Resenha sobre a tradução do texto “The Dream: O Sonho” de O. Henry, traduzido por: Amílcar D’Avila de Mello, Denise Mesquita Correa, Iara Jane Wollstein, Lúcia de Almeida e S. Nascimento, Maria Lúcia B. Vasconcellos, Margaret Riederer, Sílvia Madeira Neve

O conto The dream foi escrito por O. Henry, que era o pseudônimo de William Sydney Porter, nascido na Carolina do Norte em 11 de setembro de 1862 e que faleceu em 5 de junho de 1910. Foi um dos maiores contistas do século XIX e um dos autores mais populares da época.

Nesse conto acompanhamos a trajetória de Murray na prisão até o momento de sua condenação à cadeira elétrica, através do ponto de vista de um narrador desconhecido. Antes do conto em si há a frase “Murray sonhou um sonho” que é derivada da frase e em inglês “Murray dreamed a dream”, vale ressaltar que outra tradução possível seria “Murray sonhava um sonho”, e o porquê dessas duas traduções serem viáveis será explanado ao final desta resenha. Agora analisaremos aspectos do conto em si, e posteriormente aspectos relevantes à tradução.

No conto, inicialmente, Murray recebe a visita de Bonifácio, detento com quem jogava damas, enquanto aguardava em sua cela o momento da execução. Eles conversavam sobre a postura adotada pelos outros presos diante de suas sentenças de morte, criticando-os pela falta de coragem. Entretanto, através da descrição da postura de Murray, o leitor percebe que o mesmo está indiferente quanto ao seu destino, pois não sabe a maneira adequada de lidar com isso.

Interrompendo a conversa, três homens entram na cela de Murray, dentre eles está o Reverendo Leonard Winston, que era seu amigo de infância. A partir desse momento, temos a impressão de que algo mudou dentro de Murray, pois apesar de sorrir para o velho amigo, o personagem não consegue cumprimentá-lo. Deste ponto em diante, o protagonista não tem mais falas ao longo do conto, de modo que subentendemos que ele esteja tentando suprimir o próprio sentimento de medo da morte.

Após o reverendo perdoar seus pecados, Murray é conduzido para o corredor da morte, intitulado no texto como Caminho do Limbo. No meio do caminho, Murray é abordado pelo guarda do pavilhão que lhe oferece um gole de whisky alegando que era um costume, e servia para acalmar os nervos. Murray bebe, e embora seja uma pessoa dotada de educação, ele não agradece, reforçando a teoria de que formular qualquer frase que fosse entregaria o temor que sentia. E isso seria inadmissível uma vez que, junto com Bonifácio, criticou os surtos e demonstrações de medo por parte dos detentos executados anteriormente. Assim, Murray prosseguiu em silêncio rumo a seu destino.

Ao sentar na cadeira elétrica, rodeado de espectadores, Murray sente que tudo o que está acontecendo é irreal, começando a se questionar por qual motivo está ali. É então nesse momento que percebemos o personagem entrar em colapso, negando e não acreditando na veracidade daquilo que o rodeia. De repente nos é dito que ele acorda e se depara com sua esposa e filho, ou seja, é nesse instante que sua válvula de escape é ativada e o sonho de fato começa. Diante disso, Murray realmente acredita que toda a sua jornada na prisão foi meramente um sonho, no entanto, logo que beija a testa de sua esposa o conto é interrompido, pois O. Henry morreu. Ainda assim, nos é dito que ao final do conto o personagem principal morre eletrocutado por ter assassinado a esposa em um surto de ciúmes.

Entrando nos aspectos referentes à tradução do texto temos as duas possíveis traduções da frase inicial “Murray dreamed a dream”, que podem ser alternadas de acordo com o ponto de vista do tradutor, pois se ele adotar a frase “Murray sonhou um sonho” (que foi a frase escolhida para a tradução do texto), estaria certo, já que a perspectiva seria de que o sonho acabou no momento em que o personagem foi executado. Entretanto, se o tradutor entender que Murray não completou a ação de sonhar pelo fato ter sido executado, então a frase “Murray sonhava um sonho” é a mais adequada.

Outro aspecto a ser discutido referente à tradução é a grafia do nome “Bonifacio”, que está em inglês, porém o tradutor poderia ter utilizado o nome grafado em português “Bonifácio”, pois esse nome existe no português do Brasil dentro da classe das palavras proparoxítonas. Essa tradução não afetaria o sentido do texto e seria mais adequada, uma vez que um leitor leigo poderia não identificar que o nome se encontra no idioma original. Ainda no que tange a apresentação do personagem Bonifácio, no texto original ele é apresentado como “Sicilian”, isto é, Siliciano, contudo esta informação foi omitida durante a tradução, talvez porque não fosse relevante na visão do tradutor ou porque o mesmo foi incapaz de inseri-la de uma forma que o texto prosseguisse coerentemente.

Em determinada parte do conto, o tradutor optou por traduzir literalmente a expressão “barefoots days” para “quando andavam descalços”, uma expressão não utilizada no Brasil e que poderia ter sido trocada para uma expressão mais comum como “dos seus tempos de menino”, “dias de infância”, dentre outros. Facilitando assim a compreensão do leitor.

No ponto em que são descritas as características do guarda que fica no Caminho do Limbo, o autor do texto original as separa por vírgulas, apresentando inicialmente características consideradas negativas e por fim uma positiva. Já na tradução, o escritor optou por utilizar uma conjunção adversativa para separar os defeitos da qualidade do personagem, no entanto, o uso dessa conjunção para introduzir algo positivo constitui um erro de coesão textual, pois a conjunção adversativa deve ser utilizada somente para introduzir algo negativo.

Por fim, a tradução da expressão “That’s the boy” para “É isso aí, garoto” que apesar de estar correta não é comumente utilizada, de modo que não reflete a realidade. Essa expressão que poderia ter sido trocada por “É isso aí!” ou por “Esse é o cara!”.

No geral, esta é uma tradução de qualidade, no entanto pecou em alguns aspectos no que se refere à substituição de nomes, a coesão textual e a adaptação de expressões que são aspectos realmente difíceis de modificar ao ser traduzir um texto.

Referência: http://sittingbee.com/the-dream-o-henry/

Cynthia Menezes e Suziane Borges
Enviado por Cynthia Menezes em 28/09/2019
Reeditado em 10/10/2019
Código do texto: T6756150
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