, uma possível divergência, um apontamento feito por um aluno, uma pergunta, um furto, um caso de indisciplina ou, até mesmo, a partir de atividades educativas planejadas e executadas com base em um procedimento metodológico.

De qualquer forma é importante que se aproveite e que se façam as oportunidades, para transmitir e desenvolver esses conceitos.

Em relação a prática docente e a educação moral achamos válido mencionar aspectos mais pontuais presente em nossa referência bibliográfica. São elas a resolução de conflitos, a elaboração de regras e a educação para a diversidade.

- Resolução de conflitos:

Segundo Vinha (2017), o conflito deve ser considerado como natural e necessário para o desenvolvimento moral das crianças, uma vez que, ele causa o desequilíbrio e a posterior necessidade de reflexão. Por isso não se deve negar o conflito e sim abordá-lo como uma oportunidade prática para a transmissão de valores morais que estejam ligados de forma direta ou indireta, nesse mesmo conflito. Isso posto, a autora busca compreender como a resolução de conflitos têm-se dado dentro das escolas, abordando duas perspectivas de atuação, a tradicional e a construtivista.

Na perspectiva tradicional cria-se um ambiente mais autoritário com maior índice de moral heterônoma onde, via de regra, os conflitos são resolvidos por coação, pelo direcionamento as regras que nem sempre fazem sentido, sendo ele resolvido de forma rápida, com pouco ou nenhum espaço para reflexão e de forma não eficaz.

Pode-se haver também a negação do conflito. Já sob a ótica construtivista, busca-se oferecer um ambiente cooperativo e democrático, culminando em índices mais elevados de moral autônoma, onde as diretrizes de conduta moral são de base mais internas que externas. Dessa forma, intenciona-se que os alunos reflitam sobre o conflito e suas possibilidades de resolução, além dos valores morais que possam subsidia-la.

Ainda sobre essa questão e, considerando o conflito como natural e necessário conforme já mencionado, a autora relata que em salas com maior autonomia e participação dos alunos, os conflitos e divergências são mais comuns, por eles serem mais questionadores e reflexivos, já em salas mais tradicionais há menos chances de conflitos, por conta da submissão e conformidade as regras.

Por fim é importante que se considere durante a resolução de um conflito, muito mais a causa e, consequentemente a internalização dos valores morais que puderam embasar a solução desse conflito, do que o conflito em si. Portanto, espera-se que os conflitos não sejam resolvidos de forma pragmática e intuitiva, baseadas no senso comum, nem negados através de regras e coação. Faz-se necessário que os professores saibam como atuar nas situações de conflito uma vez que, ele pode ser construtivo ou destrutivo de acordo com a intervenção docente.

- Elaboração de regras:

Embasado principalmente no trabalho de Vinha e Tognetta (2007), e sua aplicabilidade no contexto escolar, será abordada a influência dos ambientes democrático e autocrático no tocante a elaboração de regras. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, subsidiada por observações e entrevistas com suas professoras atuantes em salas diferentes de 3° ano do Ensino Fundamental I da mesma escola, uma delas com habito mais tradicional e a outra com postura construtivista, onde procurou-se perceber como ocorre a formulação, compreensão e aceitação das regras sob intervenção dessas duas professoras.

Concluiu-se que na classe onde a professora mantinha a prática tradicional, o ambiente era autocrático, com maior índice de controle, imposição e moral heterônoma. Havia muitas regras e as vezes não coerentes. Além disso, notou-se que não havia hierarquia sobre normas, ou seja, uma norma de cunho moral era tratada como qualquer outra norma. Na verdade não havia oportunidade para reflexão de conduta e valores e as regras já eram dadas sem participação dos alunos.

Já na outra sala observada, com prática docente construtivista, percebeu-se um ambiente democrático onde eram propiciados momentos de reflexão e assembleia para confecção das regras, que eram poucas e necessárias. Procurava- se mostrar para as crianças as consequências naturais de seus atos, sendo que muitas vezes apenas uma conversa já resolvia a questão, ao invés de já apresentar uma regra pronta. Notou-se quando os alunos participam da elaboração de uma regra, sabendo sua causa e justificativa, há maior respeito sobre ela.

