Contos cotidianos: A difícil arte de educar
A tecnologia tem contribuído imensamente para o progresso social especialmente na medicina, nas comunicações, não menos importante, em outras áreas.
Até pouco tempo, não existia ultrassonografia, para detalhar com precisão o sexo da criança antes do nascimento. Se de um lado, facilita para os pais que podem fazer o enxoval do bebê personalizado, e verifica-se o estado de saúde do feto, o que é maravilhoso.
Entre perdas e ganhos, é inegável que perde-se a simplicidade oriunda dos saberes populares, que possibilitava a descoberta do sexo da criança apertando o queixo da mãe, outras analisavam o formato da barriga, pelos desejos da mãe, enfim, era um leque de conhecimentos construídos ao longo do tempo e repassado pela oralidade que pouco a pouco vamos perdendo.
Seja por coincidência ou sapiência, dificilmente, as pessoas erravam em seus palpites, conforme o tempo avança, vemos como com toda suposta ignorância, as pessoas agiam corretamente.
Lembro que quando criança, tinha minha rotina para tudo, brincar, estudar e alimentar. Hoje, as crianças dominam os adultos de tal forma, que eles chegam desesperados nas clínicas em busca de ajuda, achando que o filho sofre de algum transtorno.
Sem sombra de dúvidas, com exceção de transtornos de saúde devidamente comprovados, o grande transtorno é que a família vem se desconfigurando nesta nova ordem social.
Os pais cada vez mais sem tempo, trabalham e trabalham e trabalham, não tem tempo para si mesmo, nem para os filhos, por sua vez os avós que nutrem pelos netos um amor especial, querem dar aos netos, o que não puderam dar aos filhos, os pais os compensam com presentes, o trem sai dos trilhos. A forma de educar é frente a televisão ou pelo celular.
As crianças não têm contato com a natureza, de tanto viver em apartamento, presas na tela, como presidiários, dentro da cela. Não ouvem o cantar dos passarinhos. não brincam na areia, não pintam com aquarela, não são raiz e sim “Nutella” Dificilmente brincam em frente ao mar, vão ficando azul, da cor de um avatar.
A criança se expõe a um mundo de vulgaridade, assistindo a vídeos idiotas, ou desenhos em contém sentimentos que violam a humanidade, a fraternidade e a solidariedade, construindo seres consumistas, invejosos e maldosos. Aprenderam que com chantagem se consegue tudo: Se eu ganhar aquilo, eu faço isto!
Excesso de mimos e a falta de liderança no lar, faz surgir os reizinhos mandões da atualidade, é chegada a hora da família ser forte, dar educação, ter moral, buscar um norte, ou terão tristes surpresas, ficando à mercê da sorte.
Ao invés de determinar os pais perguntam: Quer isto ou aquilo? Dando a criança empoderamento para dominarem os adultos, sabem que com birra conseguem tudo.
De outro lado, os pais justificam que agem assim para não serem rudes com as crianças esquecendo-se que autoridade é o oposto de autoritarismo. As crianças devem conhecer sua rotina, devem aprender valores como responsabilidade, respeito, senso de justiça, zelo, entre outros valores que nos tornam humanos mais afáveis.
Os pais quando chegam do trabalho, cansados, já não têm tempo de brincar com seus filhos, de contar histórias para ele se encantar, momentos necessários e significativos para a construção socio emocional da criança.
Às vezes, querendo compensar os filhos pela falta de tempo, começam a abrir mão fazendo tudo o que a criança quer. A criança é inteligente, sabe que se incomodar um pouco, logo terá o que quer.
Os avós que deveriam estar curtindo viagens, a que não tiveram direito na juventude, são intimados sumariamente a ajudar os filhos, cuidando dos netos. Os filhos esquecem que nesta idade, os avós desejam muito ser avós, desejam mais ainda, serem livres, jogar conversa fora passear, dançar, namorar, e por que não? Estão vivos afinal, apesar das marcas do tempo que fragilizam suas funções físicas, não querem mais ficar com “a boca escancarada e cheia de dentes esperando a morte chegar” ...
Cada vez mais vemos as vovós modernas abrindo mão desta responsabilidade de cuidar dos netos, e cuidar mais de si, afinal, a responsabilidade de criar é dos pais, que mudem a rotina e lancem a doutrina, como já diz o ditado popular: Quem pariu Matheus, que balance!