Projeto "Meninas SuperCientistas" incentiva garotas a serem protagonistas na ciência
Cinquenta meninas de 11 a 15 anos tiveram a oportunidade de conhecer o trabalho de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
O Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (IMECC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) não costuma receber tantas mulheres quanto deveria: aproximadamente 20% dos docentes e 27% dos estudantes de graduação e pós-graduação são mulheres. Em junho de 2019, parte desse desequilíbrio foi revertido com a ajuda de 50 meninas entre 11 a 15 anos que participaram do projeto“Meninas SuperCientistas”: nos dias 1º, 8, 14 e 29 daquele mês, o IMECC abrigou o evento que tem o objetivo de incentivar mulheres a serem cientistas. O público-alvo são estudantes de escolas públicas e particulares da cidade de Campinas, no interior de São Paulo e região.
“O Meninas SuperCientistas surgiu viando possibilitar a interação de meninas com exemplos de mulheres cientistas entre alunas de graduação, pós-graduação e professoras de diversas áreas da ciência, como Matemática, Física, Astronomia, Engenharia e Biologia, aumentando a sensação de identidade com a área”.
As participantes sorteadas, tinham muito em comum: eram curiosas, interessadas e participativas. Uma das alunas afirma: “A ciência nos ajuda a compreender o mundo, o conhecimento tem um valor enorme e há muito a ser descoberto”. Helena Rodrigues, do 6º ano da Escola Municipal Carmelina de Castro Rinco de Campinas expressa que durante o evento “descobriu coisas que não descobriria sozinha”.
Além de gostar de biologia e veterinária, outra aluna, expressou sua preocupação com os impactos humanos na natureza: “Precisamos consumir menos, reciclar mais, optar por produtos de menor impacto etc.”, conta ela, que aprendeu esses valores com a mãe, que está em um curso técnico ambiental.
O projeto Meninas SuperCientistas mostrou a representatividade das mulheres na ciência e na universidade pública. “Na escola, as mulheres são invisíveis em muitos aspectos. As garotas não tem vontade de fazer parte da ciência pela falta de exemplos”.
A ciência delas para elas
Iniciativas como palestras, experimentos, brincadeiras e trabalhos compuseram o projeto.
Explorando o universo matemático, as graduandas do curso de Licenciatura em Matemática do IMECC, Jessica Didole e Letícia Soriani, trouxeram conceitos sobre os sistemas de medidas e a geometria a partir do projeto “Fantástico Mundo Matemático”, canal do YouTube que apresenta "o terror de muitos alunos" de maneira simples e divertida. As professoras do instituto mostraram às meninas que ser uma matemática pode ser um caminho bem-sucedido para as mulheres.
Além das palestras, as participantes também puderam presenciar muitas novidades tecnológicas. Se impressionaram com o funcionamento de impressora à laser, impressora 3D, placas arduino e circuitos elétricos, atividades coordenadas pela arquiteta e professora Gabriela Celani da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp. Para Celani, o evento foi uma grande oportunidade de incentivar meninas a serem cientistas. “Sei que nem todas elas possuem incentivos ou exemplos como eu tive, então é muito bom compartilhar minha experiência com elas e, quem sabe, ajudar a mudar o rumo de suas carreiras”. Atualmente a professora desenvolve estudos sobre o uso da madeira engenheirada na construção de edifícios.
Uma pesquisadora, que trabalha no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), é uma das cientistas que trabalha no novo acelerador de partículas brasileiro, o Sirius, e explicou às meninas os potenciais de aplicação do acelerador, para estudos com nanomoléculas. O principal desafio na área de pesquisa se relaciona com as oportunidades de estágios, bolsas de estudo e ofertas de trabalho.
“Morei em vários lugares, vivi com pouquíssimo dinheiro e longe de casa. Foi difícil, mas faria tudo de novo. Tive alegrias durante meu percurso e espero continuar contribuindo com a criação de conhecimento”. É fantástico e fundamental mostrar às meninas as opções de carreira, encorajá-las a seguirem sua curiosidade, descobrirem seus gostos e suas habilidades. “Meninas podem ser o que quiserem! Cientistas, engenheiras, professoras, pilotos de avião, psicólogas, chefs de cozinha, lutadoras profissionais!”, ressalta.
Como últimas atividades do projeto, as participantes puderam aprender sobre programação com duas graduandas do curso de Ciência da Computação da Unicamp, além de participaram das atividades com diversos alunos do curso de Ciências Biológicas do Instituto de Biologia da Unicamp, que abordaram conceitos de genética, evolução, ecologia e produção científica. Por fim, visitaram o Museu Aberto de Astronomia, localizado no município de Joaquim Egídio, onde observaram o sol pelo telescópio e compreenderam um pouco mais sobre a vastidão do Universo.
Além de valorizar a carreira científica, que propõe soluções para diversos desafios da sociedade (crises hídricas, mobilidade urbana, controle de doenças, novas tecnologias), o evento é uma iniciativa em resposta a quantidade desproporcional de mulheres nas profissões STEM (acrônimo para Science, Technology, Engineering and Mathematics), reflexo de negligências na história, como a proibição das mulheres estudarem. “
“Ao dizer que dada profissão não é para mulher (ou para homem) estamos desperdiçando talentos. Quanto mais pessoas se interessam por uma profissão melhores serão os profissionais daquela área”, diz a professora, que se inspirou no irmão mais velho para cursar matemática. Dedicada à matemática pura, a coordenadora do projeto desenvolve estudos que auxiliam no desenvolvimento de modelos computacionais que simulam o movimento de fluidos, muito utilizados na construção de aviões, carros e navios, além de estar presente na indústria do entretenimento. “O filme Moana utiliza recursos computacionais para simular o movimento de bilhões de partículas de água e o resultado final se aproxima muito do movimento real da água”, exemplifica.