Na verdade, no início da pesquisa ficou claro que as duas professoras tinham o mesmo objetivo na formação moral de seus alunos e compreensão das regras, porém sob práticas diferentes.

- Preconceito e diversidade:

De acordo com Pinheiro (2011), preconceito e diversidade são aspectos relevantes quanto a educação moral mediante prática docente. Sabe-se que fazemos parte de uma sociedade preconceituosa onde, situações de machismo, homofobia, recismo, desvalorização por conta de origem e classe social, dentre tantas outras situações, são presenciadas frequentemente, quando não abordadas pelos veículos de comunicação. Nesse sentido, se ressalta a necessidade e importância de evidenciar e trabalhar essas questões dentro das escolas, por via da educação moral.

A prática docente deve propiciar oportunidades educativas que contemplem as faces do preconceito e suas consequências sociais e individuais, bem como, o respeito à diversidade e ao próprio sujeito que protagoniza essa diversidade. Deve se apontar a origem de dado preconceito e fazer com que o aluno reflita sobre tal, para que ele construa seu modo de ação respaldado em valores morais.

Além disso, o preconceito contido na sociedade pode se dar também dentro das escolas e tal situação deve ser abordada de maneira a desconstruir essa visão preconceituosa, a partir da transmissão de valores morais e do espaço para a reflexão de conduta. A sociedade carece de indivíduos mais justos, coerentes, livres de valores destrutivos sobre o outro, que respeita a existência e os direitos do individuo. O quanto antes o sujeito detiver a consciência disso, mais fácil será para adotar uma conduta coerente em situação de preconceito. Por isso mesmo tem-se a escola como um ambiente potencialmente apto para a transmissão de valores morais quanto o respeito a diversidade.

Além de situações que aparecem no dia-a-dia da sala de aula, pode-se também trazer essas questões para a classe por meio de atividades planejadas pelo professor e projetos oferecidos pelas escolas. Como, por exemplo: feira de ciências, textos, aulas, enfim... De uma forma ou de outra, essas questões estão presentes no cotidiano das crianças, nas diferentes esferas sociais as quais fazem parte. Essas questões, infelizmente, não são desconhecidas por elas e, nem a margem de sua realidade. O que precisa de fato é desconstruir valores que não respeitam a existência de outra pessoa, sob qualquer justificativa, uma vez que, o preconceito pode ser fruto de uma construção individual, porém é realizada em relação constante com o meio.

- Formação docente:

Diante da importância da prática docente no tocante a educação moral, cabe aqui abordar a formação a qual os professores foram submetidos. Essa questão será abordada sob duas frentes, a da formação moral dos professores como indivíduos, portadores de valores morais que foram construídos de acordo com suas próprias vivências e experiências; e a da formação de professores, inicial e continuada, considerando a moral sob o viés acadêmico.

- Formação moral do professor como sujeito:

A transmissão de valores morais não se separa do indivíduo que a executa, por isso é importante ir percebendo e mapeando, como as pessoas que deveriam oferecer e aproveitar as oportunidades para a promoção da educação moral em valores aprenderam e desenvolveram a moralidade, seja na escola, na família e demais intuições sociais pois, temos como fator preponderante quanto a atuação docente e de gestão, os próprios valores morais que esses agentes educacionais possuem, e que, direta ou indiretamente, afetam a forma e a intensidade que a educação moral se dará dentro das escolas. Porém, considerando que esses valores são fluidos e mutáveis, tem-se necessárias a disposição de pesquisas que elucidem a importância da educação moral no processo escolar, como será mostrado adiante.

Conforme Muller; Alencar (2012), que intencionou saber como aprenderam as pessoas que ensinam moralidade na escola, percebeu-se que a maior parte dos professores aprenderam por coação, imposição, senso comum e pragmatismo. Sendo que, alguns deles, ainda continuam ensinando como aprenderam por acreditarem que essa prática seja eficaz. Pensando num efeito cíclico, tem-se um quadro preocupante, dado que, a educação moral ofertada dentro das escolas reflete na moralidade pública. E sabemos que essa pesquisa, embora tenha observado apenas duas classes, traduz a realidade presente na vida de muitos professores, justamente pela educação moral não ter a relevância que deveria dentro do contexto educativo e, posteriormente, social.

