POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA NA PRIMEIRA REPÚBLICA ©
O presente trabalho tem como o objetivo expor ao cidadão uma visão ampla de como se desempenhou a diplomacia brasileira ao longo do século passado com os modelos adotados por alguns dos precursores da política externa do Brasil, considerando suas percepções, suas crenças, bem como a influência externa vivida pelos seus expoentes no processo de fundamentação dessa política.
Com a finalidade de contribuir assim para construção cognitiva de um julgamento crítico e imparcial, e situar o indivíduo no tempo e no espaço, dentro de um contexto político, histórico, econômico e cultural, que o auxiliará no desempenho das atividades acadêmicas e profissionais, capacitando-o para cooperar de forma positiva no desenvolvimento do país.
A resenha critica aborda o tema “O Brasil no continente e no mundo: Atores e imagens na política externa brasileira contemporânea”, destacando ”Rio Branco e Joaquim Nabuco; A ponte entre a tradição imperial e a diplomacia moderna"; As relações internacionais brasileira do período referente a república velha.
No mundo em que habitamos precisamos estar atentos às mudanças constantes que se apresentam a todo o momento, e saber discernir dentre elas as que melhor representam o modelo de paz, liberdade, direito e progresso, valores fundamentais preconizados pelas democracias soberanas, para as relações internacionais “Todo ser humano tem o direito de viver sua utopia, mesmo que o resultado seja apenas desilusão”. A história é a amostra perfeita dessa afirmativa, no entanto contrariando a regra, especialmente no tocante a política externa brasileira e seus principais expoentes, alguns indivíduos não compactuam dessa certeza. Alexandra de Mello e Silva pesquisadora do Centro de pesquisa e documentação da Fundação Getulio Vargas (CPDOC-FGV), ao fazer uma análise de alguns dos principais atores, que conduziram à linha predominante de pensamento na política externa brasileira na primeira republica, entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século passado, e suas imagens de Brasil e de mundo, destaca a percepção de cada um deles como o ponto de partida para a ação nas relações diplomáticas brasileira no continente, no hemisfério e no mundo, sob uma ótica que considera os preconceitos, as crenças cognitivas e empíricas, normativas, instrumental e filosófica que se revelam através dos valores individuais, como também os processos geradores e os resultados alcançados, entre outros fatores de natureza política, ideológica e econômica. Ela faz uma abordagem, desde o fim do domínio da coroa portuguesa e o nascimento da republica. As afinidades com os Estados Unidos da America são reforçadas, quando se esperava um rompimento natural do paradigma americano iniciado no segundo reinado, se observa que apesar dos grandes embates de opiniões e fortes divergências internas, o Brasil segue firme nesse modelo de estreitamento de relações diplomáticas, comerciais e financeiras com aquele país, sobressaindo com outra estratégia e uma nova visão forjada por José Maria Paranhos da Silva Júnior, mais conhecido como barão do Rio Branco ou simplesmente Barão, seu principal expoente, e persistindo com Joaquim Nabuco até a revolução de 30, quando muda os atores, as estratégias, a conjuntura internacional, mas não o paradigma americano de relações internacionais. É importante destacar o suposto paradoxo ocasionado por esses dois formuladores do Itamarati que eram monarquistas convictos, possuindo fortes ligações com as elites políticas do império, as quais viam a Inglaterra como paradigma político, econômico e social do século XIX, enquanto que os republicanos influentes do eixo Rio, São Paulo, Minas, chamada República do café com leite, viam no EUA o modelo de democracia liberdade e progresso a serem seguidos pelo Brasil. Os dois praticamente não participam da vida política interna do país, a exceção da militância em prol da abolição vivida por Nabuco. O Barão adquiriu, simbolicamente, uma popularidade significativamente exagerada pela tradição, como o fundador do Itamaraty e chanceler de vários governos, defendendo os interesses nacionais nas disputas de limites territoriais, especialmente contra países da Europa, Ele