Sobre o artigo “Por uma teoria linguística que fundamente o ensino de língua materna (ou de como apenas um pouquinho de gramática nem sempre é bom) de Carlos Alberto Faraco
No começo do artigo, Faraco posiciona a sua tese no contexto panorâmico do ensino de língua materna nas salas de aula. Nesse desenho situacional, apresenta críticas já apontadas por outros linguistas funcionalistas em outros textos (inclusive dele mesmo): o ensino da metalinguagem em sala de aula. Segundo o autor, as escolas “colocaram, de forma desproporcional, a transmissão das regras e conceitos presentes nas gramáticas tradicionais como o objeto nuclear de estudo, confundindo, em consequência, ensino de língua com ensino de gramática”. Numa perspectiva excessivamente normativas, as escolas, simplesmente, desprezaram (e talvez hoje ainda desprezam) “a realidade multifacetada da língua”. Para o linguista, “a leitura e a produção de textos acabaram sendo deixados de lado”.
Mas o que há de novo nessa crítica é a proposta de intervenção apresentada pelo autor. Faraco propõe, com base nos postulados de Bakhtin, sistematizar o estudo de língua materna priorizando o ensino dos gêneros discursivos. Porque apesar de fazer coro às críticas, Faraco percebe que os linguistas não sistematizam uma alternativa ao método tradicional. Ou seja, não teorizam o que viria a ser uma alternativa a esse modelo fracassado de ensino de língua portuguesa. Portanto, há uma necessidade de se voltar para a gramática, mas, dessa vez, tratá-la como um livro de consulta (assim como o dicionário). Porém, ainda assim, há também a necessidade de se ensinar a usar esse livro de consulta. O desafio, nesse sentido, seria teorizar a interação textual (perspectiva bakhtiniana) em contraponto ao ensino tradicional da gramática descontextualizada (memorização).
Faraco lembra que os gêneros discursivos, na explicação do linguista russo, são modalidades textuais mais ou menos estáveis e que organizam a expressão. Basicamente, o artigo em análise sugere ao leitor que tais gêneros discursivos expressam as demandas sociais em suas variadas manifestações: política, administrativa, jurídica, de classes, cultural, esportiva, religiosa, etária, regionalista, etc. Sugere também que o estudante de língua materna precisa conhecer, dominar e contribuir para a expansão do infinito repertório de possibilidades linguísticas em suas manifestações discursivas (os gêneros textuais). Porém, durante todo o texto, Faraco insiste na necessidade de teorizar essa substituição. Seria então sistematizar o conteúdo programático anual do professor de português em gêneros textuais discursivos ao invés de fazê-lo com base na estrutura gramatical anatômica? Nesse sentido, os gêneros textuais precedem os temas transversais? Com a palavra, o leitor dessa resenha.