- Formação inicial e continuada:

Na mesma linha de pensamento, pode-se questionar a formação inicial a qual esses profissionais foram submetidos, bem como, a presença ou ausência de formação continuada quanto a abrangência do tema da educação moral, até mesmo para que, as já citadas pesquisas, tenham um papel relevante nessa mesma formação. Em seu trabalho de pesquisa, Patto (1990), já denunciava, ainda que na década de setenta, data de seu trabalho, a formação inicial dos professores dotada de preconceito, bem como o desamparo sofrido por eles após essa formação no tocante a formação continuada dentro, e fora das escolas de atuação.

Por isso mesmo, os artigos utilizados apontaram para a necessidade de pesquisas com enfoque no tema, tanto direcionados para o ensino na educação superior, quanto pesquisas de cunho teórico e metodológico para ensino na educação básica. Pois, se problematiza tanto a formação inicial e continuada dos professores e gestores educacionais, bem como, os materiais metodológicos para subsídio do trabalho dos docentes em classe. Sabe- se que os valores morais, como já mencionado, se adquirem e se transmitem, sumariamente pelas relações de convivência, de forma cotidiana, porém, a problematização de questões morais em classe, de forma planejada e metodológica, também resulta em oportunidade para direcionar condutas que demandam valores de justiça e empatia por exemplo, que estão presentes na sociedade e por consequência, nas escolas.

De uma forma ou de outra, a atuação docente não pode ocorrer de forma pragmática, intuitiva, baseada no senso comum ou como aprenderam a moralidade, ao contrário disso, como qualquer área da educação, demanda estudos e pesquisas acadêmicas, demanda contato prático com o tema, demanda a presença da educação moral nos núcleos de formação pedagógica, seja ela inicial ou continuada, para que sua intervenção dos professores seja o máximo possível voltada para a transmissão de valores.

Pesquisas sobre educação moral:

Como mencionado acima, o contato com a bibliografia utilizada apontou para a necessidade de pesquisas que problematizem a educação moral, podendo ser de cunho menos teórico e mais prático e, que considere a experiência, vivência e prática pedagógica, no sentido de oferecer subsídio aos professores para que, de fato, seja propiciada aos alunos maiores oportunidade para a educação moral no processo de escolarização.

Pensamos ser importante a abordagem desse tema já na formação inicial para que, quem não teve oportunidade de aprender tais valores e sua importância, o tenha na graduação, a partir de aulas, projetos, referências bibliográficas, dentre outras ações que possibilitem a aquisição, reforço ou transformação dos valores morais e, o subsídio necessário para transmiti-los por meio da atuação pedagógica. Porém, com isso não se dispensa a necessidade da formação continuada dentro da escola de atuação profissional, ou fora dela, por meio de cursos, palestras, projetos, leituras dentre outras práticas. De qualquer forma, é urgente a necessidade de contato dos professores com a educação moral, por isso mesmo tem-se a importância das pesquisas sobre a temática, para que sejam ofertadas fontes de estudos e pesquisas, pois não se pode apenas cobrar que o professor trabalhe educação moral sem o subsídio necessário para tal.

Os professores precisam de amparo pois, como já vimos, muitos deles ensinam moralidade como aprenderam, de forma pragmática e intuitiva, o que não quer dizer que o façam propositalmente, muitas vezes é por falta de conhecimento, pois também lhes faltou a oportunidade de uma educação moral baseada em ações reflexivas e não pautada em regras e coação. Por isso, Muller; Alencar (2012), afirma que a educação moral precisa ser estudada pelos professores, apontando também a necessidade de pesquisa e problematização do tema justamente, para que a educação moral não seja transmitida aos alunos com base no senso comum trazido pelos próprios professores. Ainda levanta o fato de que, os valores morais não podem ser ensinados ou transmitidos a partir da imposição, pois assim, colocaria em risco o desenvolvimento da moral autônoma, onde o sujeito detem a autonomia moral sem um comando externo para isso, pois os valores já se lhe tornaram inerentes.