achava que o Brasil, por tradição ou por continuidade, deveria manter as relações diplomáticas prioritárias com os estados Unidos da América, principalmente devido ao declínio do prestígio imperialista causado pelas guerras no velho continente, e à ascensão Americana como potência mundial. Os três elementos básicos integrados à sua visão de política externa foram: concepção realista de relações internacionais anárquicas entre os Estados soberanos, baseadas em recursos de poder; percepção da emergência dos EUA como pólo de poder hemisférico e mundial; certeza de estar dando continuidade à diplomacia empreendida pelo seu pai, Visconde do Rio Branco, denominada por Ele de tradição. Ele valorizava um conjunto de princípios como: pacifismo; igualdade jurídica entre os Estados; respeito ao direito internacional; continuidade e coerência; bem como valorizava o poder militar, devido à posição delicada do Brasil na América do Sul, preconizando um Estado militarmente forte e bem armado e defendendo a guerra como continuação da política. Objetivando a materialização de sua visão em que o Brasil poderia e deveria ter um papel de destaque nas Américas e no mundo, sejam pelas semelhanças culturais, situação atípica da língua e dimensões territoriais que possuía com a nova potencia que emergia, através de uma aliança pragmática, seja pelo ceticismo quanto à possibilidade de união entre os vizinhos hispano-americanos devido à desordem e atraso em que viviam, ou pela conjuntura internacional vivida naquele período com um aumento do prestígio do país, que vivia momento de pujança interna e externa. Por tudo isso foi o principal formulador e implementador da política externa da Primeira República. Rio Branco foi defensor enfático da doutrina Monroe, associando-a ao pan-americanismo, com princípios de: cordialidade; paz; harmonia; promoção social; amizade; fraternidade. Concedeu, assim como Nabuco, pleno apoio ao Corolário Rosevelt, votava sempre alinhado aos EEUU em todos os fóruns de decisões mundiais que participava e orientando os vassalos diplomatas, ao longo de sua passagem pela chancelaria Brasileira. Além disso, utilizavam-se dos recursos de poder materiais e/ou simbólicos como estratégias em sua política, enquanto para Joaquim Nabuco a soberania dependia mais dos recursos simbólicos que os recursos de poder. Eles divergiam: quanto à visão de mundo, Nabuco era idealista enquanto Rio Branco realista; quanto à concepção da união com EEUU, Nabuco preferia uma aliança tácita enquanto o Barão a pragmática; discordavam também quanto à relação com a Europa, “rompimento ou conotação de aliança”, e do fortalecimento das relações Sul Americanas, em relação à Pan-Americana, o primeiro via no apoio ao Corolário Rosevelt e nas alianças pontuais na América do Sul, uma forma de distanciamento dos países Europeus, e por fim houve um descompasso entre a posição de Nabuco e a defendida pelo Barão em Haia, de igualdade entre as nações, que era um contra-senso da certeza que tinha da hierarquia entre as nações. Para Paulo José dos Reis Pereira, mestre em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo UNESP-UNICAMP PUC-Sp e pesquisador do Observatório. Relações entre os Estados Unidos e a América Latina (OREAL), no seu livro “Política Externa da Primeira República e os Estados Unidos” no qual destaca a atuação que Joaquim Nabuco teve na condução do relacionamento com esse país, em que atuou como embaixador por cinco anos entre 1905 e 1910, definindo alguns aspectos do relacionamento que se estabeleceu, nos primeiros anos do século XX, entre o Brasil e os Estados Unidos, a partir de uma análise histórica, evidencia as concepções políticas e a influência que o primeiro ocupante do cargo de embaixador brasileiro nos Estados Unidos teve. Esse estudo retoma tal “história esquecida” de Nabuco, tão rica quanto à de sua época como abolicionista, só que inversamente creditada, reinserindo-a na política externa da Primeira República, numa expressiva conjuntura de aproximação político-diplomática entre o Brasil e os Estados Unidos. Rio branco, com a criação da embaixada brasileira em Washington em 1905, deu um novo fôlego ao movimento de aproximação com os Estados Unidos às concepções políticas e à influência que o primeiro ocupante