Pacatuba - cidade na mira de uma câmera!
Concurso de Fotografia Sobrado da abolição 2018(Instituto Eduardo Campos) Quesito: Fotografia de Celular
Parabenizo o talentoso jovem Francisco Giovanildo Teixeira, profissional de TI concursado da Unilab, morador de Pacatuba, município da Região Metropolitana de Fortaleza, no Ceará. Sua foto venceu um disputadíssimo concurso de fotografia.
O homem morre, passa, pouco significa para a posteridade se comparado ao que lega por meio de sua arte. Esta, ao se distanciar do tempo e do autor que a originou, toma vida própria ao enriquecer o imaginário estético de um local, ganhando novos sentidos e interpretações a cada circunstância. A foto, pela sua qualidade, beleza e ousadia política, já está na galeria das grandes obras de arte que, no futuro, ilustrará livros, jornais e a imaginação de futuros artistas, críticos e palpiteiros de nossa cidade.
Arte se faz com paixão, criatividade, originalidade e talento. Giovanildo Teixeira, ao reunir as quatro qualidades de um autêntico artista, presenteia a cidade de Pacatuba com esta ácida imagem, sem deixar de lado o romantismo bucólico recheado de uma futura sensação nostálgica que nossos netos por certo sentirão. Este objeto visual é amor, paixão, ódio, revolta e,simultaneamente, uma pausa para a reflexão, um freio momentâneo para a paz de espírito, típico de momentos dúbios como a aurora e o crepúsculo, os quais a câmera, manejada por hábeis mãos tais quais às Guilherme Tell , soube captar(ou capitar?) perfeitamente.
Coincidência ou não, hoje Pacatuba acorda cinzenta, enlameada e triste. Não porque o Brasil perdeu a Copa ou em razão da chuva, e sim pelas estradas esburacadas, a velha política do pão e circo, a especulação imobiliária, o clientelismo e a luta baixa pela afirmação de poder das mesmas personagens políticas, hoje divididas, amanhã abraçadas.
Transformaram o belo verde num pedregulho apocalíptico.
Poucas fotos, tais como esta, EXPRIMEM E CONDENSAM ,com precisão, as perspectivas de uma geração sobre sua cidade. É a agonia de um espaço que, mesmo belo, idílico, jovem, com seus artistas de bares, atores de rua e poetas andarilhos, envelhece precocemente sem aprender com seus erros.Culpa nossa.
A flora da serra distante e a caatinga(e catinga) mesclam-se ao tom cinzento das nuvens, contrastando com uma lama(ou um barro ressecado e íngreme) onde sequer um mendigo enlouquecido seria capaz de por os pés. Se é uma obra pública inacabada, uma dádiva natural moribunda, um simples trecho que impede a passagem de estudantes e trabalhadores, pouco importa. A imagem diz mais que isso. Os tolos dirão que é uma foto despretensiosa focada num local escolhido à toa . Eu digo que é arte calculada. E ATEMPORAL.
Mesmo a imagem não sendo em Pacatuba, ou de Pacatuba, é uma questão menor, tola e periférica. O local a representa. No universo das imagens, que se transmutam externa e internamente, não há fronteiras. Existem sentidos.
E o que vejo não é técnica, é arte em sua plenitude. Simples aos desavisados , porém sofisticada àqueles que conseguem enxergar o ponto cego do retrovisor!