Prática escolar:

Além da prática docente, é preciso considerar a prática escolar, no sentido de cultura escolar pois, vemos muitas vezes práticas escolares pautadas na exclusão, no preconceito, na legitimação de estereótipos, nos princípios do autoritarismo e da via unilateral, o que dificultaria a educação moral em valores dentro das instituições de ensino.

Citando o trabalho de PATTO, temos a preocupação da autora com essa visão maior das práticas escolares excludentes, ainda que seu trabalho seja focado no fracasso escolar das camadas mais pobres da população, temos respaldo teórico para citar essa fonte.

[...]a desvalorização social da clientela e o preconceito em relação a ela certamente estão entre as principais ideias feitas se acriticamente incorporadas; longe de serem meras opiniões gratuitas, essas ideias ganham força ao serem confirmadas por um determinado modo de produzir conhecimentos, que alça opiniões do senso comum ao nível de verdades cientificas inquestionáveis. (PATTO,1990, p.341).

E, seguindo com a problematização da prática escolar negativa, conclui apontando para a situação estrutural e cotidiana dessa mesma prática: “Como vimos, esse processo é estruturante de práticas e processos que constituem desde as decisões referentes à política educacional, até a relação diária da professora com seus alunos.” (PATTO,1990, p.341).

Assim sendo, é necessário que se pense o quanto essas práticas são nocivas a educação moral dentro das escolas, pois essas podem acabar reproduzindo valores presentes na sociedade.

Quanto a prática docente, e até mesmo escolar, numa visão mais ampla, Dias (1999), nos remete ao cenário atual, apontando para a tecnificação e racionalização das relações sociais, trazendo a luz a necessidade de novos valores educativos pautados na cooperação e não na competição, no diálogo e não na imposição, onde os professores detenham os subsídios teóricos-metodológicos para propiciar aos alunos um raciocínio moral, formado e amadurecido no dia a dia através de experiências que assim o possibilite.

No plano das ideias, a vida na escola encontra-se imersa na cotidianidade, contrariando a própria definição de seus objetivos, segundo a qual o espaço escolar seria um lugar privilegiado de atividades humano-genéricas. Juízos provisórios e ultra generalizações cristalizados em preconceitos e estereótipos orientam as práticas e processos que nela se dão, pensamento e ação manifestam-se e funcionam exclusivamente enquanto imprescindíveis à simples continuação da cotidianidade, característica do “economicismo” da vida cotidiana; “utilidade” e “verdade” são critérios que se sobrepõem, o que a torna uma vida marcada pelo pragmatismo. Por isso, a ação que nela se desenvolve é prática e não práxis, é atividade cotidiana irreflexiva e não atividade não-cotidiana ou atividade humano-genérica consciente. (PATO, 1990, p.345 e 346).

É necessário que as escolas desenvolvam projetos e aulas que comtemplem a oportunidade da transmissão de valores morais pautados na justiça e no bem maior, para que, os alunos possam aprender esses mesmos valores. Da mesma forma, é necessário que a pratica cotidiana dos professores e gestores possibilite esse fato, seja na transmissão dos conteúdos, na compreensão sobre um conflito, em um dada baixa escolar, em um comportamentos não adequado segundo os costumes da escola, enfim, em todos os momentos possíveis do cotidiano escolar, fomentando princípios de cooperação e não de comparação e competição, tentando sanar, ainda que em partes, a comparação do cenário escolar com a lógica empresarial e de mercado.

Conclusão:

Após o término do trabalho pudemos compreender a relação entre liberdade e justiça na medida em que, o sujeito deseja ser justo, sem que alguém o imponha tal comportamento. Educação moral adquirida pelo habito, sendo um exercício composto pela prática moral autônoma demonstrando o desejo de ser justo.