do cargo de embaixador, Joaquim Nabuco, teve na condução desse relacionamento bilateral. Nabuco tentou imprimir em alguns eventos significativos da época um tom drástico para a política de aproximação com os Estados Unidos pelo embate de idéias e posições com Rio Branco, que o conteve em parte. Estimulado pelo receio do imperialismo europeu e deslumbrado com o substantivo crescimento do poder mundial dos Estados Unidos, Nabuco, apoiando-se no monroísmo como garantia de proteção para o território brasileiro, considerando este o interesse nacional mais imediato, formulou idéias sobre um sistema americano que deveria ser liderado pelos Estados Unidos, apreciados por ele como uma civilização-modelo e irradiadores de paz. Isso o levou a aceitar as pretensões desse país no continente, especialmente nas referentes ao pan-americanismo, retórica política utilizada para intensificar o comércio com os países sul-americanos e apaziguar as tensões provocadas pelas ações de polícia do corolário Roosevelt na América Central. Já Clodoaldo Bueno, um dos principais historiadores brasileiros da atualidade, em seu livro Política Externa da Primeira República, analisa de forma muito original os anos de apogeu da política externa da Primeira República. Colocando seu foco na transição da Pax Britânica para o início da hegemonia dos EUA, ele investiga com profundidade seus efeitos nas novas relações continentais, em especial no Brasil republicano de Rio Branco. O maior desafio desse trabalho é uma excelente reconstrução do sistema de idéias e referências do Barão chanceler.
Percebe-se que os atores aqui estudados, cada um em sua visão de como se adotar uma política de relações internacionais que favorecessem ou ajudassem a engrandecer o Brasil como nação, por serem monarquistas, defendia um ideal continuísta do poder das elites imperialistas, bem como, entendiam a necessidade de posicionar o Brasil no mundo quanto aos pólos imperialistas europeus e o expansionismo norte-americano e, ainda, outros aspectos atinentes às preocupações brasileiras com respeito ao contexto sub-regional (cone sul), acrescentando-se aí o debate interno sobre questões externas que afetariam destinos nacionais. A tensão de um pós-guerra, com um mundo evidenciando o surgimento de uma nova potência, tem nesses dois atores, que apesar de algumas discordâncias ideológicas, os principais defensores de uma política externa voltada para uma aliança com os EUA e sua Doutrina Monroe, no qual se vislumbrava o favorecimento em todas as áreas de atuação possíveis, por serem parceiros de uma nação considerada forte, politicamente e militarmente, e, ainda, com essa aliança, aproveitar-se disso para aumentar sua força política entre os Estados sul-americanos e/ou latino-americanos ou seu poder de barganha frente às nações ditas mais fortes. Enfim, Rio Branco e Nabuco tinham, naquele momento e contexto, a visão do que seria melhor para o país, em relação a melhor política internacional a ser adotada, apesar das discordâncias entre ambos e as desilusões experimentadas ao longo da vida na diplomacia brasileira. Houve acertos e erros, mas, suas ações foram amplamente estudadas pelos seus sucessores e, nas décadas seguintes, a ideologia de ambos, quanto à posição do Brasil em relação à comunidade internacional, ainda permaneceria em voga.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUENO, Clodoaldo. Política Externa da Primeira República: Os anos de apogeu – de 1902 a 1918. São Paulo: Paz e Terra, 2003. Disponível em: http://www.planetanews.com/produto/L/34953/politica-externa-da-primeira-republica-clodoaldo-bueno.html. Acesso em: 01 abr. 2008.
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PEREIRA, José dos Reis. Política Externa da Primeira República e os Estados Unidos (A): a atuação de Joaquim Nabuco em Washington (1905-1910). São Paulo: Hucitec/FAPESP, 2006. Disponível em: <http://www.hucitec.com.br/ produto.asp?categoria_id=56&id=1716>. Acessado em: 01 abr. 2008.
SILVA, Alexandra de Mello e. O Brasil no Continente e no Mundo: atores e imagens na política externa brasileira contemporânea. São Paulo: Revista da Fundação Getúlio Vargas, 2003. [S.l.], jun.1995. Disponível em: <http://www.cpdoc.fgv.br/ revista/arq/166.pdf>. Acesso em: 11 mar. 2008.