UM DIA FUI UMA CAIXA
Um dia fui uma caixa, dessas mesmo de papelão. Me lembro bem quando fui essa caixa, servi para alguns livros velhos, aqueles que guardam achando que um dia irão ler.
Sem chances, fui esquecida, e, após alguns anos conseguiram se desfazer. Noutro dia fui um pouco mais importante, o dia era corrido, e, no mercado cheio de gente, junto com a pressa de ir para casa, servi por alguns minutos para diminuir algumas sacolas, enfim ficaria mais pesados os produtos e iria demorar mais tempo até chegar em casa. Mas também não durei muito tempo, logo me colocaram numa caçamba com algumas coisas velhas e, alguns lixos. Não pensaram que poderia eu, uma caixa ser reciclável, ou até mesmo, fazer parte da casa, um arranhador para o gato Gerry, ser feliz por alguns meses.
Teve dias de felicidades, não sou hipócrita, servi para mudanças. Ahh! Quantas coisas, quantas felicidades!!! Era casa nova! Por esses dias fiquei feliz, às vezes num canto, outras vezes noutro. Mas lá estava eu! A caixa!!! Pena que foi ilusão, em algumas semanas já não tinha mais felicidade, a mudança já tinha acontecido, e então não precisavam mais de mim. Mas dessa vez me deixaram no portão, estranhei, já acontecia o poente, me apanharam pelos braços e tinha algumas coisas dentro de mim. Eram sim de valor, não para mim, obviamente.
Cheguei noutra casa, dessa vez foi mágico! Tinha muitas de mim, porém com aparências diferentes, algumas tinham desenhos brilhantes, outras com formatos de corações, e decorações "risos", em um momento me senti triste, eu era quadrada e não tinha cor. Mas estava num bom lugar, eu sentia isso. E no mesmo, me sentia cada vez mais leve, com mãos macias me esvaziavam. Me olhavam. Eu me senti nua! O que vão fazer comigo agora? Será esse o meu final?
NÃO!!!
Era apenas meu recomeço, ganhei um nome, já não era mais só uma caixa para mudanças, nem para aliviar pesos de pessoas com pressa, ou para guardarem livros e ser esquecida. Não pensaram em me reciclar, me fizeram renascer.
Um dia fui uma caixa.
Hoje eu guardo o ouro de quem me encontrou. Me sinto mais que a caixinha de Pandora.
Meu nome é Aurora!
- Viviane de Oliveira