"Elektra vive: a genialidade de Frank Miller em evidência num trabalho expressivo
Graphic novel com arte e roteiro de Frank Miller e cores de Lynn Varley. Essa edição foi publicada em 1991, no selo Graphic Album, pela editora Abril e, neste ano, recebeu um relançamento pela Panini, com capa dura e preço exorbitante.
Frank Miller é um daqueles raros artistas cujo traço nós reconhecemos facilmente, marcado pela expressividade, sem se apegar tanto ao realismo das formas no desenho de figuras humanas. Sua arte transmite emoção de forma ímpar, com ódio e desespero se destacando visualmente.
Na história, Matt Murdock, o Demolidor, está vivendo um período lacerante de luto após o assassinato de Elektra, pelas mãos do assassino Mercenário, em sagas anteriores, igualmente obras de Frank Miller. Seu luto é explorado por Miller de diversas formas, mostrando-nos Matt lidando com religiosidade, depressão e solidão. Como se não bastasse, o luto de intensifica em pesadelos terríveis e constantes, onde ele enxerga Elektra sendo assassinada por cadáveres de pessoas assassinadas por ela no passado. Elektra é uma assassina e, embora tenha sido o amor de Matt, Miller não alivia em nenhum momento a história da personagem. Em determinado momento, Matt começa a desconfiar que o Tentáculo, uma organização criminosa de assassinos, está perseguindo ele, o que o leva a desconfiar que a própria Elektra possa estar viva... ainda que ele tenha visto a própria morrer em seus braços.
Miller constrói a história de forma que não sabemos se o que passa é realidade ou obra da mente de Matt. Ao contrário de Elektra, é Matt o personagem principal, tendo no texto uma análise aprofundada de seus temores. Quanto à arte, como já citado, traz uma expressividade única; com cenas de ação belamente desenhadas. O efeito da arte é aumentado grandemente pelo trabalho nas cores, feito por Lynn Varley. A cor funciona como um catalizador da emoção e/ou para chamar a atenção para o primordial. Um exemplo disse é uma cena de briga na neve, onde o vermelho se destaca em meio as tonalidades brancas/claras.
Cito ainda que os quadros, muitas vezes numerosos, em algumas páginas, lembram muito a obra-prima de Miller: "O Cavaleiro das Trevas". Para possibilitar esse tipo de enquadramento, a edição possui um tamanho físico enorme, bem maior do que o tradicional formato americano e maior até do que muitos álbuns europeus.
Enfim, "Elektra vive" traz um Frank Miller no auge, tanto no texto quanto na arte, em um excelente trabalho, dando um digno final para as histórias de uma de suas mais interessantes personagens.
(MILLER, Frank: arte e roteiro de Frank Miller; cores de Lynn Varley; letras e tradução de Estúdio Art & Comics. Elektra vive. São Paulo: Abril (Marvel Comics), agosto de 1991, (Graphic Album # 6), 84 páginas)
P.S.: Resenha escrita em 2018.