"Crise nas infinitas Terras" com roteiro de Marv Wolfman e arte de George Pérez: a saga que redefiniu a DC Comics"Crise nas infinitas Terras" com roteiro de Marv Wolfman e arte de George Pérez: a saga que redefiniu a DC Comics
Uma das mais importantes sagas da história da DC Comics e dos quadrinhos! "Crise nas Infinitas Terras", lançada em meados da década de 80 e constituída por 12 revistas. Foi escrita por Marv Wolfman e com desenhos do genial George Pérez, que eu tive a oportunidade de conhecer pessoalmente alguns anos atrás. Essa saga foi importante pois ela "simplificou" a então complexa cronologia da DC, eliminando o conceito de "multiverso", existente nas histórias. Explico: a DC tinha uma série de personagens, criados a partir da década de 30, que se tornaram muito populares: Superman, Batman, Mulher-Maravilha, Lanterna Verde, Flash, Aquaman, etc. Essa época de muita criatividade ficou conhecida como "Era de Ouro dos Quadrinhos". Porém, anos depois, tais personagens começaram a perder leitores devido à repetição das histórias, surgimento de concorrentes (Marvel Comics), dentre outros motivos. Isso levou à necessidade de reformular tais personagens, dando início à "Era de Prata". A bagunça começou quando o personagem Flash, cuja identidade era Jay Garrick (Joel Ciclone, no Brasil) foi reformulado e substituído por Barry Allen (versão mais conhecida até hoje). Como explicar, na época, para os leitores que personagens como Superman, que tinham lutado ao lado de Garrick, estavam lutando ao lado de Allen? A solução da DC foi contada na história "Flash de dois mundos". Ambos os personagens existiam. Allen podia correr tão rápido, ao ponto de "vibrar" os átomos do próprio corpo, podendo assim se mover para universos paralelos, onde ele conheceu Garrick. Em resumo: existiam infinitas versões da Terra, coexistindo no mesmo espaço, em dimensões paralelas: o chamado multiverso (ideia análoga à hipótese científica da "teoria das cordas"). Contudo, com o tempo, com as reformulações que iam sendo feitas nos personagens, foram sendo criadas inúmeras contradições nas histórias e a solução era sempre a criação de uma "Terra num Universo Paralelo". Existiam as Terras 1, 2, 3, 4, X, Prime, etc. Por vezes, personagens de uma ou várias Terras se encontravam numa mesma história, em eventos que a DC chamava de "crise". Só para terem uma ideia da confusão, por exemplo, o personagem mais famoso, o Superman, tinha várias contradições. Ele se revelou ao mundo depois de adulto ou foi ainda adolescente, lutando como Superboy? Ele foi o único sobrevivente de Krypton ou outros kryptonianos sobreviveram? Era invulnerável ou podia ser morto por alguém mais poderoso? Existiam várias versões do Superman, para "explicar" esses paradoxos. Com isso, no final dos anos 80, aparentemente, o número de eleitores começou a diminuir por causa da bagunça na cronologia, o que levou à criação da saga.
Na história, após o big bang, existiam 2 forças opostas: o bondoso Monitor, que vivia na época dos Oanos (uma das raças mais antigas da DC), e o cruel Antimonitor, criado no mesmo experimento que criou o multiverso. A estabilidade do multiverso passou a ser ameaçada quando o Antimonitor, usando uma onda de antimatéria, começa a destruir os universos (com suas respectivas Terras). Isso leva o Monitor à recrutar guerreiros de todas as Terras remanescentes para lutarem juntos. O modo como Wolfman constrói a complexa trama é incrível, assim como os desenhos detalhistas de Pérez, caracterizados por planos amplos, mostrando dezenas de personagens ao mesmo tempo (uma marca do artista). Em tempo, a DC anda falando em fazer um reboot da saga. Recomendo!
(PÉREZ, George; WOLFMAN, Marv (et. all.): argumento de Marv Wolfman; arte-final de vários artistas; cores, letras e tradução de Estúdio Artecômix; desenhos de George Pérez; tradução da Editora Abril. Crise nas infinitas Terras (1ª série) # 1-3. São Paulo: Abril (DC Comics), 1989, 132 páginas em média)
P.S.: Resenha escrita em 2015.