Análise da obra: "Caetano de Campos: Fragmentos da história DA instrução pública no estado de São Paulo"

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP)

FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FEUSP)

Disciplina: Ética e educação

Docente: Maria de Fátima

Aluna: Cristina Barcelos Rodrigues Pinto

Analise sobre a obra: "Caetano de Campos: Fragmentos da História Da Instrução Pública no Estado de São Paulo” - Jardim da Infância

Obra organizada por Maria Candida Delgado Reis em um Trabalho lançado pela Associação de Ex Alunos do Instituto de Educação Caetano de Campos, “Caetano de Campos: Fragmentos da História Da Instrução Pública No Estado de São Paulo", tem sua primeira parte direcionada a etapa escolar do jardim de infância, onde, Moysés Kuhlmann Jr, mestre em educação pela PUC/SP e pesquisador da Fundação Carlos Chagas, faz um relato agradável, porém, preciso, das práticas e rotinas adotadas, bem como os aspectos históricos que permeiam a instituição em questão.

O livro é dividido em duas partes: na primeira há a contribuição dos historiadores e são recuperados vários aspectos da longa e conflituosa história da escola Caetano de campos, já na segunda parte são resgatadas memórias de antigos alunos e as diferenças de gênero, de gerações, classes e etnias. Dessa maneira, a obra se utiliza de fontes diversas e não materializadas como fotografias, vestígios de publicações, notícias, jornais e relatos orais. A diversidade e a interdisciplinaridade de fontes são importantes pois é possível fazer uma análise mais profunda dando margem a várias interpretações e evitando assim que se conte a história única que privilegia determinados grupos sociais e exclui outros como destaca Pinsky e Luca: “definia-se como critério de seleção que por muitos anos privilegiou os fatos ditos excepcionais e personagens-ilustres, construindo-se uma história de poucos” (Pinsky ; Luca, 2009).

O livro destaca também que os espaços enquanto suportes físicos da memória são importantes, mas as lembranças são mais duradouras que os lugares e edifícios. A escola Caetano de Campos está localizada na praça da república, sendo assim, é retratado a sua história e a sua memória desde o principio quando utilizavam esse enorme espaço para fazer festas populares ou quando a reformaram em 1902, a transformando em um modelo de jardim moderno projetado para a elite ou quando a praça foi um espaço conquistado para a livre expressão, discussão de ideias e luta política principalmente no Estado novo e na ditadura militar, entre outros acontecimentos. No livro o historiador e as suas fontes mostra a importância de resgatar a história do entorno em que está localizado o edifício e inserir seu significado no processo histórico mais amplo: “Estudar e selecionar um exemplar de palacete residencial, por exemplo, implicava recuperar a evolução urbana do município da qual era parte, analisar a conjuntura em que emergia e relacioná-lo com demais imóveis coevos, representativo daquela paisagem urbana e ou etapa histórica, inserindo-o no processo histórico mais amplo” (PINSKY, LUCA, 2009). Em um trecho da obra é citado esta questão:

“Será através dos depoimentos de viajantes, memorialistas e de velhas fotografias que buscaremos alguns relances do passado e faremos, em diversa companhia um passeio imaginário pela vela praça” (Reis, 1994).

Com isso o objetivo do trabalho é mais do que a preservação da memória da instituição, ele vai de encontro ao movimento que visa a reativação da entidade até a transformação do prédio em um centro de documentação, memória e estudos sobre o ensino, atuando, nesse sentido, sobre a formação de professores. Além disso, intenciona a devolução do prédio ao patrimônio da Secretaria da Educação, bem como, a revisão e ampliação de seu tombamento.

Cronologia:

• 1894: Inauguração do edifício da Escola Normal Caetano de Campos.

• Primeiro governo da Primeira República

• Positivismo: Progresso pela educação, ilusão liberal e a crença no poder da instrução pública como alicerce das instituições democráticas, em que a educação é tida como instrumento de transformação social e reforma política, entretanto a instrução é utilizada como instrumento manipulação ideológica para ocultar a contradição existente entre o discurso liberal e a manutenção da ordem existente

• Substituição de igrejas por escolas

• 1896: Inauguração do prédio do Jardim da Infância, em caráter provisório, na Avenida Ipiranga.

• 1897: Conclusão do edifício do Jardim de Infância junto à Escola Normal Caetano de Campos.

• 1930: “Estudo de um Plano de Avenidas para a Cidade de São Paulo” elaborado por Prestes Maia, engenheiro da Secretaria de Viação e Obras, visava destruir todo o edifício para dar lugar à Câmara dos Deputados, numa obra monumental .

• 1940: Demolição do prédio do Jardim de Infância, durante a gestão de Prestes Maia como prefeito da cidade de São Paulo, para dar lugar a Avenida São Luís.

