CARTÃO POSTAL DE CONSELHEIRO PENA-MG

Quando se chega a qualquer lugar do mundo, seja de ônibus, ou de avião ou mesmo de navio, o desembarque sempre é o momento da maior ansiedade de qualquer passageiro ávido por encontrar na sua chegada uma receptividade digna de uma nota e certificação do ISO.

A qualidade do receptivo muda todo panorama de uma boa estadia em qualquer lugar, por mais remoto que seja dos grandes centros.

Toda cidade tem na chegada do seu desembarque rodoviário uma marca, um registro interessante ou fotografia que representa o seu cartão postal. Um roteiro ecoturístico e até mesmo uma referência simples e acolhedora. Rede de hotéis, bares e restaurantes, praças, ambientes noturnos, templos religiosos, roteiros históricos, passeios a montes e cachoeiras dentre outras coisas. Tudo faz parte da propaganda turística.

Na minha última viagem à minha querida Conselheiro Pena-MG, ocorrida no dia 18 de janeiro de 2020, foi dotada de surpresas, como aquelas que tem um estrangeiro, ao chegar em terreno desconhecido e com a probabilidade de acontecer algo inesperado.

Fui de ônibus e o retorno foi da mesma forma. Nada mudou no trajeto e a chegada foi um tanto quanto desagradável. O que mudou no panorama foi a chuva que caia de mansinho fazendo o tempo agradável, enquanto o ônibus estacionava na plataforma de costume.

Fui o segundo a descer da minha embarcação e de pronto avisto a polícia militar presente e pronta para abordar passageiros vindos de Belo Horizonte. Não achei normal a presença dos homens de farda por ali, mas ainda que, em Conselheiro Pena, tive a sensação de plena segurança. Quase me senti um suspeito distante de casa, chegando à terra onde nasci! Foi então que me lembrei da música: Os Verdes Campos da Minha Terra – cantada por Timóteo; só que do lado avesso!

Já livre para caminhar pela pequena e modesta "rodoviária", resolvi que tinha a obrigação de entrar no ambiente dos sanitários, o qual normalmente chamamos de banheiro. Decidi isso preventivamente, pois a cidade é desprovida de sanitário público em todos os seus quadrantes. Qualquer forasteiro que sentir-se apertado e necessitando fazer as suas necessidades fisiológicas, deve conter-se em correr para a orla da cidade, onde há vegetação farta, por se tratar de uma cidade do interior, próprio de zona rural. Se assim acontecer, antes de tomar a drástica decisão de ir ao mato ou morro; pura perda de tempo pedir para usar o sanitário de comércio ou de moradores.

Mas, até ai tudo bem!

Fui ao “sanitário da rodoviária”, um ambiente que praticamente inexiste. Os chamados mictórios todos arrancados, os vasos sanitários sujos e lotados de detritos fecais, fedorento e com portas ordinárias. Nada que não pudesse deixar de causar transtorno a qualquer viajante, ficando ai o registro da primeira imagem de quem chega à cidade. Com isso nem precisava cartão postal!

Cabisbaixo, sai daquele ambiente fétido e disposto a sair da "rodoviária", quando vejo ao passar pela recepção dos guichês das empresas de ônibus, pregado na vidraça, o que de fato deve ter sido colocado ali propositadamente, para transmitir aos passageiros uma informação por meio da linguagem fotográfica.

Três quadros no formato 20X25 cada um, neles tendo 6 fotos cada, totalizando 18 registros fotográficos de pessoas humildes e conhecidas por todos indistintamente. Temos ali, uma alusão sem nexo ou talvez de zombaria, pelas qualidades de cada indivíduo vivo ou já falecido que passou por essa terra.

A cidade, sem um cartão postal de verdade a ser retratado e exposto aos passageiros que vão ou que chegam na cidade, o desfile de imagens torna-se grotesco, inconveniente, desrespeitoso, tendencioso e desumano para com a memória dos parentes que ficam, e in memória aos que se foram, mas deixaram suas marcas no contexto histórico do lugar.

Nada contra rever em fotos tais pessoas, mas com certeza a cidade tem muitas coisas boas e importantes para mostrar, sem se restringir a figuras como a de NAIR (citada como Nair da Zona, como se o pejorativo falasse mais alto que a própria existência da NAIR). O Zezinho da Pedra, o Adão e o Clemente (da família Loback), o Ispaia Brasa, Maria Apolinária e o Custódinho com uma garrafa de cachaça na mão. O Liu, Cachilepe, Catarina, Marcha Lenta, Luiz Bacana, e Geraldo Rachador de Lenha com o seu tradicional machado às costas. Vi ainda, no último quadro, a figura do BREU, Vovó Tereza, o já citado Clemente, a Jupira, Wanderlei Maravilha e por último o Azul Marinho.

Se fosse um acervo sério, teria um mural todo especial rendendo justas homenagens a estas e outras pessoas, que como esses, deixaram suas marcas na cidade; caso contrário não teriam sido lembrados.

Não sei de quem foi a ideia constrangedora, e ainda a forma de apresentar, dentro de uma rodoviária, o que de melhor existe na cidade. Ficou, sem dúvida, devendo para o que de fato se espera de um marketing direcionado ao merchandising de tudo quanto de bom se pode encontrar em Conselheiro Pena-MG.

Peço que um dia não incluam a minha foto no roll da rodoviária da minha cidade querida, onde nasci e gosto, mas diante de tudo, fico sem palavras e até com medo de voltar, mesmo a passeio… Adeus a todos vocês!

André Almeida
Enviado por André Almeida em 24/01/2020
Reeditado em 06/02/2020
Código do texto: T6849613
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