Sugestões:

• Abordagem do tema em reuniões pedagógicas tais como HTPC;

• Atuação da equipe pedagógica para auxílio aos docentes quanto à busca de materiais e pesquisas;

• Compreensão da educação moral como um agente presente em ações cotidianas na escola e, portanto a transmissão de valores se faz também de forma não intencional;

• Utilização do tempo de aula para a resolução de dilemas morais, que o façam refletirem nos valores a serem empregados em dada situação;

• Orientação dos demais funcionários no trato dos alunos para transmitir valores justos;

• Reciprocidade;

• Pratica escolar e por consequência, pratica docente pautada na cooperação, reflexão, democracia para a criação de cidadãos éticos e justos.

Objetivos:

Evidenciar um tema de notável relevância justamente pela sua necessidade de desenvolvimento e aplicação social, no caso, a educação moral. Sendo tais valores transmitidos, prioritariamente, pelas relações de convivência, tem-se o espaço escolar como um ambiente propício para o desenvolvimento da moralidade. Assim sendo, intenciona-se apresentar e discorrer criticamente sobre as constantes e as variáveis que permeiam a educação moral dentro das escolas sendo elas, a convivência (entre pares ou não), prática e formação docente, prática escolar (no sentido de cultura escolar) e, por fim, o âmbito das pesquisas relacionadas a educação moral.

Pretende-se ainda a utilização dessa pesquisa como fonte que auxilie a prática docente e escolar no que se refere a educação moral, trazendo situações cotidianas apontadas pelas fontes utilizadas, bem como pelas sugestões das autoras dessa pesquisa, como oportunidade de apresentar de forma analítica e critica as abordagens da educação moral no cenário escolar em suas diferentes esferas.

Referencial teórico:

A pesquisa foi composta por nove artigos datados de 1999 a 2017, sendo eles em sua maioria fontes de pesquisa documental e qualitativa e, um deles, uma pesquisa mista. Em todos eles, em maior ou menor escala, esteve presente os pressupostos centrais, que atuam como eixos norteadores para a educação moral nas escolas: prática e formação docente, pesquisas sobre educação moral e prática escolar.

Além disso, cada artigo se valeu do seu próprio objeto de pesquisa para discorrê-lo e analisá-lo sob a ótica da educação moral dentro das escolas. Percebeu-se interesse em demonstrar situações cotidianas, no contexto educacional, que demandariam certa necessidade de senso moral, como via de mostrar que as crianças precisam conviver com esses valores e que, os mesmos, podem ser trabalhados no dia-a-dia escolar por conta das situações que assim o possibilite.

Modos de pesquisa:

Trata-se de uma pesquisa documental, executada a partir do levantamento de artigos, extraídos do SCIELO, que discorriam sobre a moralidade e a reponsabilidade das instituições de ensino em promover a educação moral em valores por meio de oportunidades educativas para tal.

Após o levantamento do material a ser utilizado, foi feita uma seleção onde foram retirados os artigos que achamos pertinentes e, dessa maneira, eles foram lidos e analisados para que, de fato, pudessem subsidiar a presente pesquisa. Dessa forma procuramos encontrar pontos em comum sobre a educação moral, dentro das escolas e assim percebemos a presença de fatores que, atuam como eixos norteadores sobre essa questão. São elas, a prática docente, formação docente, pesquisas sobre educação moral e prática escolar.

Encontrados os pontos em comum, julgou-se pertinente verificar também os pontos diferentes, mas não contrários, que argumentavam sobre educação moral dentro das escolas. Assim sendo, pode-se notar dados pontos sendo eles, a presença de questões e dilemas morais como preconceito em suas diferentes esferas, elaboração de regras e, resolução de conflitos.

Seguimos com o trabalho discorrendo tanto sobre os apontamentos em comum, quanto os que diferem entre si, mas focam no mesmo objetivo, no caso, a educação moral. E por essas vias concluímos nossa pesquisa.

Bibliografia

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PATTO, Maria Helena Souza. A produção do fracasso escolar: história de submissão e rebeldia. São Paulo: T.A. Queiroz, Editor, 1990.

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Cristina Barcelos Rodrigues Pinto
Enviado por Cristina Barcelos Rodrigues Pinto em 13/02/2020
Código do texto: T6864894
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