• Década de 1970: Anúncio da demolição do prédio pelo metrô, para a construção da estação República, fato que culminou em grande manifestação de ex-alunos e da sociedade em geral, contrários a essa situação;

- 100 ex-alunos: Assembleia Legislativa de São Paulo – negativa;

- Mandado de segurança contra o Metrô e contra o prefeito – concedido pelo juiz;

- Contrário a decisão do governo militar;

• 1978: Tombamento do edifício pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico – CONDEPHAAT;

• Fechamento da Escola – transferência dos alunos.

Hoje, o edifício funciona como escola do Estado de São Paulo e está em posse da Secretaria da Educação do Governo do Estado de São Paulo, órgão público.

CAETANO DE CAMPOS

Para entender sobre a instituição Caetano de Campos, vamos entender quem foi esse personagem tão importante na educação da escola nova no Brasil. Caetano de Campos(São João da Barra, 17 de maio de 1844 , São Paulo, 12 de setembro de 1891), foi um médico e educador brasileiro. estudou no Colégio Tautphoeus na capital do Império e cursou medicina na Escola de Medicina, onde entrou com 17 anos e se formou aos 23 anos, em 1867. Serviu como cirurgião na Marinha do Brasil durante a guerra do Paraguai. Vítima de beribéri abandonou o serviço militar e prestou concurso para a disciplina de parasitologia médica na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, ficando em segundo lugar.

Deslocou-se para São Paulo, indo residir na chácara Figueira, no Brás, de propriedade de Brazílico Aguiar, filho de Dona Domitília de Castro e Canto Melo, a Marquesa de Santos. Após algum tempo praticando medicina como médico particular, foi nomeado em 1 de janeiro de 1872 médico e cirurgião da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Estabeleceu-se na capital paulista onde acabou por se dedicar à educação. Por indicação de Rangel Pestana foi convocado pelo então presidente do estado, Prudente de Morais, para reorganizar o ensino público paulista, iniciada em 1890. Com a reforma que levou seu nome, institucionalizou pela primeira vez o método defendido pelo Movimento dos Pioneiros da Educação Nova, baseado no educador norte-americano John Dewey. Aglutinou diversos intelectuais e constituiu a primeira escola normal de São Paulo, a partir dos métodos modernos baseados na escola americana.

Jardim da Infância Caetano de Campos

Froebel:

Uma das principais figuras inspiradoras da escola nova foi Froebel, Na obra é citado que no jardim da infância havia pinturas dele feitos á óleo.

Friederich Froebel nasceu em 21 de Abril de 1782 na Alemanha, foi um dos primeiros educadores a considerar o início da infância como uma fase de importância decisiva na formação das pessoas - idéia hoje consagrada pela psicologia, ciência da qual foi precursor. Froebel viveu em uma época de mudança de concepções sobre as crianças e esteve à frente desse processo na área pedagógica, como fundador dos jardins-de-infância, destinado aos menores de 8 anos. O nome reflete um princípio que Froebel compartilhava com outros pensadores de seu tempo: o de que a criança é como uma planta em sua fase de formação, exigindo cuidados periódicos para que cresça de maneira saudável. As técnicas utilizadas até hoje em Educação Infantil devem muito a Froebel.

Para ele, as brincadeiras são o primeiro recurso no caminho da aprendizagem. Não são apenas diversão, mas um modo de criar representações do mundo concreto com a finalidade de entendê-lo. Com base na observação das atividades dos pequenos com jogos e brinquedos, Froebel foi um dos primeiros pedagogos a falar em auto-educação, um conceito que só se difundiria no início do século 20, graças ao movimento da Escola Nova. Por meio de brinquedos que desenvolveu depois de analisar crianças de diferentes idades, Froebel previu uma educação que ao mesmo tempo permite o treino de habilidades que elas já possuem e o surgimento de novas. Dessa forma seria possível aos alunos exteriorizar seu mundo interno e interiorizar as novidades vindas de fora - um dos fundamentos do aprendizado, segundo o pensador.

Ao mesmo tempo que pensou sobre a prática escolar, ele se dedicou a criar um sistema filosófico que lhe desse sustentação. Para Froebel, a natureza era a manifestação de Deus no mundo terreno e expressava a unidade de todas as coisas. Da totalidade em Deus decorria uma lei da convivência dos contrários. Isso tudo levava ao princípio de que a educação deveria trabalhar os conceitos de unidade e harmonia, pelos quais as crianças alcançariam a própria identidade e sua ligação com o eterno. A importância do autoconhecimento não se limitava à esfera individual, mas seria ainda um meio de tornar melhor a vida em sociedade.

Além do misticismo e da unidade, a natureza continha, de acordo com Froebel, um sistema de símbolos conferido por Deus. Era necessário desvendar tais símbolos para conhecer o que é o espírito divino e como ele se manifesta no mundo. A criança, segundo o educador, trazia em si a semente divina de tudo o que há de melhor no ser humano. Cabia à educação desenvolver esse germe e não deixar que se perdesse. O caminho para isso seria deixar a criança livre para expressar seu interior e perseguir seus interesses. Froebel adotava, assim, a idéia contemporânea do "aprender a aprender". Para ele, a educação se desenvolve espontaneamente. Quanto mais ativa é a mente da criança, mais ela é receptiva a novos conhecimentos.

A escola de Caetano de Campos não usava princípios religiosos, mas usava princípios morais. Presentes nas músicas, nas atividades e etc. Gabriel Prestes fez um extenso pedido de materiais froebelianos, e esses materiais possibilitaram a formação das professoras, pois, precisavam de instruções para utiliza-lo. O tempo era programado e determinado no ritmo das atividades do pedagogo alemão.

A Clientela do Jardim da Infância:

Era de caráter elitista, “desde a primeira turma e por um longo período”. Em sua maioria, representantes da elite política, econômica, empresarial e intelectual paulistana. A obra fala dos diversos nomes elitizados que frequentaram a escola, e cita que se por um lado as elites foram favorecidas nas matriculas, por outro, a escola pública foi capaz de atrair essa classe, o que dificilmente aconteceria atualmente.

Aspecto Físico:

“ O novo prédio, aos fundos e completamente isolado do resto da Escola Normal, era cercado por um vasto jardim. Davam acesso a ele duas escadas em fracas rampas com pequenos degraus, assim construídas para evitar que as crianças caíssem ao subi-las. Compunha-se de quatro salas de aula e um grande salão central de forma octogonal para reuniões em geral e solenidades infantis, de 15m×15m, onde foram pintados a óleo, entre outros, os retratos de Froebel, Pestalozzi, Rousseou e Mme. Carpenter. O salão era coberto por uma cúpula metálica, abaixo da qual havia uma galeria sustentada por colunas de ferro, destinada ao público por razão de festas. Havia mais duas salas anexas ao corpo do edifício, uma para o depósito do material e outra para a reunião das professoras, perfazendo uma área de 940 m2. Dos lados e no meio do jardim erguiam-se dois pavilhões para recreio das crianças.”(pág.63).

Organização do jardim:

Estrutura de funcionários

- Inspetora

- Auxiliar de Inspetora

- Porteiro

- Guardiã

- Servente

- Professora

- Auxiliar de Professora

Horário do terceiro período (crianças de seis anos):

O horário das atividades era pré-determinado Bem definida e extensa;

Eu duravam quatro horas: vinte momentos diferentes, sendo que nenhum deles ultrapassava os quinze minutos; continha exercícios de linguagem, dons froebelianos, trabalhos manuais, modelagem, desenho, números, cores, música, ginástica e “ brinquedos”.

11:00-11:10 – canto, revisão, chamada;

11/10-11:25 – ensaio de canto geral(b) com a professora(a);

11:25-11:40 – conversação

11:40-11:50 – recreio

11:50-12:00 – marcha

12:00-12:15 – desenho nas lousas com varetas;

12:15-12:25 – música(a); ginástica(b);

12:25-12:30 – preparação para o lanche;

12:30-12:45 – lanche em classe;

12:45-13:00 – recreio no jardim;

13:00-13:15 – revisão, canto, chamada;

13:15-13:30 – primeira seção, bola; segunda seção, formação de palavras com letras impressas(a); anéis(b);

13:50-14:05 – trabalho manual, modelagem, segunda; ervilhas, terça; dobradura quarta e sexta,; entrelaçamento, quinta; alinhavo sábado;

14:05-14:15 – recreio

14:15-14:25 – brinquedo;

14:25-14:40 – exercício de cálculo com cubinhos;

14:40-14:55 – pensamentos, mérito, despedida;

14:55-15:00 – saída.

(a) segundas, quartas e sextas-feiras; (b) terças, quintas e sábados.

Revistas do Jardim da Infância:

Editada pelo então diretor Gabriel Prestes, já em 1986. Visava “tornar conhecidos os processos empregados em tais instituições de ensino e reunir os elementos artísticos necessários à organização do ensino infantil pelo sistema froebeliano" Manual para as Jardineiras, tanto no Jardim de Infância Caetano de Campos quanto para outras unidades, particulares ou pública. Com dois números publicados, em 1896 e 1897, com cerca de trezentas páginas, contando com artigos voltados para a prática docente. Sendo o segundo volume foi um espaço cedido para teoria de Froebel

REFERÊNCIAS:

CAMPOS, Caetano. “Fragmentos da História da Instrução Pública no Estado de São Paulo”. SÃO PAULO. 1994

Cristina Barcelos Rodrigues Pinto
Enviado por Cristina Barcelos Rodrigues Pinto em 12/02/2020
Reeditado em 12/02/2020
Código do texto: T6864429
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